Prévia da inflação cai e leva tese do BC de Bolsonaro para manter juros abusivos

IPCA-15 desce a 0,51%. “Ninguém mais está discutindo se deve cair. A pergunta agora é quando”, afirma ministro da Fazenda, Fernando Haddad

Beto Nociti (BCB) - Site do PT

A inflação volta a desacelerar e desmentir o rentista Roberto Campos Neto, bolsonarista que ocupa o comando do BC

A pressão para que o Banco Central reduza a taxa básica de juros da economia (Selic) aumentou ainda mais após o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgar que o IPCA-15, prévia da inflação oficial, caiu de 0,57% em abril para 0,51% em maio. O percentual, o menor desde outubro de 2022, levou à queda dos juros futuros. O cenário apresentado por esses dados nocauteia o discurso do presidente do BC, o bolsonarista Roberto Campos Neto, de que o controle da inflação justifica a manutenção da Selic em 13,75%, a maior do mundo e que tem sufocado os setores produtivos, ao mesmo tempo em que faz a festa dos rentistas.

Ainda segundo o IBGE, o IPCA-15, nos últimos 12 meses, acumula alta de 4,07%, abaixo dos 4,16% registrados em abril. E, no acumulado do ano, variação positiva de 3,12%.

Os dados de maio apontam para uma inflação menor no mês, abaixo de 0,4%, com o impacto maior da redução dos combustíveis na segunda quinzena e a expectativa de desaceleração dos preços dos alimentos. Dessa forma, o cenário é favorável a uma nova queda nas expectativas de inflação nas próximas semanas.

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“Penso que tudo concorre para uma redução da taxa de juros no Brasil. Ninguém mais está discutindo se deve cair. A pergunta agora é quando. A política fiscal e a política monetária precisam ter uma relação mais orgânica”, afirmou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em entrevista à revista Veja.

Ao destacar a importância de uma relação mais orgânica entre as políticas fiscal e monetária, Haddad esclareceu que estimular a participação do BC no debate com a sociedade não significa questionar a autoridade monetária. O titular da Fazenda sublinhou que o discurso dos presidentes dos bancos centrais ao redor do mundo tem mudado consideravelmente, sendo fundamental que a sociedade brasileira também participe dessa discussão.

“Hoje, o discurso dos próprios presidentes dos bancos centrais do mundo mudou muito. Trazer isso à consideração da sociedade não é de maneira nenhuma colocar em xeque a autoridade monetária. É propugnar por uma visão mais orgânica dessas duas políticas [fiscal e monetária], que, no fundo, são uma só”, disse o ministro.

A visão do ministro está alinhada com a do presidente  Lula, que iniciou, tão logo tomou posse, o debate sobre a importância da redução das taxas de juros, atraindo apoios no Congresso e, principalmente, entre o empresariado. Para Lula e Haddad, a medida seria fundamental para fomentar a economia brasileira e proporcionar melhores condições de financiamento para investimentos produtivos.

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Inflação por grupos

Em maio, sete dos nove grupos de produtos e serviços avaliados pelo IBGE registraram alta. Dois grupos tiveram maior influência sobre o índice: Alimentação e bebidas (0,94%) e Saúde e Cuidados Pessoais (1,49%) – ambos contribuíram em 0,20 p.p.

Dentro do primeiro grupo, a alta foi puxada pela alimentação no domicílio (1,02%), enquanto, no segundo, nos produtos farmacêuticos (2,68%), após a autorização do reajuste de até 5,60% no preço dos medicamentos a partir de 31 de março. Já a queda do IPCA-15 foi puxada pela redução das passagens aéreas (17,26%).

Juros futuros

Como reflexo imediato do menor crescimento do IPCA-15, os juros futuros passaram a operar em queda na quinta-feira (25), estimulando a expectativa de um corte mais breve da Selic pelo Banco Central. No início da sessão, o contrato de depósito interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 recuava para 13,20%, ante 13,26 %, no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 baixou de 11,61% para 11,43%, no mesmo comparativo; o DI para janeiro de 2027 ‘encolheu’ de 11,13% para 10,95%, e o vencimento para janeiro de 2029 passou de 11,44% para 11,29%.

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Mais pressões

Diante de um cenário altamente favorável à redução da Selic, a presidenta do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), reforçou a cobrança ao presidente do BC. “Expectativa de inflação menor e PIB mais forte. Dólar mais baixo, combustíveis em queda, o povo no orçamento. É isso aí, vamos na direção certa para gerar emprego e renda pro trabalhador brasileiro e fazer o país crescer. Só falta o BC baixar os juros. E aí Campos Neto, ainda não vai dar sinais?”, questionou a parlamentar, em sua conta no Twitter.

O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, em entrevista coletiva na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), após anunciar a abertura de linhas de financiamento para incentivar a indústria brasileira, disse que a Selic no patamar atual não se justifica diante da desaceleração da inflação.

“Nós tivemos uma taxa muito baixa por muito tempo. Só que, em 18 meses ela teve uma alta de 11,75%. Ela subiu muito rápido. E nós já estamos com essa taxa de 13,75% há 10 meses. É a maior taxa de juros do mundo e a nossa inflação é das menores. Com essa taxa, qual é o negócio que você consegue manter de pé?”, questionou Mercadante.

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O presidente do BNDES disse que a taxa de juros ideal para o Brasil deveria estar “alinhada com a de outros países”. “Estamos completamente fora da curva. Espero que ela caia, caia rápido, caia de forma sustentada”.

Da Redação

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