Militares do governo ignoram a realidade e relativizam as mortes

Estranho ao que se espera de um militar em uma guerra, o ministro da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos, ignorou a realidade, fez comparações indevidas e mostrou desconhecer o inimigo. 

Foto: Anderson Riedel/PR

O ministro da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos

No dia em que o segundo ministro da Saúde era demitido, e que o Brasil acumulava 14,8 mil mortes por Covid-19 e 212 mil casos confirmados da doença, o ministro da Secretaria de Governo, general Luiz Eduardo Ramos, acusou a mídia de provocar um “clima de terror”. Para tentar justificar suas impressões, o general Ramos lançou mão de estatísticas comparativas com mortes ocasionadas por outras causas, como acidentes de carros. Ramos já havia criticado anteriormente o uso de “imagens de caixões e corpos” nos telejornais, pedindo que a imprensa mostrasse “coisa positiva”.

Na entrevista, o general Ramos relativizou as mortes, desrespeitando milhares de brasileiros que perderam parentes nos últimos dois meses por conta do Covid-19. “Como diz a Bíblia, não sabemos o dia e a hora. Mais um dado que não é Covid – a pneumonia: 80 mil. Todo mundo aqui deve andar de carro, deve andar de ônibus, pratica esportes. A média de mortes por ano de queda, afogamento, acidente automobilístico, lesões provocadas por toda a ordem: 164 mil mortes. Os números são impactantes, mas nem por isso é instaurado um clima de terror”, declarou o ministro. 

Estranho ao que se espera de um militar em uma guerra, o general Ramos ignorou a realidade, fez comparações indevidas e mostrou desconhecer o inimigo. Diferente do que ocorre com a Covid-19, um vírus altamente contagioso, o número de mortes por acidentes de trânsito não cresce exponencialmente. A taxa de contaminação no Brasil é de 2,8 – ou seja, dez pessoas contaminadas infectam outras 28. É a maior taxa de contaminação entre os 48 países analisados pelo Imperial College, de Londres.

A entrevista também deixou clara a concordância incondicional dos militares com a política de sabotagem ao isolamento social defendida pelo presidente Bolsonaro. “Militares no poder são cúmplices de mais um ato irresponsável do macabro governo Bolsonaro”, destacou o jornal El País em editorial assinado por sua editora no Brasil,  Carla Jiménez. Segundo o jornal, “a saída do Nelson Teich após menos de um mês mostra que as Forças Armadas legitimam uma gestão vista como genocida e evocam as memórias mais tristes que mancharam o nome da instituição”.

A demissão de Teich gerou especulações sobre a nomeação de um militar para o cargo, o que não estaria sendo visto com bons olhos pelos militares, de acordo com setores da mídia. A demissão de Nelson Teich, no entanto, alçou à condição de ministro interino, outro militar, o general Eduardo Pazuello. Enquanto o novo ministro, civil ou militar, não assume, é provável que Pazuello cumpra a “missão” que já derrubou dois ministros: assinar o novo protocolo liberando o uso da cloroquina.

Da Redação

Tópicos:

LEIA TAMBÉM:

Mais notícias

PT Cast