Povo argentino prepara protestos contra Bolsonaro, que visita país hoje
Mães da Praça de Maio marcharão contra ataques de Bolsonaro aos direitos humanos. Estudantes, sindicatos, movimentos sociais e feministas realizam protesto em frente à sede do governo argentino
Publicado em
O presidente, Jair Bolsonaro (PSL), desembarca nesta quinta-feira (6) em Buenos Aires, e será recebido com protestos em sua primeira viagem oficial à Argentina. Estudantes, sindicatos e organizações sociais convocaram manifestações que vão ocorrer na Praça de Maio, em frente à Casa Rosada, sede do governo argentino, enquanto Bolsonaro estiver reunido com o presidente Mauricio Macri.
Os argentinos que se manifestam afirmam que a visita de Bolsonaro enche o país de “vergonha e indignação” pelo “ódio” que manifesta quando fala sobre as mulheres, os afrodescendentes, membros da comunidade LGBT, os “corpos dissidentes”, e também os imigrantes e trabalhadores em geral. “Mas também porque vemos que, na prática, seu governo está levando o nosso país irmão ao pior dos futuros possíveis”, diz o manifesto do evento Argentina Rechaça Bolsonaro: Seu ódio não é bem-vindo aqui.
O arrocho na economia brasileira, a precarização do trabalho, o saque das riquezas nacionais e a negação de Bolsonaro em relação aos crimes contra a humanidade cometidos durantes as ditaduras que assolaram o continente entre as décadas de 1960 e 1980 são citados como motivos para as manifestações. “Em defesa da soberania, da solidariedade latino-americana, contra as políticas neoliberais de Bolsonaro e Macri, e dizendo NÃO ao autoritarismo, ao militarismo e às declarações racistas, machistas, homofóbicas e de apologia à tortura expressada por ambos.” Na noite de ontem (5) projeções com a hashtag #FueraBolsonaro iluminavam as fachadas de edifícios no centro da capital argentina, preparando para as manifestações.
Madres
Os protestos contra Bolsonaro são endossados inclusive pelas Mães da Praça de Maio, a mais importante organização argentina que luta pela recuperação e identificação das crianças que foram retiradas de suas famílias e adotadas ilegalmente por militares ou pessoas próximas ao governo ditatorial. “Estou convidando a todos para que lotemos a Praça de Maio para dizer: ‘Bolsonaro, não agradecemos sua visita. Fora!’ Precisamente porque não representa os direitos humanos”, diz Taty Almeida, uma das “madres” fundadoras do movimento.
Taty Almeida de Madres de Plaza de Mayo, Linea Fundadora invita a todes a llenar la plaza este jueves en repudio a la presencia de @jairbolsonaro y su reunión con @mauriciomacri con agenda neoliberal #argentinarechazabolsonaro #EllosNo #ElesNão pic.twitter.com/n264QwCZnD
— ALBA Movimientos (@movimientosalba) June 5, 2019
Depois de marchar com as Mães da Praça de Maio, a manifestação se converte em jornada cultural contra Bolsonaro, com a participação de artistas locais. A Assembleia Popular Feminista, o movimento Nenhuma a Menos, a Federação Universitária de Buenos Aires, a Federação de Trabalhadores pela Economia Social e o movimento juvenil “La Campora” são algumas das 65 organizações que participam dos protestos.
Eleições
Em meio à crise econômica que também afeta o país vizinho, com um inflação prevista, para 2019, na casa dos 40%, desemprego em torno de 9% e 32% dos argentinos vivendo na pobreza, Macri busca a sua reeleição nas eleições que ocorrerão em outubro. Bolsonaro não só tem manifestado apoio ao atual presidente argentino, como tem afirmado que o país vizinho pode virar uma “nova Venezuela”, caso a ex-presidenta Cristina Kirchner volte ao poder.
Ela é candidata a vice na chapa encabeçada por Fernando Fernandez, que foi chefe de gabinete no governo de Néstor Kirchner, marido de Cristina. Durante o seu governo, a Argentina registrou as maiores taxas de crescimento no período recente, superando a crise de 2001, quando cinco presidentes se sucederam em menos de duas semanas, em meio ao caos político e social.
Depois do encontro na Casa Rosada, que reunirá ministros dos dois países, Bolsonaro e Macri devem fazer uma declaração conjunta e a assinar um memorando de intenções nas áreas de defesa, bioenergia e mineração. Os brasileiros tentam ainda vender aviões KC-390, fabricado pela Embraer, que após a compra da brasileira pela norte-americana Boing, podem passar a ser produzidos também nos Estados Unidos.