Manifestantes marcharam ao lado de conservadores e investigados

Histórico de três parlamentares revela o apoio conservador às manifestações

O perfil das manifestações de domingo (15) exibiu uma coexistência complexa entre aqueles que defendem a democracia e os que pedem a volta da ditadura militar. A presença de parlamentares com perfil ultraconservador ou investigados por atos ilícitos, como os senadores Ronaldo Caiado (DEM-GO) e Agripino Maia (DEM-RN) e do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), também foi destaque.

Fundador da União Democrática Ruralista (UDR), Ronaldo Caiado apoia a Proposta de Emenda à Constituição 215, que transfere para o Legislativo a prerrogativa do Ministério da Justiça (MJ), Fundação Nacional do Índio (Funai) e da Presidência da República de demarcação e homologação de terras indígenas, quilombolas e áreas de preservação ambiental.

Na década de 1980, a UDR foi acusada de cometer assassinatos de posseiros em todo o País, segundo o livro “Partido da Terra”, de Alceu Castilho. A única condenação de um membro da entidade, no entanto, se deu em novembro de 2013, quando seu ex-presidente, Marcos Prochet, foi condenado pelo assassinato do trabalhador rural sem-terra Sebastião Camargo, morto com um tiro na nuca durante uma desocupação forçada, em Marilena, noroeste do Paraná.

O senador potiguar José Agripino Maia, coordenador da campanha à presidência de Aécio Neves, está sendo acusado pelo empresário George Olímpio de pedir R$ 1 milhão em troca da aprovação de uma lei estadual que tornaria obrigatória a inspeção veicular. A lei favoreceria a Inspar, empresa de Olímpio dedicada a prestar serviços de cartório ao Departamento de Trânsito do Rio Grande do Norte (Detran-RN).

A iniciação política de Agripino se deu como prefeito de Natal (RN), de 1979 a 1982. Ele foi nomeado pela Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte, pelo seu primo, Lavoisier Maia, que substituiu o governador Tarcísio Maia, pai de Agripino. Tarcísio Maia foi nomeado governador do Estado, em 1974, pelo então general Golbery do Couto e Silva.

O deputado federal Jair Bolsonaro não faz questão alguma de esconder sua predileção pelo golpe de 1964 ao chamá-lo de “revolução”. Em pronunciamento na Câmara dos Deputados, em fevereiro de 2013, o parlamentar afirmou que o golpe foi uma “imposição popular e que graças aos militares hoje o Brasil goza de democracia”.

Por adotar uma postura machista e homofóbica, Bolsonaro é alvo de um processo no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara por dizer à colega Maria do Rosário (PT-RS) que não a estupraria por ela não merecer.

Em 2003, durante entrevista concedida pelos dois deputados a duas redes de TV diferentes, no salão verde do Congresso, os parlamentares discutiram sobre a redução da maioridade penal. Rosário disse a Bolsonaro que a postura dele era um estímulo ao estupro e o parlamentar a agrediu verbal e fisicamente.

Em 9 de dezembro de 2014, quando a Câmara realizava sessão em homenagem ao Dia Internacional dos Direitos Humanos, Bolsonaro ocupou a tribuna para dizer que era o “dia internacional da vagabundagem. Os direitos humanos no Brasil só defendem os bandidos”.

Antes de iniciar seu pronunciamento, porém, o deputado gritou pela deputada Maria do Rosário, que saía do plenário, pedindo que ela ficasse e o ouvisse. “Há poucos dias você me chamou de estuprador e eu falei que não ia estuprar você porque você não merece”.

Para o cientista político André César, a presença desses parlamentares nas manifestações do dia 15, foi uma demonstração de oportunismo diante da pouca informação das pessoas sobre política. Segundo ele, foi o momento de aparecer ao lado dessa fração da sociedade que estaria insatisfeita.

De acordo com o César, falta educação política da sociedade como um todo e, em especial, dos setores da classe média que se consideram esclarecidos, mas demonstram “fragilidade intelectual” diante de um debate pouco mais aprofundado. “Sabendo disso, essas figuras vão para tirar dividendos e postam depois na internet, em seus blogs e perfis”, avalia César.

Por Guilherme Ferreira, da Agência PT de Notícias

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