PT cobra prioridade nas buscas de indigenista e jornalista desaparecidos

Parlamentares do PT no Senado tomaram iniciativas nas duas Casas Legislativas para cobrar celeridade das autoridades nas buscas dos desaparecidos

Reprodução/Site do PT

Comissão de Direitos Humanos do Senado cobra prioridade nas buscas de indigenista e jornalista desaparecidos no Amazonas

O presidente da Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado Federal, Humberto Costa (PT/PE), cobra prioridade nas buscas pelo indigenista Bruno Araújo Pereira e pelo jornalista inglês Dom Phillips, que desapareceram na Amazônia no domingo, dia 5.

O senador enviou ofícios à Polícia Federal, ao Ministério Público Federal, ao Ministério da Justiça e à Polícia Civil do Amazonas pedindo informações sobre os trabalhos de buscas.  A Secretaria Nacional de Meio Ambiente e Desenvolvimento do PT (SMAD) também se solidariza com os familiares de Dom Phillips e Bruno Pereira e emitiu uma nota. Confira aqui.

Parlamentares da Bancada do PT na Câmara também propuseram a criação de Comissão Externa da Casa para acompanhar in loco, no estado do Amazonas, as investigações e providências adotadas em relação ao desaparecimento do jornalista inglês Dom Philips e do indigenista Bruno Araújo Pereira.

Bruno Pereira e Dom Phillips teriam desaparecido enquanto retornavam para a cidade de Atalaia do Norte, após passarem pelas comunidades de São Gabriel e São Rafael, no Vale do Javari, no Amazonas.

Eles chegaram à região na última sexta-feira, 3, e faziam o trajeto numa embarcação nova, com gasolina suficiente para a viagem. O alerta foi ligado por uma nota emitida pela União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), horas após perderem o contato com os dois.

O senador Humberto Costa enfatiza que há esperanças de encontrá-los vivos, mas critica a fala de Bolsonaro sobre “se meterem em uma aventura não recomendável em terras indígenas”.

“Estamos acompanhando atentamente, na Comissão de Direitos Humanos do Senado, o desenrolar dos fatos. Ainda temos esperança de que Bruno Pereira, desligado da Funai por Bolsonaro e Sergio Moro, e Dom Phillips sejam encontrados. Mas, quando o presidente da República diz que um indigenista e um jornalista que visitavam terras indígenas se meteram em uma ‘aventura não recomendável’, nós recebemos com horror e repúdio essa afirmação”.

O parlamentar ressalta que a infeliz declaração de Bolsonaro “é uma desculpa para legitimar qualquer ação criminosa que tenha ocorrido naquela área, cada vez mais explorada ilegalmente pelo garimpo e madeireiras clandestinas, que Bolsonaro e seu governo tanto protegem. Os dois estavam desempenhando seu trabalho, de maneira lícita, dentro do território nacional”.

“O Estado brasileiro tem responsabilidade sobre suas vidas, e não é a conivência do presidente da República com a bandidagem que vai ilidir esse dever constitucional.”

Lideranças do Partido dos Trabalhadores (PT) e de entidades indígenas também se manifestaram em suas redes sociais.

Omissão do governo brasileiro

A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) emitiu nota pública exigindo uma ação eficaz de apuração dos fatos e de busca imediata dos desaparecidos.

“Cada hora que passa coloca em risco definitivo a possibilidade de sobrevivência dos dois desaparecidos, ao mesmo tempo em que faz crescer a consolidação de um território sem lei, nas mãos de criminosos confiantes nos seus plenos poderes perante a incapacidade de atuação dos representantes legítimos do Estado de direito”.

Conforme a entidade, circularam informações sobre as limitações das forças de segurança para obter, entre outros meios, helicópteros que dessem o necessário suporte às operações de busca, o que é imprescindível para complementar as ações fluviais e terrestres dadas as condições geográficas da região.

Violência descontrolada

No documento, a APIB relata que na região onde o indigenista e o jornalista desapareceram a violência descontrolada avança diante da invasão das terras indígenas e de outras terras da União.

Ressaltam ainda a repressão contra a liberdade de imprensa e o exercício do jornalismo e a ameaça impune contra a vida e a atuação de servidores públicos engajados no cumprimento da Constituição Federal.

“Diante deste quadro de quebra drástica dos fundamentos da democracia, é urgente uma intervenção do Governo Brasileiro para uma efetiva busca e salvamento do indigenista Bruno Araújo Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips”.

Confira a íntegra da nota aqui.

Investigações e buscas

Até agora, a polícia do Amazonas ouviu quatro pessoas como testemunhas sobre o desaparecimento. Nesta terça-feira, 7, um suspeito de envolvimento também prestou depoimentos à polícia.

De acordo com a Secretaria de Segurança Pública do AM (SSP-AM), não houve ainda nenhuma prisão por envolvimento no caso.

As buscas reúnem o Exército e a Marinha. A Marinha participa das buscas com o Comando de Operações Navais com helicópteros, motos aquáticas e embarcações.

A Funai informou que a operação foi ampliada com 15 servidores da fundação e da Força Nacional de Segurança Pública (FNSP), sob a coordenação do Ministério da Justiça e Segurança Pública.

Ameaças

De acordo com a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), o indigenista Bruno Araújo Pereira, que foi coordenador regional da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Atalaia do Norte, recebia constantes ameaças de madeireiros, garimpeiros e pescadores.

Os dois estavam na região para visitar a equipe de Vigilância Indígena que se encontra próxima à localidade chamada Lago do Jaburu (próxima da Base de Vigilância da Funai no rio Ituí), para que o jornalista visitasse o local e fizesse algumas entrevistas com os indígenas.

Quem são

Bruno Araújo Pereira é servidor público licenciado da Fundação Nacional do Índio (Funai) e integra o Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados e de Recente (OPI).

Indigenista experiente e respeitado, comandou, em 2018, a maior expedição da Funai dos últimos 20 anos com povos isolados. Era, na época, o coordenador-geral de Indígenas Isolados e Recém-Contatados. Mas acabou exonerado em outubro de 2019, já no governo Bolsonaro. Junto com Bruno estava o jornalista inglês Dom Phillips, correspondente de importantes jornais internacionais, atualmente no britânico The Guardian.

Radicado no Brasil há cerca de 15 anos, prepara ainda um livro sobre meio ambiente. Em 2018, Reuters e Guardian publicaram textos de Dom Philips em que ele alertava sobre o risco da eleição de Bolsonaro para o meio ambiente e para os povos indígenas, dois de seus temas favoritos de cobertura.

Da Redação, com informações do PT no Senado e G1

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