Na CPI, Mandetta reafirma omissão de Bolsonaro sobre alertas de mortes
“Mandetta confirmou o pensamento de que Bolsonaro escutava pessoas que queriam a contaminação em massa da população. O nome disso é genocídio. Bolsonaro é culpado”, acusa o senador Humberto Costa (PT-PE)
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A CPI da Covid, instalada no Senado federal, colheu, nesta terça-feira (4), o depoimento do ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta. Em sua exposição diante dos senadores, Mandetta reafirmou o negacionismo de Jair Bolsonaro diante da gravidade da pandemia e detalhou recomendações da pasta que foram ignoradas pelo presidente. Mandetta afirmou que chegou a entregar uma carta, no final de março de 2020, com alertas sobre a crise e o alto risco de mortes.
O ex-ministro apresentou cenários com elevado número de mortos – 180 mil até o fim de 2020 – e recomentou que o presidente defendesse medidas como o isolamento social. Bolsonaro ignorou as sugestões e passou a defender o isolamento vertical, flexibilizando a restrição da circulação de pessoas.
Mandetta confirmou ao senador Humberto Costa (PT-PE) que Bolsonaro perseguia a chamada imunidade de rebanho, que seria atingida por meio da contaminação de pelo menos 70% da população.
“Houve uma política criminosa de Estado com a finalidade de expandir o vírus. Isso ficou muito claro hoje, com o reconhecimento do próprio Mandetta sobre isso”, observou Costa.
“Mandetta confirmou o pensamento de que Bolsonaro escutava pessoas que queriam a contaminação em massa da população. O nome disso é genocídio. Bolsonaro é culpado”, afirmou Humberto Costa.
“A gente trabalha com conceito de imunidade de rebanho com vacina, e não expondo as pessoas a uma câmara de vírus, transformando o Brasil em um meio de cultura para novas cepas”, condenou o senador Rogério Carvalho (PT-SE).
“Todas as ações do governo foram no sentido de expor a população ao vírus, em torno da tese da imunidade de rebanho. Sem vacinas e largando a população a própria sorte. É uma ação dolosa deste governo contra a vida”, sentenciou Carvalho.
Indagado pelo relator Renan Calheiros sobre a resposta de Bolsonaro às recomendações dos técnicos do Ministério da Saúde, Mandetta confirmou que Bolsonaro ouvia as recomendações e depois fazia diferente.
“O que a gente presenciava é que havia um outro olhar que ele [Bolsonaro] decidiu do seu convencimento, não sei se através de outros, de pessoas que não estavam ali, mas do Ministério da Saúde não houve embasamento”, disse Mandetta. “Era muito constrangedor para um ministro da Saúde ter que explicar que estávamos indo por um caminho e o presidente por outro”, relatou.
O governo optou, segundo o ex-ministro, por não realizar uma campanha de conscientização da população sobre medidas de proteção contra a pandemia. “Não havia como fazer uma campanha [sobre Covid-19], não queriam fazer uma campanha oficial. Então, havia necessidade de manter a questão das informações”, explicou, em referência às coletivas diárias ocorridas durante sua gestão.
Cloroquina
Mandetta também negou que sua equipe estivesse por trás da criação de um protocolo para uso da cloroquina, feita à revelia da pasta por assessores próximos ao presidente. “A cloroquina é uma droga com margem de segurança estreita para uso indiscriminado e sem monitoramento. Ela não é um medicamento que ‘se bem não faz, mal não faz’. É um medicamento que tem uma série de reações adversas”, observou.
O ex-ministro relatou a presença do vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente, em uma das reuniões, onde foi discutida a mudança na bula do medicamento para indicar tratamento da doença.
“O presidente chegou a pedir que mudasse a bula da cloroquina na Anvisa colocando que era indicado para Covid-19”, descreveu Mandetta. “A Anvisa proibiu. Por essas questões indiretas, imagino que ela construiu fora do Ministério alguns aconselhamentos que levaram a essas tomadas de decisões que ele teve”, comentou.
A CPI irá ouvir ainda os ex-ministros Nelson Teich, nesta quarta-feira (5), e Eduardo Pazuello, cujo depoimento foi remarcado para o dia 19 de maio.
Da Redação