Militares cometeram a burrice de me prender, diz Lula

Em depoimento à Comissão Nacional da Verdade, ex-presidente também falou sobre movimento sindical na ditadura, prisão e relacionamento com militares


O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, em depoimento à Comissão Nacional da Verdade (CNV), divulgado nesta terça-feira (9), que a prisão em 1980 foi uma “burrice” cometida pelos militares. Para ele, o ato motivou ainda mais a continuidade da greve em andamento naquele momento.

“Foi uma motivação a mais para a greve continuar, as mulheres fizeram uma passeata muito bonita em São Bernardo do Campo, depois foi aquele primeiro de maio histórico. E aí a greve durou quase mais 30 dias. Eu fiquei 31 dias preso”, relembrou.

O depoimento do ex-presidente foi o último a ser colhido pela comissão, que divulgará relatório final nesta quarta-feira (10) depois de mais de dois anos de trabalho. Aos integrantes do grupo, Lula também falou sobre a articulação do movimento sindical em São Bernardo do Campo (SP) durante período militar.

Durante o depoimento, Lula relembrou o monitoramento feito pela polícia aos sindicalistas a partir de 1978 e o momento da prisão. Ele confessou ter sentido, pela primeira vez, medo de morrer.

“Eles nos monitoraram por uns três ou quatro anos. Quando eles me prenderam, era uma madrugada com muita cerração. Pela primeira vez eu tive medo de morrer”, afirmou o ex-presidente.

De acordo com a Comissão Nacional da Verdade, a prisão de Lula aconteceu no mesmo dia da prisão de Dalmo Dallari, pai do coordenador da comissão, Pedro Dallari. Além disso, José Carlos Dias, um dos integrantes do grupo, também foi preso pelos militares neste dia.

Para o ex-presidente, as reivindicações das centrais sindicais fizeram com que os manifestantes descobrissem a ligação das pautas com a luta pela democracia. “Foi excepcional para o Brasil, eu acho que faltava esse setor da sociedade (trabalhadores) se manifestar”, defendeu lula.

Sobre o relacionamento com o então diretor do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), Romeu Tuma, Lula declarou não ter tido problemas.  “O Tuma me tratou dignamente. Minha mãe estava com câncer e ele teve atitudes humanísticas. Eu saí algumas vezes à noite para ver minha mãe”, relembrou.

Questionado sobre o trabalho em conjunto com as Forças Armadas durante os oito anos à frente da Presidência da República, Lula disse não ter “queixas”.
“Eu não tenho queixas do meu período de presidente com os comandantes das Forças Armadas. Não tive que fazer nenhuma concessão. Acho que as pessoas têm direitos e deveres”, disse.

Por Mariana Zoccoli, da Agência PT de Notícias

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