Marilena Chauí: neoliberalismo é a face oculta dos novos governos autoritários

Convidada do segundo debate preparatório ao Congresso Nacional do PT, filósofa fez análise profunda dos mecanismos que fizeram renascer a extrema-direita no mundo

Sérgio Silva/FPA

Marilena Chauí

Marilena Chauí está determinada a não fugir do tema. Ou, nas palavras da própria filósofa, convidada desta segunda (12) para a série de debates preparatórios ao 7º Congresso Nacional do PT “a não abrir parênteses” durante a sua análise sobre democracia, neoliberalismo e a onda de extrema-direita que volta ao cenário político global com a força motriz da opressão e submissa aos interesses do mercado.

Não demorou, no entanto, mais que um punhado de minutos para que uma das vozes mais altivas e práticas da academia negligenciasse a sua própria promessa durante o evento realizado na Fundação Perseu Abramo em São Paulo. “É difícil falar de tudo o que está acontecendo sem ter de abrir novos temas, sem ampliar a discussão para outros caminhos “, desculpou-se, tão logo passou a explicar as razões que fazem do desgoverno Bolsonaro um exemplo claro do que acontece de maneira preocupante em várias partes do mundo.

“O neoliberalismo não é apenas uma mutação histórica do capitalismo. Ele é a nova forma do totalitarismo. Nós estamos acostumados a encarar o totalitarismo na figura de um líder de massas, o autocrata. Eles desapareceram. O discurso do ódio agora está sob controle do próprio sistema que rege esses governos (…) A eficácia desse novo totalitarismo é a sua invisibilidade”, explica.

Mas e a figura odiosa, anti-intelectualizada, subserviente e regida por conservadorismo extremo e combate a ideais humanitários do atual mandatário da República não seria exatamente a figura do autocrata? Para Marilena, o ex-deputado e representante máximo da velha política é apenas o fantoche de uma dominação muito maior, que tem como líder supremo o mercado.

“Não foi de repente que a extrema direita chegou ao poder. Donald Trump (EUA), Viktor Orbán (Hungria), Recep Erdogan (Turquia) e Bolsonaro governam pelo medo, fazem ameaças e oferecem proteção.  Eles operam sem mediação institucional, eles colocam em dúvida os poderes e transformam todos os adversários como corruptos. Querem promover uma profunda limpeza ideológica, social e política, sempre recorrendo a teorias da conspiração de esquerda”, ilustra.

A fala serena e cativante só muda de tom quando (em mais um parêntese feio ao tema inicial) discorre sobre a aberração instituída em forma de governo que chegou ao poder no Brasil. “Quando um chanceler diz que não existe aquecimento global porque esteve em Roma e não sentiu frio, o que a gente faz?”, critica, com risos nervosos, tentando buscar uma resposta nos cânones do pensamento mundial algo que ao menos dê uma luz para o caminho de trevas trilhado pelo Brasil de Bolsonaro.

A nova classe trabalhadora

A conversa mudou de rumo quando o ex-deputado e ex-presidente do PT José Genoino levantou a seguinte questão: como a esquerda deve lidar com estes novos rumos de opressão e autoritarismo conduzidos pela política neoliberal de Bolsonaro? Eis a resposta: “Uma política socialista precisa encontrar onde está a nova classe trabalhadora, quais são os seus anseios, o que move os seus sonhos (…) É nesse quadro que o PT tem a obrigação de compreender as operações imperialistas. Estamos focando muito nas empresas estatais.  Não dá para falar em soberania nacional sem entender os novos rumos do imperialismo”.

Luiz Dulci e Marilena Chauí

Além de entender de fato o que está acontecendo é preciso que os partidos do campo progressista, sobretudo o PT, voltem para as bases e expliquem o que significa a prisão política de Lula. “Lula livre não basta. Temos que estar nas ruas para dizer o que significa ele preso. Foi feito um trabalho, uma lavagem cerebral totalitária para manchar a imagem de Lula. Não temos apenas que dizer que ele tem de estar livre. Temos que explicar por que ele está preso!”, reitera.

O ex-ministro Luiz Dulci, incumbido de intermediar o debate, é certeiro ao resumir o que significa a prisão política de Lula: “Não dá para falar em democracia plena com Lula preso injustamente. É isso o que precisamos deixar claro para as pessoas”.

Da Redação da Agência PT de Notícias

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