Maior inflação em 28 anos atinge em cheio a vida dos mais pobres

Inflação para famílias com renda de até cinco mínimos, INPC sobe 1,71% e acumula alta de 11,73% em 12 meses. Índices estão no maior patamar para março desde 1994

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Bolsonaro e Guedes promovem a fome no país

Se o mega reajuste dos combustíveis acelerou o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de março para o maior nível no mês em 28 anos (1,62%), o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que calcula a inflação para famílias de baixa renda, subiu ainda mais (1,71%) e também é o mais alto para março desde 1994. Agora, o INPC acumula em 12 meses variação de 11,73%, e o IPCA chega a 11,30%.

Índice de preços que abrange as famílias com rendimentos de um a cinco salários mínimos, o INPC é utilizado como parâmetro para reajustes salariais e de benefícios do INSS. No primeiro trimestre de 2022, sua variação chega a 3,42%, quase a meta da inflação de 3,5% prevista pelo Banco Central (BC) para todo o ano. A do IPCA é de 3,20%.

O grupo Alimentos e bebidas, elemento com grande peso no cálculo do INPC, sofreu alta de 2,42%, a maior desde novembro de 2020 (2,54%). A maior pressão veio do preço do tomate (27,22%). Também pesaram itens como cenoura (31,47%), que acumula alta de 166,17% em 12 meses, leite longa vida (9,34%), óleo de soja (8,99%) e frutas (6,39%). Mas os grupos não alimentícios também aceleraram e subiram 1,50% em março.

“Hoje saiu a inflação do mês, a maior dos últimos 28 anos. E parte da inflação está nas costas de quem governa o país. Porque uma parte da inflação é energia, é energia elétrica, é óleo diesel, é gás, é gasolina. E a outra parte é alimento. Até a Conab que a gente utilizava como um instrumento para fazer estoque regulador acabou. Hoje nós não temos estoque de nada e diminuiu a área de plantio de feijão, área de plantio de mandioca, daquilo que é essencial para a sobrevivência do nosso povo”, afirmou o presidente Lula em reunião em São Paulo, nesta sexta,8

“Foi uma alta disseminada nos preços. Vários alimentos sofreram uma pressão inflacionária. Isso aconteceu por questões específicas de cada alimento, principalmente fatores climáticos, mas também está relacionado ao custo do frete. O aumento nos preços dos combustíveis acaba refletindo em outros produtos da economia, entre eles, os alimentos”, explica o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov.

Embora oito dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados pelo IBGE tenham tido alta em março, a maior variação (3,02%) e o maior impacto (0,65 ponto percentual) vieram dos Transportes, que aceleraram na comparação com o resultado de fevereiro (0,46%). Na sequência veio Alimentação e bebidas, com 0,51 p.p. de impacto. Juntos, os dois grupos contribuíram com 72% do IPCA de março.

Os preços dos combustíveis subiram em média 6,70% no mês. O da gasolina subiu acima da média (6,95%) e é o subitem com maior impacto individual (0,44 p.p.). Em 12 meses, a gasolina acumula alta de 27,48%, enquanto o salto do óleo diesel foi de 46,47%.

“Tivemos um reajuste de 18,77% no preço médio da gasolina vendida pela Petrobras para as distribuidoras, em 11 de março. Houve também altas nos preços do gás veicular (5,29%), do etanol (3,02%) e do óleo diesel (13,65%). Além dos combustíveis, outros componentes ajudam a explicar a alta nesse grupo, como o transporte por aplicativo (7,98%). Nos transportes públicos, tivemos também reajustes nas passagens dos ônibus urbanos em Curitiba, São Luís, Recife e Belém”, detalha Pedro Kislanov.

Na esteira da carestia dos combustíveis, o grupo Habitação (1,15%) teve aumento por conta do gás de botijão (6,57%), cujos preços subiram devido ao reajuste de 16,06% na tarifa média de venda para as distribuidoras aplicado pela Petrobras de Bolsonaro em março. A alta de 1,08% da energia elétrica também contribuiu para o resultado.

A pesquisa mostra ainda que todas as áreas pesquisadas tiveram alta em março. A maior variação ocorreu na região metropolitana de Curitiba (2,40%), onde pesaram as altas da gasolina (11,55%), do etanol (8,65%) e do ônibus urbano (20,22%). A inflação de dois dígitos de Jair Bolsonaro e seu ministro-banqueiro Paulo Guedes também foi mais disseminada. O índice de difusão passou de 75% em fevereiro para 76% em março.

Até o mercado se assusta com a inflação

Também divulgado nesta sexta, o Índice de Preços ao Consumidor – Semanal (IPC-S), do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre-FGV), apresenta alta na primeira quadrissemana de abril e mostra que a inflação persiste. Com a variação de 1,62%, o indicador acumula aumento de 11,21% nos últimos 12 meses.

Todas as oito classes de despesa componentes do IPC-S apresentaram alta. A maior contribuição para o resultado foi do grupo Transportes. A taxa de variação passou de 2,51%, na quarta quadrissemana de março, para 3,14% na primeira quadrissemana de abril. O item gasolina, cujo preço variou 6,77%, também é destaque. Alimentação (1,99% para 2,10%) e Habitação (1,23% para 1,45%), completam o principal impacto.

Os sete meses seguidos de inflação de dois dígitos já preocupam os analistas do mercado financeiro. Após um ano de aumentos seguidos da taxa básica de juros (Selic), o “santo remédio” para inflação dos neoliberais, o resultado do IPCA veio bem acima do esperado. O intervalo das projeções 41 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data era de avanço de 0,54% a 1,43%, com mediana de 1,32%.

“O resultado é assustador ao passo que se trata de mais uma surpresa altista do índice inflacionário”, avaliou em relatório Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos. “Ainda que se aponte para o avanço de gasolina para além do que se esperava, surpresas grandes foram observadas em leite e derivados, vestuário, conserto de automóveis e hospedagem. Em linhas gerais, o headline se acelerou, colocando os 12 meses em 11,30%, mas os núcleos exibiram um salto extremamente preocupante.”

Em 2021, a inflação oficial foi de 10,06%, a maior em seis anos. A meta para 2022 é de 3,5% e será considerada formalmente cumprida se oscilar entre 2% e 5%. O Banco Central (BC), apesar da “autonomia” conquistada na era regressiva de Bolsonaro-Guedes, já jogou a toalha e admitiu que o IPCA deve estourar a meta pelo segundo ano seguido, com taxa de 7,1% – se der sorte.

Da Redação, com Imprensa IBGE

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