Pária também na economia, Bolsonaro aprofunda o “risco Brasil”
País vai se tornando um pária também na economia. “Esse posto Ipiranga nunca adiantou pra nada, foi mais um engodo de Bolsonaro”, comentou Gleisi Hoffmann
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Pária ambiental, diplomático e sanitário, o país vê crescer o “risco Brasil” também na economia. Desemprego recorde e persistente, queda de renda das famílias, inflação descontrolada, juros cada vez mais altos e a turbulência política como método do desgoverno Bolsonaro formam um cenário de incerteza crônica que inibe ainda mais o já baixo nível de investimentos, nacionais e estrangeiros, no país.
O fracasso da 17ª rodada de licitações de áreas exploratórias de petróleo e gás, promovida na semana passada pela Agência Nacional de Petróleo (ANP), ilustra bem a má reputação do país. Dos 92 blocos de concessão oferecidos, apenas cinco foram arrematados. Shell e Ecopetrol da Colômbia compraram os lotes sem pagar ágio, no leilão com a menor taxa de sucesso desde a abertura do setor de petróleo, há 22 anos.
Outro indicador da decadência nacional é a evolução do prêmio do risco medido pelo Credit Default Swap (CDS) do Brasil. Espécie de seguro contra calote, o CDS é um termômetro da disposição dos investidores em relação a um país. Quanto mais alto, maior a percepção de risco.
Nova estimativa do FMI joga PIB brasileiro pra baixo, deverá crescer apenas 2,4% entre 2020 a 2022, contra 7,6% da média global e muito abaixo dos demais países emergentes (9,5%). Esse posto Ipiranga nunca adiantou pra nada, foi mais um engodo de Bolsonaro.
— Gleisi Hoffmann (@gleisi) October 13, 2021
Segundo dados da Bloomberg, na segunda-feira (11) o CDS do Brasil, com prazo de cinco anos, oscilava ao redor de 207,5 pontos. A alta é de 24% no acumulado de 2021, e de 13% ante a média histórica de 183,4 ponto.
O Indicador de Incerteza da Economia (IIE-Br), do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), também subiu: 14,3 pontos em setembro, para 133,9 pontos, o maior nível desde março de 2021 e o segundo maior desde setembro de 2015, quando o indicador alcançou 136,8 pontos. A queda da confiança atingiu tanto empresas quanto consumidores.
“Ao registrar a maior alta desde abril de 2020, o indicador de incerteza volta a superar a marca dos 130 pontos em setembro. Entre os fatores que contribuíram para alta estão as diversas crises do momento – política, institucional e hídrica, o cenário fiscal indefinido, a inflação ascendente e dúvidas remanescentes quanto à pandemia que injetaram uma dose adicional de incerteza no mês”, afirmou Anna Carolina Gouveia, Economista do (FGV-Ibre).
“A piora do quadro econômico, com crises políticas e institucionais, desencadeou uma nova onda de incerteza na primeira quinzena de setembro“, diz o boletim do Ibre. A instituição estima ainda que entre julho de 2020 e o mesmo mês deste ano, os investimentos estrangeiros no país caíram de US$ 67,2 bilhões para US$ 23,8 bilhões.
O Banco Central informou que os investimentos diretos de estrangeiros no Brasil somaram em agosto US$ 4,5 bilhões – abaixo da estimativa, que era de US$ 5,8 bilhões. A queda foi de 26% em relação a julho.Segundo um ranking das Nações Unidas, a economia brasileira, que estava em sexto lugar na atração de investimentos em 2019, caiu para o 11º lugar no fim de 2020.
Cautela diante de uma recessão anunciada
“Nós vivemos hoje um cenário de instabilidade, que faz com que a gente aja com mais cautela”, disse à Folha de São Paulo Daniella Guanabara, diretora de estratégia e relações com investidores da Aliansce Sonae. A empresa administra 39 shopping centers pelo país. A executiva disse que a Aliansce tem “pouca dívida e uma posição de caixa forte”. “Mas decisões sobre investimentos maiores ficaram para depois do Natal.”
“A gente caminha para ver no fim deste ano e no começo do ano que vem uma pequena recessão. A confluência de crises e situação econômica difícil vai trazer uma piora nas perspectivas econômicas”, avalia José Roberto Mendonça de Barros, secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda durante o governo FHC.
“As incertezas, com a antecipação da eleição, fazem com que os prêmios de risco subam ainda mais e isso afeta toda a área de crédito e os empréstimos para pessoas e empresas”, prossegue o economista. “Esse cenário também traz mais volatilidade e impacta na redução de projetos para investimento. O número de empresas que deixam para depois de 2022 decisões mais significativas quanto a investimentos e aquisições não para de crescer.”
Nas últimas semanas, consultorias e bancos revisaram para abaixo de 1%suas previsões de crescimento para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2022. Os dados do PIB do segundo trimestre, publicados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apontam queda de 3,6% na formação bruta de capital fixo,que é o investimento na capacidade produtiva.
Divulgado nesta terça-feira (12), o relatório Perspectiva Econômica Mundial, do Fundo Monetário Internacional (FMI), prevê um salto no crescimento econômico da América Latina e Caribe para este ano, com projeção de 6,3% para o continente. Para o Brasil, a previsão é de queda: de 5,3% para 5,2% em 2021.Para 2022, a perspectiva de crescimento brasileiro é de 1,5%.
“Nova estimativa do FMI joga PIB brasileiro pra baixo, deverá crescer apenas 2,4% entre 2020 a 2022, contra 7,6% da média global e muito abaixo dos demais países emergentes (9,5%). Esse posto Ipiranga nunca adiantou pra nada, foi mais um engodo de Bolsonaro”, concluiu a presidenta nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR) em postagem no seu perfil no Twitter.
Da Redação