Lula: “Com o Brasil na presidência, G20 terá ampla participação popular”

Presidente falou à imprensa sobre os desafios do país à frente do grupo que reúne 19 das maiores economias do mundo mais a União Europeia

Ricardo Stuckert

O presidente Lula, durante entrevista coletiva na Índia

Em coletiva de imprensa nesta segunda-feira (11), após a 18ª Cúpula de Chefes de Governo e Estado do G20, em Nova Delhi, na Índia, o presidente Lula falou sobre os desafios que o Brasil irá enfrentar na presidência do grupo que reúne 19 das maiores economias do mundo mais a União Europeia. Ele disse estar tranquilo quanto à capacidade do país em preparar a cúpula do Rio de Janeiro, marcada para novembro de 2024, e adiantou que o diferencial da presidência brasileira será uma maior participação popular nas discussões econômicas, sociais e ambientais.

“O Brasil tem condições de sediar um evento desse com tranquilidade, um evento bem feito, porque temos que cuidar da qualidade das discussões”, pontuou o presidente. “Nós queremos utilizar várias cidades brasileiras para que a gente faça o maior número de eventos possíveis do G20, tentar fazer um G20 mais popular. Ou seja, a sociedade se manifestar, a sociedade participar, para que a gente possa, nas conclusões, mostrar um pouco do retrato de um G20 mais participativo, de um G20 mais democrático”.

No domingo, pela primeira vez na história, o Brasil recebeu a presidência temporária do G20, que vai exercer no período de 1º de dezembro de 2023 a 30 de novembro de 2024. Na ocasião, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, entregou a Lula o martelo que simboliza a Presidência do grupo.

Na coletiva de imprensa, Lula, um dos líderes mundiais que deram ao G20 o formato atual durante a crise econômica mundial de 2008, comemorou a oportunidade de presidir o grupo em seu terceiro mandato como presidente do Brasil. Ele lembrou os temas centrais que o país adotará à frente do G20: o combate à fome e à desigualdade, o incentivo à transição energética e ao desenvolvimento sustentável em suas três dimensões (econômica, social e ambiental) e a busca por uma mudança nos sistemas de governança internacional.

“É muita responsabilidade para o Brasil fazer o G20. Todo mundo sabe que iremos colocar a questão da desigualdade como assunto principal da nossa discussão. É preciso, de uma vez por todas, que a gente tente levar em conta e criar uma certa indignação nos dirigentes com relação à desigualdade. A desigualdade de gênero, a desigualdade de raça, a desigualdade de educação, a desigualdade de saúde, a desigualdade de comida. Ou seja, o mundo está muito desigual”, ressaltou.

Transição energética

Em relação à transição energética, o presidente falou aos jornalistas sobre a importância da experiência brasileira na produção de energia limpa, de fontes renováveis e não poluentes. Para ele, o Brasil tem muito a ensinar nesse campo para os outros países, além de muita tecnologia.

“Vamos colocar na ordem do dia a questão da transição energética. O Brasil tem um potencial extraordinário na produção de energia limpa. Hoje, já temos, praticamente, da nossa energia elétrica, quase 90% totalmente limpa. E, no conjunto de energia, temos 50% contra 15% do restante do mundo. Então, nessa questão de combustível e energia limpa, o Brasil tem muito a ensinar aos outros países e, por isso, queremos compartilhar aquilo que somos capazes de produzir”, explicou.

Exemplo disso é a Aliança Global dos Biocombustíveis, que Lula lançou em Nova Delhi com os presidentes da Argentina, Alberto Fernández, dos Estados Unidos, Joe Biden, e com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi. A ideia é fomentar a produção e o uso de biocombustíveis, como o etanol, para buscar transportes menos poluentes em escala mundial.

“Todo mundo sabe que o Brasil é o país que tem uma tradição, quase que de 50 anos, na produção de etanol. Todo mundo sabe o que tentamos fazer para que o mundo adotasse os biocombustíveis como alternativa ao petróleo. Já faz tempo, antes de qualquer crise de petróleo. É porque achamos que o mundo precisa ser despoluído”, disse o presidente brasileiro.

Reforma internacional

Na entrevista, Lula ressaltou a necessidade de se promover uma reforma das instituições internacionais, a maioria delas criada logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, na metade do século 20. Para ele, a atuação dessas entidades não se modernizou ao longo do tempo, algo que precisa ocorrer para que os países em desenvolvimento possam ampliar seu espaço no cenário mundial.

“Outra coisa importante que vamos discutir é a questão da reforma das instituições multilaterais. O Banco Mundial precisa de mudança, é preciso que os países em desenvolvimento possam dirigir o banco. O FMI, desde a primeira reunião, a gente tenta propor mudanças e as mudanças são pequenas e não andam. E vamos também querer discutir a questão dos membros permanentes no Conselho de Segurança da ONU. É preciso mudar a geografia que está colocada lá, que é de 1945, e colocar uma geografia de 2024, ano que vai se dar a discussão no Brasil”, declarou o presidente.

Passo pela paz

Aos jornalistas, Lula comemorou o fato de a declaração final da cúpula, aprovada pelos membros do G20, incluindo a União Europeia, ter um destaque afirmando que a melhor saída para o conflito entre Rússia e Ucrânia é a via da paz. Para ele, a guerra já teve um preço alto demais, especialmente para a população ucraniana que precisou abandonar seu país.

“Parece pouco, mas os países do G20 terem assinado um documento de que a melhor forma para encontrar uma solução para o conflito entre Rússia e Ucrânia é tentar trabalhar pela paz é uma coisa que a gente vem pregando já há algum tempo, e eu acho que é o único caminho”, disse.

Ele acrescentou: “Eu acho que todo mundo está pegando consciência de que essa guerra já está cansando a humanidade, cansando as pessoas, muito mais os refugiados ucranianos e russos, além das vítimas que a gente não vai conseguir trazer de volta. Portanto, você fazer com que toda a União Europeia assinasse um documento colocando a questão da paz na ordem do dia é um avanço importante”.

Mercosul e União Europeia

Em paralelo à cúpula na Índia, o presidente Lula se reuniu, separadamente, com o presidente da França, Emmanuel Macron, a presidenta da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e com o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel. Nos três encontros, ele falou sobre a intenção de finalizar, em breve, o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia, que está em negociação há mais de 20 anos.

“Eu disse que quero fazer o acordo, quero fazer uma reunião em que os presidentes estejam presentes para decidir. E dizer: ‘Quer ou não quer?’. Já faz 22 anos que nós estamos nisso. E sempre vejo, em algum setor da imprensa, a ideia de que é o Brasil que não quer, de que é a Argentina que não quer, que é o Mercosul que não quer. Nós queremos. Nós queremos e nós precisamos”, enfatizou.

O impasse atual diz respeito a uma carta adicional enviada pelos europeus no início deste ano, que acrescenta ao tratado uma série de sanções econômicas que os países europeus poderiam impor se os sul-americanos não cumprissem determinadas metas ambientais, além de abrir as compras governamentais para participação estrangeira. O Brasil elaborou uma resposta, ratificada pelos demais membros do Mercosul, que foi entregue nas últimas semanas à União Europeia.

“Nós queremos ser tratados em igualdade de condições. Acordo comercial é uma via de duas mãos. Eu compro e eu vendo. Eu valorizo o meu e ele valoriza o dele. Nós temos que chegar a um ponto de equilíbrio. E, na minha opinião, temos que chegar, nesses próximos meses, a um acordo. Ou sim ou não. Ou fazer acordo ou parar de discutir o acordo, porque depois de 22 anos ninguém acredita mais”, afirmou o presidente brasileiro.

Ainda durante a coletiva, Lula lamentou as enchentes no Rio Grande do Sul e o terremoto no Marrocos, duas tragédias naturais recentes, e chamou a atenção para as consequências das mudanças climáticas. “Lamentar duas coisas graves que aconteceram: o ciclone no Rio Grande do Sul, que, até hoje à meia-noite, eu acabei de falar com o Brasil, tinha 41 mortos, vários desaparecidos, e o Marrocos, que teve 2 mil mortos, ou seja, um terremoto que também não tem muita explicação a não ser a mudança do clima, a não ser o que estamos fazendo com o planeta”, alertou.

Da Redação, com site do Planalto

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