Plenário do Senado terá 1º banheiro feminino, 55 anos após inauguração

Para a primeira senadora eleita pelo PT e hoje deputada federal pelo Rio de Janeiro, Benedita da Silva, o fato mostra o quanto ainda é preciso avançar para garantir a participação feminina nos espaços de poder

Homenagem ao Dia Nacional da Consciência Negra. Dep. Benedita da Silva (PT-RJ). Foto: Gabriela Korossy/ Câmara dos Deputados

O ano é 2016, mas bem poderia ser 1900, quando em grande parte do mundo as mulheres ainda não tinham direitos políticos. É que apenas este ano o Senado está construindo um banheiro feminino no plenário da casa.

O fato acontece 55 anos após a inauguração do prédio do Congresso Nacional, em Brasília. A obra, que vai custar R$ 35,8 mil, deve ser entregue até 2 de fevereiro, no retorno do recesso parlamentar.

As senadoras – 12 na atual legislatura – eram obrigadas a deixar o plenário para usar o banheiro feminino do restaurante ao lado. “Como se as mulheres não fizessem parte daquele espaço”, argumenta a senadora Regina Souza (PT-PI).

“Os espaços públicos não foram pensados para incluir as mulheres. Eram espaços apenas dos homens e essa adaptação precisa acontecer”, reforça a senadora.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as mulheres são 51% da população brasileira. Mas, mesmo sendo maioria, elas ainda são minoria no Senado, representando apenas 14% dos 81 parlamentares.

O Brasil tem uma das taxas mais baixas do mundo de presença de mulheres do Congresso Nacional, segundo dados divulgados pela União Inter-Parlamentar no início da atual legislatura.

De um total de 190 países, o Brasil ocupa a 116ª posição no ranking de representação feminina no Legislativo. As taxas brasileiras ficam abaixo da média mundial, de 22,1% de mulheres ocupando cadeiras nos parlamentos. Os números do Brasil são ainda inferiores aos da média do Oriente Médio, com uma taxa de participação feminina de 16%.

Em comparação ao restante da América do Sul, a posição das brasileiras no Congresso também é de inferioridade. Uruguai, Paraguai, Chile, Venezuela, Panamá, Peru e Colômbia são alguns dos países com maior representação de deputadas que no Brasil.

“Nós, mulheres, ainda temos que ficar lutando por banheiro feminino no Senado. Isso mostra que não temos nem infraestrutura para atender esse universo feminino nos espaços de poder”, reclama a deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ).

Benedita foi a primeira senadora eleita pelo Partido dos Trabalhadores, nos idos de 1994.

“Foi uma grande conquista, não só para o estado do Rio de Janeiro e para o PT, mas também para a comunidade negra”, relembra Benedita.

Para a deputada, “a chegada do PT ao Congresso levou trabalhadores e trabalhadoras, negras e negros àquelas Casas”.

“Mas ainda hoje é preciso disputar para que esses espaços tenham sempre representação dessa população. Não pode ter tido uma Benedita e nunca mais ter outra representação das mulheres negras no Senado”, ressalta.

Para ela, a dificuldade para eleger mulheres, e principalmente negras, se deve à falta de oportunidade que se dá às mulheres.

“O poder é masculino e branco. Já conseguimos as cotas nos partidos, mas ainda não é suficiente. Ano passado tivemos, na pseudo reforma política, a cota para mulheres nas legislaturas. Na Câmara, a proposta não passou. Apenas no Senado, e como uma ação gradual. Ainda é pouco para garantir a participação de mais mulheres na política, nos espaços de poder e decisão”, conta.

“É preciso mais oportunidades, de mais investimentos, inclusive por parte dos partidos, para que as candidaturas das mulheres sejam mais competitivas”, pontua a petista.

Benedita, que já foi governadora do Rio de Janeiro, lembra ainda que as mulheres também encontram dificuldades para chegar aos espaços do poder executivo. E fala do que acontece com a presidenta Dilma Rousseff.

“Por ser mulher, se acirra a disputa, o preconceito, a desqualificação, mesmo ela sendo extremamente qualificada, e reconhecidamente qualificada. Os ataques a Dilma são ataques feitos porque ela é mulher”, afirma a deputada federal.

Por Luana Spinillo, da Agência PT de Notícias

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