MPF diz que Ministério da Saúde deve combater violência obstétrica

Uma em cada quatro mulheres no Brasil sofreu esse tipo de violência, mas em despacho, pasta afirmou que termo tem “conotação inadequada”

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No Brasil 55,5% dos partos realizados são cesáreas e está em segundo lugar no ranking da prática cirúrgica no mundo

O Ministério Público Federal (MPF) recomendou ao Ministério da Saúde que ao invés de realizar ações para abolir o uso da expressão “violência obstétrica”, sejam tomadas medidas para coibir práticas agressivas durante o parto.

O documento, publicado na última sexta-feira (10) e assinado pela procuradora da República Ana Carolina Previtalli, faz referência ao despacho do Ministério da Saúde em que a pasta diz que o termo “violência obstétrica” tem “conotação inadequada”.

Segundo a pesquisa “Mulheres brasileiras e gênero nos espaços público e privado”, realizada em 2010 pela Fundação Perseu Abramo em parceria com o Sesc, uma em cada quatro mulheres no Brasil sofreu algum tipo de violência obstétrica.

Patricia Paulino, mãe de quatro filhos, que teve seu primeiro parto aos quinze anos, relata que nos três primeiros partos foi feita episiotomia, um corte na região do períneo para ampliar o canal para a passagem do bebê, sem que ela fosse consultada.

“Fizeram a episiotomia sem me consultar. Na segunda gestação, além deste corte, a médica utilizou as mãos e abriu com muita força, sem necessidade, porque o bebê já estava saindo. Eu sempre fiquei calada pois não sabia dessa violência e era jovem”, relatou à repórter Ana Rosa Carrara, da Rádio Brasil Atual.

A Doula e psicóloga Emanuely Ferraciu, que está grávida de seu segundo filho, explica que a violência obstétrica não é apenas física. “Proferir palavras e desmotivar mulheres também é uma violência. Estar em trabalho de parto, sentindo dor e ouvir ameaças de enfermeiras e médicos de que não pode gritar, de que não doeu na hora de fazer. Também é violência obstétrica quando o ginecologista decide fazer um exame de toque sem explicar o motivo”, explicou.

O vice-presidente da região sudeste da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, Agnaldo Lopes, diz que uma ação eficaz que coíbe a violência contra as mulheres e recém-nascidos é a formação constante dos profissionais.

“A gente defende uma assistência obstétrica adequada e baseada nas melhores evidências científicas. A mulher grávida precisa ter uma estrutura adequada para que a mãe e o bebê sejam saudáveis. A episiotomia, por exemplo, não deve ser feita em todas as pacientes.”

No Brasil, 55,5% dos partos realizados são cesáreas. Isso coloca o país em segundo lugar no ranking da prática cirúrgica no mundo, segundo dados da Organização Mundial da Saúde.

Muitas dessas cirurgias são consideradas desnecessárias. Esse foi o caso de Julia Oliveira, que na sua segunda gravidez decidiu procurar o acompanhamento de uma doula para não passar novamente por traumas sofridos no primeiro parto.

“Foi um pré-natal de rotina e viram, no ultrassom, que eu estava com pouco líquido. O nenê estava bem. Quando pedi um parto normal, o médico recusou e mandou eu ir ao SUS. Me levaram para a sala de cirurgia sozinha. O médico do dia disse que queria fazer tudo rápido para chegar logo em casa e começaram a cirurgia sem me avisar”, contou Julia.

Emanuely conta que a procura por uma assistente de parto muitas vezes se dá pelo medo da violência obstétrica. “É comum as mulheres terem medo de sofrer violência. Elas procuram doulas como uma proteção. A gente não sabe denunciar essa violência, quando falamos que a sociedade não olha para esse problema é algo muito grave”, afirmou.

Por Rede Brasil Atual

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