Monica Valente: Foro de SP permitiu mudar cara da América Latina

Foro de São Paulo é ambiente para troca de experiências entre partidos políticos e governos progressistas da região, diz secretária de RI do PT

Entre os dias 23 e 26 de julho, El Salvador receberá os mais importantes partidos progressistas do continente americano para a 22ª edição do Foro de São Paulo. O golpe contra uma presidenta eleita de maneira legítima e a contra ofensiva neoliberal na América Latina devem estar entre os principais temas do encontro em 2016, afirma a secretária de Relações Internacionais do PT, Monica Valente, também Secretaria-Executiva do Foro.

Se existem razões para estar em alerta – já que setores conservadores do continente americano se mostram cada vez mais dispostos a um vale-tudo para chegar ao poder -, há também motivos para comemorar.

A redução da pobreza e das desigualdades em países governados por partidos progressistas do Foro de São Paulo é inegável. Para Monica Valente, este é um dos resultados concretos da atuação dos partidos que integram o Foro de São Paulo. “A América Latina foi o único continente que, nos últimos 17 anos, reduziu seus índices de pobreza, aumentou emprego, melhorou inclusão social e renda“.

À Agência PT de Notícias, ela fala das expectativas para o encontro, faz uma análise das disputas políticas na América Latina e afirma que reforçará a denúncia de golpe contra Dilma Rousseff no exterior.

A seguir a entrevista completa:

O Foro de São Paulo surgiu em 1990 com objetivo de debater a conjuntura internacional pós-queda do Muro de Berlim e as consequências da implantação de políticas neoliberais na região. Qual é seu papel 26 anos depois?
Todos os governos da América Latina e Caribe  dirigidos pelos partidos que participam do Foro de São Paulo,   desde há 17 anos atrás, quando Hugo Chavez ganhou as eleições na Venezuela , vem priorizando a inclusão social, a moradia popular, o acesso a educação, à saúde, os programas de transferência de renda, como Bolsa Família, auxílios de combate à pobreza. São claramente governos que aplicam politicas anti-neoliberais.

No Foro de SP, há uma intensa troca de experiências entre os partidos políticos, sejam partidos que governam,  sejam partidos que estão fora de governos.  É um debate sobre políticas anti-neoliberais, de inclusão social, de aumento do emprego, de ampliação do acesso à saúde e educação.

O Foro de São Paulo, ao longo de 26 anos, permitiu que fôssemos mudando a cara da América Latina. A América Latina foi o único continente que, nos últimos 17 anos, melhorou seus índices de pobreza, aumentou emprego, melhorou inclusão social, renda. Se compararmos com Europa e EUA, estes países só tiveram aumento do desemprego. Na Espanha, o desemprego está na ordem de 27%.

Estes êxitos que são reconhecidos por instituições internacionais como ONU, Unesco. São essas organizações multilaterais  que fazem  essa avaliações positivas e reconhecem os êxitos destes governos dirigidos pelos partidos do Foro de São Paulo .

 Hoje, ou melhor, desde  há pelo menos 3 anos, vimos denunciamos o que chamamos de uma tentativa de contraofensiva neoliberal contra nossos governos, governos democráticos , progressistas e de esquerda. Em 2009, houve o golpe em Honduras, tirando do poder o então presidente Zelaya, eleito pelo povo. Em 2012, ocorre o golpe parlamentar judicial contra Fernando Lugo, presidente eleito pelo povo paraguaio. E agora, vivemos isso no Brasil contra a Presidenta Dilma Roussef.


Quais são seus principais eixos?
O Foro de São Paulo tem três consignas básicas. A primeira é oposição ao neoliberalismo que tantas mazelas causa para a humanidade. Veja o caso da Bolívia, que tem tido um crescimento expressivo ao longo dos últimos 10 anos de 4,5% a 5%. É claro que agora, com a crise internacional, as dificuldades são maiores. Mesmo assim, se você comparar com os últimos anos o crescimento da pobreza e os países europeus e os partidos latino-americanos que compõem o Foro de São Paulo, você vai ver que aqui combatemos a desigualdade. Na Europa e nos Estados Unidos, só aumentou a desigualdade.

Em seguida, a democracia como instrumento estratégico, não só a democracia eleitoral, mas a democracia participativa como um todo. Todos os  nossos governos ampliaram em muito  a participação popular na formulação de politicas , na fiscalização e na gestão  do Estado, com conferências, conselhos, participação popular.

A terceira consigna importante é que, apesar das diferenças ideológicas que têm entre seus partidos , o Foro valoriza o que nos une, valoriza a construção da unidade, não a diversidade, mesmo com as divergências entre os partidos que compõem o Foro. É uma organização que consegue construir a unidade em torno destes programas anti- neoliberais e pela integração regional.

Tanto no Brasil como fora, é cada vez maior o número de pessoas cientes de que houve um golpe contra a presidenta Dilma. Sua intenção é reforçar esta denúncia?

O Foro de São Paulo já se manifestou sobre isto, considerando o que está acontecendo  no Brasil como uma tentativa de golpe, de usurpação do voto popular. Já manifestou publicamente que considera que esse governo usurpador quer  implementar um programa que foi derrotado nas urnas, o programa neoliberal do governo golpista. A expectativa é que o Foro reitere esta posição.


Qual é sua análise sobre a atuação de forças conservadoras e neoliberais nos países americanos?
Começou com a deposição do Manuel Zelaya (2009), em Honduras, também em um golpe judicial militar, depois com Fernando Lugo (2012), no Paraguai, e, agora, com a Dilma.

Também o que está acontecendo na Venezuela faz parte de um processo em que o empresariado venezuelano vem criando desabastecimento de uma maneira proposital para criar situação de desgaste para o governo de Nicolás Maduro.

Também tentaram fazer isto no Equador. Na Bolívia, quando teve a proposta de referendo, neste ano, se o Evo Morales poderia concorrer ou não a um terceiro mandato, foi feita uma campanha midiática super suja, insinuando coisas sobre ele, e ele perdeu o referendo. É possível perceber uma contraofensiva neoliberal, com relação aos governos democrático populares da nossa região.


 O que dizer das críticas de que o Foro de São Paulo é uma organização partidária que não defende a democracia?
Vamos dar exemplos, para ficar mais claro. Houve na Venezuela , em 1992, uma tentativa insurrecional de enfrentamento ao neoliberalismo liderada por Hugo Chavez, que não deu certo.  A partir disso, foi criado,  sob sua liderança um partido político, o PSUV,  socialista, e de massas, que disputou eleições e, em 1998, ganhou o governo central através  desse processo eleitoral.

Ao longo dos últimos 17 anos, esse partido, criado por  Chavez e agora liderado pelo presidente Nicolás Maduro,  disputou, em 17 anos, 14 eleições, e ganhou  todas, exceto as parlamentares de 2015. Algumas com mais votos, outras com porcentual de votos menor. Eles sempre se submeteram ao voto popular – coisa que os golpistas aqui do Brasil não querem.  

Então, não se pode dizer que os partidos que compõem o Foro são partidos  antidemocráticos. . Pelo contrário: todos os partidos que compõem o Foro são partidos democráticos e que disputam democraticamente o poder em seus países. Esta crítica é uma tentativa de obscurecer o importante papel que o Foro de São Paulo desempenhou nos últimos 26 anos.


O que se deve responder a quem acusa o Foro de São Paulo de “terrorista”?
Primeiro, temos que confrontar: o PT é um partido terrorista? O Partido Socialista chileno, que faz parte do Foro de São Paulo, é o partido de Michelle Bachelet, é um partido terrorista? O partido do Lugo, Frente Guasú, é um partido terrorista? É só ver a composição dos partidos políticos que fazem parte do Foro de São Paulo para constatar que nenhum deles tem na sua estratégia, na sua tática, qualquer perspectiva terrorista.


Qual é a importância de realizar este encontro, em 2016, em El Salvador?
É significativo que seja em El Salvador, que é governado por um partido de esquerda. É muito significativa a escolha de El Salvador porque é o segundo governo da esquerda democrática que melhorou significativamente a vida do povo salvadorenho.

Em segundo lugar, é o exemplo do que estou falando de democracia como instrumento estratégico. Mas não como simplesmente a democracia eleitoral, mas também a participativa. A Frente Farabundo Martí para la Liberación Nacional (FMLN) é uma frente que participou, nos anos 70, 80, da luta insurrecional porque era a única maneira que existia, naquele momento, de enfrentar o imperialismo norte-americano. Depois dos acordos de paz, em 1992, eles se organizaram como partido, disputaram eleições, ganharam a primeira com Mauricio Funes. Disputou novamente as eleições com Salvador Sánchez Ceren, ganhou estas eleições e vêm aprofundamento a democracia participativa no país. El Salvador é a prova do que vimos construindo no Foro de São Paulo: ampliação da democracia e   inclusão social.

Por Daniella Cambaúva, da Agência PT de Notícias

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