Lula: “Disputa será entre melhoria da qualidade de vida e autoritarismo”

À Rádio Jangadeiro (CE), Lula reforça compromisso com reconstrução do país para barrar bolsonarismo: “Temos de dizer para as pessoas que o Brasil voltará a ser grande. Nossa prioridade é acabar com a fome”

Ricardo Stuckert

Lula

O Brasil pode voltar a sonhar com um futuro de prosperidade e crescimento econômico, com a recuperação da soberania, se trilhar o caminho de um amplo e democrático projeto de reconstrução nacional. Para tornar o sonho realidade, no entanto, é preciso barrar o obscurantismo bolsonarista, aponta o ex-presidente Lula. Em entrevista à Rádio Jangadeiro (CE), nesta quinta-feira (7), Lula deixou claro que o futuro do país será decidido, nas eleições de outubro deste ano, pela escolha de dois projetos: um de desenvolvimento e outro de aniquilação do Estado brasileiro.

“A disputa vai se dar entre a democracia e o autoritarismo, entre o desenvolvimento e a melhoria da qualidade de vida das pessoas, e um governo autoritário”, declarou o ex-presidente, para quem é preciso, mais do que nunca, dar esperança para a população.

“Nós temos que dizer para as pessoas que vamos fazer o Brasil voltar a crescer, que voltaremos a fazer política de distribuição de renda, que o país vai reconquistar sua credibilidade internacional – para que a gente receba investimento direto nesse país -, que vamos batalhar para controlar a inflação, que nossa prioridade é acabar com a fome, com o desemprego”, afirmou Lula.

Lula destacou que é preciso “gerar no eleitor a certeza de que estamos sobretudo preocupados em governar esse país. Porque reconstruir o país depois da destruição feita experiência do golpe de 2016 e pelo governo Bolsonaro, será uma tarefa imensurável”.

O ex-presidente reconheceu o tamanho do desafio mas assegurou que é possível devolver ao povo brasileiro a dignidade roubada por Bolsonaro. “Em 2014, quando o PT ganhou as eleições, nós tínhamos no país 4,3% de desemprego, era padrão Suécia, Dinamarca, quase emprego total”, argumentou Lula.

“Esse povo tem de voltar a trabalhar, a comer, a efetivamente ser tratado na área de saúde  com dignidade, é preciso a gente colocar o pobre para participar da renda desse país”, observou.

Teto de gastos

Uma das primeiras medidas a serem tomadas caso o PT volte ao Executivo é revogar medidas que são um verdadeiro atentado contra o povo, como a reforma trabalhista e o famigerado Teto de Gastos. “Sou contra teto de gasto. Esse negócio de controlar gasto é para controlar o dinheiro de benefício ao pobre, é não investir na saúde, é desmontar a educação, e não investir em ciência e tecnologia”, condenou.

“[Para quê?] Para pagar juros da dívida? Não, precisamos pagar primeiro a dívida que temos com o povo pobre, trabalhador. Precisamos garantir que ele vai poder tomar café da manhã, almoçar e jantar todo santo dia”, insistiu.

Combate à inflação

Lula criticou duramente o descontrole inflacionário do desgoverno bolsonaro que, sem sua opinião, é o grande responsável pela alta explosiva dos preços. “Para recuperar a economia, o governo precisa recuperar a credibilidade, no Brasil e no mundo”, explicou. “E a inflação se controla com credibilidade e previsibilidade. Boa parte da inflação brasileira hoje é de preços controlados pelo próprio governo, como combustíveis”, ressaltou Lula.

Ele foi veemente ao condenar o desmonte da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que era responsável pelo controle de estoque de alimentos no país, o que garantia preços mais baixos. “Acabaram com os estoques reguladores de alimentos da Conab. Foram irresponsáveis. O preço da cenoura disparou, do mamão disparou. Na minha época a maioria das categorias teve aumento salarial real”, disse Lula, reforçando que a queda na renda está levando as pessoas a uma situação de desespero. “Hoje as coisas estão caras e o povo não está consumindo como já consumiu”.

Petrobras

Ele também apontou o papel atual da política de preços dos combustíveis da Petrobras, hoje dolarizada, na inflação disseminada por toda a cadeia produtiva. “Não temos uma inflação de consumo, 50% da inflação brasileira, hoje, são pelos preços administrados pelo governo, energia elétrica, gasolina, óleo diesel, gás”, definiu. “São preços que o governo poderia controlar mas não está controlando”.

“Em 2008, na crise do Lehman Brothers, quando quebrou aquele banco americano, o barril do petróleo chegou a US$ 147, mais do que hoje. Entretanto, nossa gasolina, naquele tempo, era R$ 2,60. Por que? Porque os preços não estavam atrelados aos internacionais”, esclareceu. “Controlar a inflação nesse país passa pelo governo começar a ter responsabilidade nos preços daquilo que ele administra: energia, petróleo e, sobretudo, o preço dos alimentos”. 

Volta da fome

Lula reiterou a necessidade de o país voltar a investir na sua capacidade produtiva no campo, com fortalecimento do pequeno e médio agricultor e aumentar a oferta de alimentos. “Temos de dotar o Brasil de maior capacidade de produção”, defendeu.

“As pessoas estão sem receber o crédito necessário, o Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar) não é mais o mesmo”, constatou Lula. “É preciso voltar a investir, incentivar essa gente a plantar e dar uma garantia de preço mínimo para a pessoa ter certeza de que não irá perder o que plantou”.

Lula disse que não aceita a volta da fome, uma chaga que o país havia vencido na época dos governos do PT. “É uma coisa grave: o Brasil é o maior produtor de proteína animal do planeta. E, no entanto, vemos na televisão as pessoas tentando invadir caminhão de carcaça de frango, no açougue, comprando osso para fazer caldo e temperar a comida. Isso não tem explicação”, queixou-se Lula.

Diálogo entre deputados e eleitores

Lula voltou a defender uma relação de diálogo entre congressistas e eleitores, reforçando que deputados devem manter um canal de comunicação aberto com a sociedade. “Todo deputado, todo senador, mora em uma cidade. Então não custa nada, o povo que está reivindicando ir na porta da casa dele conversar, de forma civilizada, debater temas que querem ver discutidos”.

Ele criticou políticos que, depois de eleitos, perdem contato com suas bases eleitorais. “Esses deputados, que durante as eleições andam de carro aberto, abanando a mão para o povo… por que depois de eleitos, o povo passa a ser estorvo?”, indagou. “Lamentavelmente, me parece que tem deputado que não quer conversar com o povo, só na época das eleições”.

Da Redação

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