Leia o discurso de Gleisi Hoffmann na abertura do 26º Foro de São Paulo
“A integração é um passo necessário e fundamental para a emancipação dos povos e países da América Latina e do Caribe”, afirma a presidenta nacional do PT
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O discurso a seguir foi lido pela presidenta nacional do Partido dos Trabalhadores na abertura da 26ª reunião do Foro de São Paulo, realizada em Brasília, de 29 de junho a 2 de agosto de 2023 (assista ao discurso e a toda a cerimônia no vídeo abaixo).
Boa noite, companheiras e companheiros,
É com muita alegria, disposição e esperança no futuro da América Latina e Caribe que recebemos, aqui em Brasília, a vigésima-sexta reunião do Foro de São Paulo.
Nosso reencontro ocorre em um momento muito especial para o Brasil e toda a região, com a retomada das lutas sociais e de governos que priorizam a pauta do povo.
É uma retomada animadora, depois dos revezes que sofremos nos últimos anos em alguns países, inclusive aqui no Brasil.
Os novos ventos confirmam a justeza de nossas bandeiras, a identidade com os anseios populares e a persistência na luta por um mundo melhor, mais justo, menos desigual e mais democrático.
Por isso mesmo é tão importante voltarmos a reunir o Foro de São Paulo, renovar nosso compromisso comum com a transformação social e política.
Não é segredo que alguns companheiros, de boa fé, achavam politicamente inoportuna a realização deste encontro aqui no Brasil, com a presença do presidente Lula.
Seus temores estavam associados à campanha de mentiras e difamação de que o Foro de São Paulo é alvo desde sua criação.
Mas a realização deste encontro é justamente a oportunidade de rebater as mentiras e avançar, com coragem, no debate de ideias entre nossos partidos e com a sociedade.
E mostrar que nós não desistimos de nossos ideais nem temos de nos envergonhar por defender os interesses do povo.
Companheiras e companheiros,
O primeiro encontro do Foro de São Paulo, em 1990, debateu os efeitos e retrocessos sociais do neoliberalismo, a face mais cruel do capitalismo, em nossa região.
Naquela ocasião, nossos partidos escolheram a luta política e popular como caminho mais eficaz para a transformação política e social.
É uma grande mentira, portanto, dizer que o Foro de São Paulo seria uma organização secreta que apoia ou participa de movimentos armados e insurrecionais.
Somos da paz, da democracia e da justiça.
Desde aquele primeiro encontro, conseguimos enormes conquistas, elegemos governos comprometidos com as mudanças e elas se refletiram numa vida melhor para o povo.
As ideias atrasadas e antipopulares do neoliberalismo continuaram ameaçando nossa região, mas hoje elas se impõem ou tentam se impor aliadas a movimentos de extrema direita, que por sua vez ameaçam a própria ideia de democracia que nos une.
Aqui no Brasil, sentimos na pele o que são capazes de fazer para demolir a ordem constitucional e democrática, destruir direitos individuais e coletivos, atacar pessoas e instituições.
Sob a liderança do presidente Lula, construímos uma frente eleitoral e política, com raízes populares e amplitude social, que os derrotou nas urnas e numa tentativa de golpe de Estado que escandalizou o mundo.
Em nome do Partido dos Trabalhadores e das Trabalhadoras, agradeço a solidariedade dos partidos, movimentos e lideranças da América Latina e Caribe — e também de países da Europa, África, Ásia, dos Estados Unidos, muitos dos quais participam como convidados desta reunião.
Aprendemos que o enfrentamento à extrema direita e ao fascismo tem de ter um caráter global, pois é globalmente que eles se organizam para oprimir povos e países.
Durante este encontro, estamos promovendo um seminário sobre comunicação e redes sociais, para desnudar a rede global de mentiras e desestabilização de democracias, organizada pela extrema-direita, com ramificações em todos os continentes.
Enfrentar o fascismo, onde quer que se manifeste, é tarefa central não só da esquerda e dos progressistas, mas de todos os democratas, num esforço conjunto e determinado.
Companheiras e companheiros,
O tema central deste vigésimo sexto Foro de São Paulo é a integração entre os povos e países de nossa imensa região.
Significa também a retomada de um processo que havíamos acelerado nas primeiras décadas do século, sob a liderança de governos progressistas, populares e de esquerda na maioria dos países da região.
Aquele processo foi sabotado e interrompido pela emergência de governos conservadores, de orientação neoliberal e até mesmo liderados pela extrema direita, como foi o caso do Brasil.
Aqueles que sempre se beneficiaram da histórica injustiça e desigualdade, em nossa região, perceberam que a integração é um passo necessário e fundamental para a emancipação dos povos e países da América Latina e do Caribe.
Por isso atuaram para nos dividir, para tornar nossos países submissos, para sabotar nossa soberania.
Organismos e instâncias como a Unasul, a Celac, o Conselho de Segurança do Sul podem e devem ser retomados ou fortalecidos na nova conjuntura que se apresenta.
A integração que desejamos construir deve ser equilibrada e justa em seus diversos aspectos: político, econômico, social, cultural e de infraestrutura, respeitando as diferenças e valorizando as identidades entre nossos povos e países.
Os partidos políticos e movimentos sociais aqui reunidos têm a tarefa de mapear iniciativas e propor políticas públicas capazes de promover uma integração soberana.
Nossa integração não se resume ao território da América Latina e Caribe. Unidos, seremos mais fortes e teremos voz mais ativa na construção de uma ordem global multipolar e mais democrática.
Nossa integração é parte importantíssima da construção de um novo mundo, um debate urgente e cada vez mais forte, pela superação das imensas e indecentes desigualdades em nosso planeta.
O Foro de São Paulo contribuiu, desde sempre, para a construção de uma ordem global democrática, por defender o diálogo e denunciar a intervenção unilateral, política, militar ou econômica em nossos países, que tem como exemplo mais cruel o bloqueio dos Estados Unidos a Cuba.
O Foro contribuirá, ainda mais, no esforço comum de preservar e manter de forma sustentável nosso imenso patrimônio ambiental, nossas florestas e demais biomas, atuando de forma soberana, responsável e decisiva no enfrentamento das mudanças climáticas.
Ao longo dessa trajetória, fomos capazes de construir soluções soberanas para crises políticas em países amigos.
Este foi o legado do professor Marco Aurelio Garcia, ex-presidente do PT e fundador do Foro de São Paulo, a quem homenageamos neste vigésimo sexto encontro.
É imprescindível homenagear também dois líderes globais que se destacam na luta contra a desigualdade e a fome, em defesa dos excluídos do mundo e da preservação ambiental e climática do planeta: o papa Francisco e o presidente Lula.
Eles nos inspiram e dão o exemplo de que nenhum objetivo é impossível, por mais difícil que pareça, quando a causa é justa e a disposição de lutar é coletiva.
Muito obrigado.