“Não há democracia sem a voz das mulheres”, afirma Lula na abertura da 5ª CNPM

Evento marca retomada histórica das conferências com mais de 4 mil mulheres mobilizadas nesta segunda-feira (29), em Brasília

Ricardo Stuckert

Lula: “Essa conferência é também um grito pela liberdade das mulheres falarem o que quiserem, quando quiserem e onde quiserem"

Com o auditório lotado e a presença de 4 mil mulheres, foi aberta a 5ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres (5ª CNPM), nesta segunda-feira (29), em Brasília. A emoção tomou conta da cerimônia conduzida pela ministra das Mulheres, Márcia Lopes, que declarou que a conferência representa um reencontro com a democracia e com as lutas históricas das brasileiras. “Tentaram nos calar, mas não conseguiram”, afirmou.

O presidente Lula também participou da abertura e ressaltou o papel das mulheres na construção do país. “É com muita alegria que participo dessa celebração que marca o retorno das conferências nacionais de política para as mulheres”, disse.

O evento, suspenso desde 2016 após o golpe que afastou a presidenta Dilma Rousseff, marca uma retomada institucional com forte simbolismo político.

“Mulheres indígenas, quilombolas, negras, brancas, idosas, com deficiência, ciganas, quebradeiras de coco, marisqueiras, das águas, dos campos e florestas, evangélicas, das cidades, LBTs, travestis, meninas adolescentes e jovens, mães atípicas… todas nós e toda a nossa diversidade”, disse a ministra das Mulheres.

Lula também valorizou a pluralidade do encontro ao afirmar que a conferência é “um grito contra o silêncio” e que não há democracia plena sem a voz das mulheres.

“De todas as mulheres, pretas, brancas, indígenas, do campo e da cidade, trabalhadoras, domésticas, empresárias, profissionais liberais, que trabalham fora ou se dedicam a cuidar da família”, afirmou.

Ele lembrou das mães solo e avós que cuidam dos netos, enfatizando que muitas enfrentam jornadas duplas e triplas.

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Um grito contra o silêncio e os retrocessos

Ao relembrar o período sem conferências nos governos de Temer e Bolsonaro, Lula afirmou que foram “10 anos de retrocesso em tudo o que havíamos conquistado”.

O presidente enfatizou que houveram repetidas tentativas de calar a voz das mulheres, de institucionalizar o silêncio que as mulheres enfrentam todos os dias.

“Essa conferência é também um grito pela liberdade das mulheres falarem o que quiserem, quando quiserem e onde quiserem”.

Márcia Lopes enfatizou que a mobilização das mulheres se manteve firme mesmo em tempos adversos. “Desde a última conferência em 2016, enfrentamos anos de retrocessos, mas resistimos”, afirmou.

Ela celebrou as etapas preparatórias realizadas em todo o Brasil como um processo democrático e coletivo que culmina no evento nacional. “Esta conferência é a realização de um sonho sonhado e construído juntas”, disse.

Compromisso com os direitos das mulheres

Durante a cerimônia, o presidente Lula manifestou novamente sua dedicação histórica com os direitos das mulheres, lembrando que sua relação com o tema vai além da política. “Sou antes de tudo filho da dona Lindu”, disse.

Ele contou que sua mãe, migrante e sem formação escolar, criou sozinha oito filhos após romper com a violência doméstica. “A recusa de dona Lindu em aceitar o desrespeito e a violência marcou profundamente e por toda a minha vida”, disse.

Lula destacou a recriação do Ministério das Mulheres, a aprovação da lei de igualdade salarial, os programas de combate ao feminicídio e à pobreza menstrual. Mas fez questão de lembrar que nenhuma dessas conquistas foi dádiva.

“Vocês nunca recebernada de mão beijada. Todas as conquistas foram resultado de muita luta ao longo da história e da vida de vocês”, afirmou.

Márcia Lopes também reforçou a importância da articulação entre os entes federados. “É essencial fortalecer o pacto federativo, unindo o governo federal, estados e municípios à luta, sempre juntos à sociedade civil e aos movimentos sociais”, declarou.

Ela também destacou que a política nacional de mulheres só se concretiza com a articulação das políticas setoriais, como saúde, trabalho e assistência social.

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Plano Nacional e política de cuidados

Um dos principais resultados esperados da 5ª CNPM é a construção de diretrizes para o novo Plano Nacional de Políticas para as Mulheres.

“Hoje, somos mais de 4.000 mulheres reunidas que de maneira democrática e plural vão debater e propor diretrizes para o Plano Nacional”, afirmou Márcia Lopes.

A ministra também ressaltou dois marcos recentes: a política nacional de cuidados e a lei de igualdade salarial.

“Reafirmo ainda a política nacional de cuidados sancionada pelo presidente Lula. Essa lei reconhece o cuidado como fundamental para a sustentabilidade da vida e da sociedade”, afirmou.

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Enfrentamento às desigualdades estruturais

Apesar dos inúmeros avanços na promoção dos direitos das mulheres, Lula chamou atenção para a persistência de desigualdades sociais e estruturais, que ainda persistem no país.

“Sabemos também que esses avanços não chegam a todas as mulheres por igual. É preciso vencer as barreiras impostas pelas diversas formas de desigualdade. A desigualdade social, de raça, de acesso à educação, à saúde e ao trabalho digno”, disse.

Ele citou dados que mostram a priorização das mulheres nas políticas públicas.

“Hoje as mulheres estão 84% dos beneficiários do Bolsa Família, 63% da população atendida pela Farmácia Popular, 85% dos benefícios da linha subsidiada do Minha Casa Minha Vida, 65% entre estudantes bolsistas do PROUNI e 59% das matrículas na educação superior”, afirmou.

Homenagens e memória das lutas

No evento, o presidente homenageou figuras históricas da luta das mulheres no Brasil, como Maria Felipa, Chiquinha Gonzaga, Maria Carolina de Jesus, Bertha Lutz e Lélia Gonzalez. “Marielle vive entre nós”, disse Lula.

Ele também mencionou Marta Suplicy como pioneira ao falar abertamente da sexualidade feminina na TV.

Márcia Lopes lembrou que, desde o início de sua gestão, sempre convida uma mulher quilombola para estar ao seu lado em eventos públicos.

“O que eu posso fazer imediatamente é que em todo ato público meu, eu chame uma mulher quilombola para ficar do meu lado”, declarou.

O futuro é agora

Ambos encerraram seus discursos com mensagens de esperança. “Queridas companheiras, o futuro é uma semente que já germina em nossas mãos”, disse Márcia Lopes. “O que construiremos juntas nesses dias será raiz firme e tronco vigoroso para garantir dignidade, direitos e igualdade para todas nós.”

“O futuro da humanidade é feminino”. E desejou: “Que Deus faça com que a gente saia daqui maior, muito maior e que a gente saia daqui com diretrizes, com coisas concretas que possa fazer com que o governo possa fazer muito mais”, concluiu o presidente.

Serviço

A 5ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres ocorre de 29 de setembro a 1º de outubro de 2025, em Brasília, sob coordenação do Ministério das Mulheres e do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM).

Com o tema Mais Democracia, Mais Igualdade, Mais Conquistas para Todas, a conferência reúne representantes dos governos federal, estaduais, municipais e do DF, além de movimentos sociais e entidades da sociedade civil.

A etapa nacional é resultado de um processo de mobilização em todos os estados, com conferências livres, regionais e estaduais realizadas ao longo de 2025.

Confira a programação completa aqui.

Da Redação, com informações do Ministério das Mulheres

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