Quanto custaram os giros internacionais de Bolsonaro?

Os R$ 13 milhões noticiados pelo Globo são só a ponta do iceberg. Representação da Bancada do PT na Câmara cobra devolução de gastos com viagem turística a Dallas

Brasil 247

Os gastos com as viagens internacionais do presidente Bolsonaro são muito mais vultosos do que os R$ 12,8 milhões divulgados pelo jornal O Globo no último domingo (12). Esse valor se refere apenas às despesas de apoio logístico realizadas pelo Ministério das Relações Exteriores (MRE) com a preparação dos giros do presidente por Davos (Suíça), Washington (EUA), Santiago (Chile) e Israel.

Nesta conta ainda não está incluída a visita a Dallas (EUA), esta semana, onde o chefe do Executivo não cumpriu agenda de Estado. Este giro mais recente Bolsonaro é alvo de uma representação no Tribunal de Contas da União apresentada pela Bancada do PT na Câmara dos Deputados, protocolada nesta sexta-feira.

Assinada pelo líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta (RS) e pelo deputado Zeca Dirceu (PT-PR), a representação exige integral ressarcimento ao Erário dos recursos utilizados na viagem que, “ao fim e ao cabo”, foi eminentemente turística, sem compromissos relevantes ou agenda oficial de interesse do País.

Poço mais fundo

O poço das despesas do País com as viagens internacionais de Bolsonaro é muito mais fundo do que os quase R$13 bilhões noticiados pelo Globo e que causaram indignação na opinião pública.

Além desses gastos feitos pelo MRE, a maior parte das despesas com viagens internacionais do presidente recai sobre os orçamentos do Ministério da Defesa — que, que paga as contas de manutenção e o combustível do “Aerolula”, o avião presidencial — e da Presidência da República, a quem cabe pagar as despesas de alimentação, hospedagem e a logística dos giros internacionais do Chefe do Executivo.

Combustível, diárias e cartão corporativo

Ainda que o detalhamento de despesas do Ministério da Defesa não discrimine os gastos com as viagens internacionais do presidente, sabe-se que o avião presidencial, um Airbus A319 consome 640 galões (cerca de 2.900 litros) de combustível por hora voada, em média, como informa o jetadvisors.

As quatro primeiras viagens presidenciais de Bolsonaro consumiram pelo menos 78 horas de voo, considerando-se o tempo médio de voo a cada destino em uma aeronave comercial— o plano de voo de uma viagem particular é diferente, mas as distâncias são as mesmas.

Mais de R$ 5 milhões

Segundo um funcionário do Itamaraty, a maior parte das despesas de uma viagem internacional do chefe do Executivo é paga com o cartão de crédito corporativo atribuído ao presidente.

A discriminação dos gastos nos cartões corporativos é inacessível ao público. Mas uma consulta ao site governamental Tesouro Gerencial revela que desde a posse de Bolsonaro a Presidência da República já pagou R$ 5,22 milhões referentes a faturas de cartões de crédito corporativo.

Diárias

Além disso, todos os integrantes das comitivas oficiais membros do Poder Executivo, os funcionários de apoio que acompanham o presidente que sejam funcionários do Executivo e os convidados recebem diárias para custear suas despesas durante a viagem.

Essa ajuda de custo varia entre US$ 170 e US$ 460 por dia de viagem, a depender do país visitado e do escalão de governo ao qual pertence o viajante. As regras estão estabelecidas no Decreto 5.992/2006.

Integrantes das delegações que sejam membros do Legislativo ou do Judiciário têm suas despesas custeadas por seus respectivos Poderes—dinheiro que também sai dos cofres públicos.

R$ 835 mil por dia

O orçamento do MRE para ações de apoio logístico às viagens internacionais do presidente em 2019 é de R$ 14,2 milhões. Os R$ 12,8 milhões já gastos — de janeiro a abril — representam  86,48% do que foi orçado.

O “apoio logístico” às viagens internacionais presidenciais refere-se à organização da agenda, realização de precursoras (viagens prévias de equipe que verifica logística, segurança e outros aspectos) e participação de funcionários nas viagens oficiais.

O MRE gastou em média R$ 3,2 milhões com cada uma das quatro primeiras viagens internacionais de Bolsonaro, realizadas entre 22 de janeiro e 2 de abril.

Juntas, as visitas a Davos, Washington, Santiago do Chile e Israel somaram 15 dias de viagem — o que significa que o Itamaraty, sozinho, gastou a média de R$ 853 mil preparando cada dia dos giros internacionais de Bolsonaro.

As viagens e as comitivas de Bolsonaro

Suíça, Davos, Fórum Econômico Mundial
(22 a 25 de janeiro de 2019)
Comitiva Oficial: 10 integrantes mais 3 intérpretes (publicada no Diário Oficial da União de 21 de Janeiro de 2019)
– Paulo Guedes, ministro da Economia
– Ernesto Araújo, ministro das Relações Exteriores
– Sérgio Moro, Ministro da Justiça
– Gustavo Bebianno, secretário-geral da Presidência
– Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional
– Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), deputado federal
– Alexandre Parola, representante do Brasil na Organização Mundial do Comércio
– Mario Vilalva (sem ônus), presidente da Apex Brasil
– Marcos Troyjo, secretário especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais do Ministério da Economia
– Roberto Castelo Branco Coelho de Souza –  e o secretário de Articulação Institucional e Cidadania Ambiental do Ministério do Meio Ambiente

Estados Unidos, Washington, D.C.
(17 a 20 de março de 2019)
Comitiva oficial: 10 integrantes e dois intérpretes (publicada no DOU de 20/03/2019)
– Ernesto Araújo, ministro de Relações Exteriores
– Sérgio Moro, ministro da Justiça
– Paulo Guedes, ministro da Economia
– Tereza Cristina Dias, ministra da Agricultura,
– Bento Costa, ministro das Minas e Energia
– Marcos Pontes, ministro da Ciência e Tecnologia
– Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional
– Nelsinho Trad (PSD-MS), presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado
– Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados (sem ônus para o Executivo)
– Sergio Amaral, embaixador nos EUA (sem ônus)
– Marcos Prado Troyjo, Secretário Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais do Ministério da Economia (sem ônus)

Chile, Santiago
(21 a 23 de março de 2019)
Comitiva Oficial: 9 integrantes e um intérprete (estabelecida por decreto de 25/03/2019, Diário Oficial da União)
– Ernesto Araújo, ministro das Relações Exteriores
– Wagner de Campos Rosário, chefe da Controladoria-Geral da União
– Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional
– Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados
– Helio Fernando Barbosa Lopes, o “Hélio Bolsonaro”, deputado federal
– Carlos Sérgio Sobral Duarte, embaixador do Brasil em Santiago (sem ônus)
– Mario Vilalva, presidente da Apex Brasil (sem ônus)
– Luiz Antonio Nabhan Garcia, secretário Especial de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
– André Pepitone da Nóbrega, diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (sem ônus para a Presidência da República)

Israel (Tel Aviv e Jerusalém)
(30 de março a 2 de abril de 2019)
Comitiva oficial: 13 integrantes e 2 intérpretes
(segundo Decreto de 5/4/2019 no DOU)
– Ernesto Araújo, ministro das Relações Exteriores
– Bento Costa, ministro das Minas e Energia
– Marcos Pontes, ministro da Ciência e Tecnologia
– Augusto Heleno, chefe do gabinete de Segurança Institucional
– Raul Botelho, chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas
– Chico Rodrigues (DEM-RR), senador
– Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), senador
– Soraya Thronicke (PSL-MS), senadora
– Bia Kicis, deputada federal (PSL-DF)
– Paulo Cesar Meira de Vasconcellos, embaixador do Brasil no Estado de Israel
– Jorge Seif Filho, secretário de Aquicultura e Pesca do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
– Maurício Leite Valeixo, diretor-geral do Departamento de Polícia Federal
– Alfredo Alexandre de Menezes Júnior, superintendente da Zona Franca de Manaus
leia mais sobre a viagem a Israel:
Escritório em Jerusalém ameaça comércio com Oriente Médio

Estados Unidos, Dallas
(15 e 16 de maio de 2019)

Por PT no Senado

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