Luto: o Brasil se despede de Ziraldo, um dos maiores artistas de todos os tempos

“O Brasil perdeu um de seus maiores expoentes da cultura, da imprensa, da literatura infantil e do imaginário do país”, lamentou o presidente Lula

Divulgação

“Tivemos o privilégio de não ficar calados”, disse Ziraldo, sobre a ditadura

Um dos maiores artistas brasileiros de todos os tempos, escritor, cartunista e desenhista, atuante na resistência democrática no período do golpe e da ditadura militar, Ziraldo Alves Pinto morreu dormindo aos 91 anos no sábado, 6 de abril. Em 2018 ele gravou um vídeo em apoio à candidatura de Fernando Haddad contra Bolsonaro.

“Salvem esse país. Vamos todo mundo votar no Haddad”, pediu Ziraldo, que marcou a história da arte e cultura brasileiras e produziu o convite de aniversário dos 26 anos do PT, em 2006.

“Sempre ao lado da liberdade e em defesa da democracia, Ziraldo pôde nos brindar com o seu maravilhoso trabalho em comemoração aos 26 anos do Partido dos Trabalhadores. Este ano comemoramos 44 anos do PT e Ziraldo faz parte também da nossa história de luta”, destacou o secretário nacional de Comunicação do partido, deputado federal Jilmar Tatto (PT-SP).

Em matéria da edição de 10 de fevereiro de 2006, o jornal mineiro O Tempo publicou a arte criada por Ziraldo e escreveu:

“Há muito o que comemorar no aniversário de 26 anos do partido, fundado por sindicalistas no dia 10 de fevereiro de 1980. O símbolo da festança, elaborado pelo cartunista mineiro Ziraldo, dá um tom esperançoso à legenda”.

E acrescentou: “Volta por cima”, lê-se na base da logomarca que enfileirou em um espiral 26 estrelas vermelhas de diferentes tamanhos em ordem crescente. A comemoração também pode ser marcada por mais um sinal de força do partido: o lançamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à reeleição”.

Em suas redes, o presidente Lula fez uma homenagem a Ziraldo. “O Brasil perdeu um de seus maiores expoentes da cultura, da imprensa, da literatura infantil e do imaginário do país. O mineiro Ziraldo é nome onipresente na cultura popular brasileira”, escreveu Lula, ao citar que O Menino Maluquinho povoou mentes e a imaginação de crianças de todas as idades em todas as regiões.

“São inúmeras e diversas as contribuições de Ziraldo, com a Turma do Pererê, em seu trabalho à frente do Pasquim, nos anos da ditadura, na defesa da imaginação, de um Brasil mais justo, com democracia e liberdade de expressão”, lembrou o presidente.

As redes do PT postaram sobre a morte de Ziraldo. “Um dia triste para o Brasil: hoje recebemos a triste notícia da partida de Ziraldo, aos 91 anos, o criador do incrível “O Menino Maluquinho”, que faz parte de tantas infâncias de nosso país. Ziraldo eterno!”.

“Uma grande perda para a nossa literatura brasileira. É inegável a sua importância no imaginário infantil e na educação literária das nossas crianças. Ziraldo será sempre eterno!”, postou Jilmar Tatto.

“Tivemos o privilégio de não ficar calados”

Imortalizado nas obras O Menino Maluquinho, Turma do Pererê e no jornal Pasquim, Ziraldo nasceu em Caratinga (MG), formou-se em Direito pela UFMG, e chegou a ser detido na época da ditadura por sua atuação no Pasquim, nos anos 1960, que demarcou forte oposição ao golpe militar.

O artista foi um dos fundadores do tabloide que chegou a ter tiragem de mais de 200 mil exemplares em seu auge, em meados dos anos 1970, um dos maiores fenômenos do mercado editorial brasileiro.

Em entrevista ao programa Roda Viva da TV Cultura em 2012, Ziraldo falou sobre a resistência d’O Pasquim na ditadura militar. “Tivemos o privilégio de não ficar calados, de não engolir o que os caras queriam enfiar nas nossas gargantas. Pessoas foram para O Pasquim porque acharam um espaço para poder desenvolver a sua indignação”, lembrou Ziraldo.

Em 1970, após sua prisão e de vários companheiros de redação do Pasquim depois da publicação de uma sátira de Dom Pedro I às margens do rio Ipiranga, o tabloide continuou sendo publicado.

No entanto, a sede foi alvo de dois atentados a bomba, como também várias bancas que vendiam seus exemplares. Metade dos pontos de venda deixaram de vender O Pasquim, que teve sua última edição no final de 1991, segundo reportagem da TV Brasil 247.

Um símbolo da infância brasileira

Com apenas seis anos, Ziraldo teve seu primeiro desenho publicado no jornal Folha de Minas, e em 1958 começou a trabalhar na revista O Cruzeiro, no Rio de Janeiro. Em 1960 lançou A Turma do Pererê, primeira revista em quadrinhos nacional de um só autor, alcançando uma das maiores tiragens, mas foi cancelada em 1964, logo após o golpe militar.

Em 1960 Ziraldo recebeu o “Nobel do Humor” no 32º Salão Internacional de Caricaturas de Bruxelas e também venceu o prêmio Megan Tiller, principal premiação da imprensa livre da América Latina.

Sua criação mais famosa, O Menino Maluquinho, foi lançada em outubro de 1980 e rendeu a ele o Prêmio Jabuti de literatura infantil. A obra teve 129 edições publicadas em 10 países e quatro milhões de exemplares vendidos, além de adaptações para o teatro, quadrinhos opera infantil, vídeo game e cinema.

Há ainda uma série para a tv, em comemoração dos 90 anos do multiartista mineiro que é autor também de obras clássicas da literatura infantil como O Menino Marrom e Flicts. Ziraldo criou personagens para adultos como Jeremias O Bom, A Supermãe e Mineirinho, o come quieto.

Filho mais velho de sete irmão, Ziraldo teve três filhos, sete netos. Seu velório foi no Museu de Arte Moderna, no Rio de Janeiro, na manhã de domingo (7).

Da Redação

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