Na Bahia, Lula consolida retomada da indústria com R$ 2,6 bi da Petrobras

Com investimentos estratégicos, presidente reativa a Fábrica de Fertilizantes da Bahia e anuncia a construção de 80 embarcações para o setor naval e aquaviário. Governo projeta mais de 8 mil empregos na região

Ricardo Stuckert

O presidente Lula, durante cerimônia de anúncios para o Estado da Bahia

O presidente Lula formalizou, nesta quinta-feira (9), no Estaleiro Enseada, em Maragogipe (BA), um conjunto de investimentos estratégicos que recoloca a Bahia no centro da política de reindustrialização do país. O pacote inclui R$ 2,6 bilhões da Petrobras, com reativação da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados da Bahia (Fafen-BA) e novas encomendas para os estaleiros locais, além de R$ 611,7 milhões do Ministério de Portos e Aeroportos para a construção de 80 embarcações, dos quais R$ 550,5 milhões serão financiados pelo Fundo da Marinha Mercante (FMM).

A iniciativa tem potencial de gerar cerca de 8 mil empregos diretos e indiretos, impulsionando cadeias industriais, logísticas e de serviços no estado.

“Nós estamos realizando um sonho que quase vira pesadelo”, disse Lula. O presidente associou os anúncios à reconstrução produtiva e tecnológica do país. “A Petrobras é uma empresa de energia, e ainda tem muito a oferecer ao povo brasileiro.”

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“Reconstruir porque quase tudo foi desmontado”

Durante a cerimônia, Lula pontuou a dimensão simbólica e prática da agenda de reindustrialização brasileira. “Eu disse para vocês que a gente ia tentar reconstruir esse país. Reconstruir porque quase tudo foi desmontado. Tentaram desmontar a Petrobras, vender pedaços sob o argumento de que a Petrobras era deficitária. E eu estou convencido que a Petrobras ainda não deu tudo o que ela tem que dar ao povo brasileiro.”

O presidente recordou perseguições que, segundo ele, resultaram na desmoralização do corpo técnico da Petrobras. “Vocês eram chamados de corruptos na rua, e eu sou testemunha que esse companheiro [ex-presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli] jamais desviou um centavo da Petrobras em benefício dele. Jamais. Se você não fez o que estão dizendo, levanta a cabeça e vá brigar, porque quem briga conquista.”

Assista a íntegra da cerimônia:

Fafen-BA e soberania produtiva

A reabertura da Fafen-BA, no Polo de Camaçari, foi apresentada como peça-chave para reduzir a dependência externa de fertilizantes e fortalecer a segurança alimentar.

Para Lula, o retorno da planta está inserido em uma estratégia de longo prazo, de reocupar espaços industriais, recompor capacidades tecnológicas e reativar empregos qualificados.

No estaleiro, o governo destinou R$ 611,7 milhões para 80 embarcações, alavancadas por R$ 550,5 milhões do FMM. O ministro da Casa Civil, Rui Costa, explicou o objetivo de ativar o crédito setorial de forma contracíclica, destravando projetos e recompondo a carteira de pedidos.

“É um fundo para emprestar dinheiro mais barato para gerar emprego e para desenvolver navios, embarcações e portos do país. E esse dinheiro ficou todo esse tempo parado sem uso”, afirmou.

Costa frisou que a orientação de Lula foi utilizar esse recurso e estimular a geração de emprego. Segundo o ministro, a depreciação acelerada em até dois anos ajuda a criar um fator favorável à indústria nacional.

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“Replantamos o sonho e a esperança”

No evento, o senador Jaques Wagner (PT-BA) resgatou a história da indústria naval no Brasil e as escolhas de política industrial que permitiram reerguê-la. “Nós tínhamos matado a indústria naval brasileira. E esse senhor chamado Luiz Inácio Lula da Silva disse: ‘Nós precisamos reconstruir a indústria naval brasileira’.”

Wagner narrou embates entre a lógica estritamente financeira e a decisão política de desenvolver capacidades tecnológicas, mesmo a custos iniciais superiores. “Vai custar um pouco mais caro, mas eu vou trazer para cá de novo a tecnologia, a indústria naval brasileira.”

Ele lembrou, ainda, a formação de jovens baianos na Coreia e no Japão e a dor do fechamento do estaleiro. “A tristeza que foi mandarem fechar o sonho de vocês. Hoje, replantamos o sonho e a esperança de milhares de trabalhadores.”

“O povo da Bahia gosta de quem gera emprego”

Rui Costa ressaltou os anúncios de investimentos num contraste com políticas anteriores que tiraram conquistas do povo brasileiro.

“O povo da Bahia gosta de quem gera emprego e não de quem desemprega, de quem abre fábrica e não de quem fecha fábrica.”

O ministro também citou a retomada de projetos como expressão de uma visão de desenvolvimento que não persegue prefeitos ou estados por divergência política. “Se Zé Ronaldo quer contratar um empréstimo, traga para o palco para assinar do meu lado. Eu quero ajudar o povo de Feira de Santana.”

Ele criticou ainda a resistência de setores de alta renda à tributação. “Não é possível, que o trabalhador pague até 27,5%, e que um banqueiro não quer pagar sequer 12%.”

Para Rui, a combinação de FMM, conteúdo nacional e depreciação acelerada fecha a conta econômica e destrava encomendas no Brasil. “Nós só estamos aqui hoje às 18 horas porque vocês deram mais de 4 milhões de votos ao presidente.”

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“Lula está devolvendo ao Brasil a Petrobras”

O governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, classificou a agenda como um reencontro de Lula com a classe trabalhadora, e destacou a dimensão pública e nacional da Petrobras.

“O Lula está devolvendo ao Brasil a Petrobras que ficou recanteada, jogada ao lado. Que bom que está sendo também pelas mãos de uma mulher.”

Ao falar sobre depoimentos de trabalhadores e da representação sindical, o governador destacou que a defesa do emprego é, também, defesa de um projeto de país. “É a defesa pública, do emprego. Mas, do projeto da Petrobras, do petróleo brasileiro.”

Rodrigues vinculou a retomada do estaleiro do reforço educacional, com convênios com a Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). “O Estado entrou com um terreno para Santo Amaro, a UFRB tem 1.000 professores, 1.000 empregos qualificados.”

Inclusão social

Lula conectou a retomada industrial a medidas de inclusão social e renda para toda a sociedade brasileira. “Eu tô muito feliz porque a gente conseguiu aprovar a isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. Estou feliz porque o gás sai da Petrobras a R$ 37 e chega na casa das pessoas a 130, a 140, a 150, a gente vai dar [o benefício] para as pessoas mais necessitadas.”

O presidente também citou a proteção a consumidores de baixa renda no setor elétrico. “Quem consome até 80 kW por mês não vai pagar mais energia e quem consome até 120 vai pagar menos.”

Na educação, citou o Pé-de-Meia. “Na Bahia são quase 431.000 jovens que queriam desistir da escola.” Para o presidente, crescimento com emprego digno é a bússola: “O que dá orgulho é sair para trabalhar, viver do seu próprio esforço.”

Encerrando, Lula prestou tributo à resiliência do corpo técnico e dos operários. “Quem briga conquista. Só não conquista quem não tem coragem de brigar.”

“Estou aqui colocando uma empresa que vai gerar oito vezes mais emprego do que a Ford. Estou aqui para recuperar a indústria naval brasileira.”

Da Redação

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