Silvio Melgarejo: Sem quadros, não funcionam diretórios, nem núcleos

Continuação do texto “Porque fracassou a política de núcleos de base”

autoria desconhecida/CSBH
Tribuna de Debates do PT

Dona Marisa e Lula no Encontro Nacional do PT no Anhembi (São Paulo-SP, 31 mai./3 jun. 1990).

A resolução do 5º Encontro diz que se queremos “dirigir a luta pelo socialismo (…) precisamos de um partido organizado e militante”, de “um partido que seja de massas porque organizará milhares, centenas de milhares ou até milhões de trabalhadores ativos nos movimentos sociais”, e que a construção de um partido assim “implica a necessidade de quadros organizadores”. A resolução reconhece que a criação e manutenção dos núcleos de base depende da existência de quadros organizadores e políticos ao dizer, como vimos no texto anterior, que a falta destes quadros era causa da insuficiência e precariedade dos núcleos. Mas o que são quadros? E onde eles estão?

O QUE SÃO QUADROS

Se militante é o filiado em ação, quadro é o militante que se distingue entre os demais militantes por uma superior disposição e disponibilidade para servir ao partido e por uma superior capacidade de liderança, de elaboração política, de concepção de projetos e realização de tarefas. Os quadros, como todos os demais militantes, distinguem-se uns dos outros por seus talentos e vocações, por seus conhecimentos e habilidades, e por suas disposições e disponibilidades. O trabalho organizativo do partido consiste exatamente em identificar estas características e dar a cada um a missão que está mais apto a realizar.

QUADROS POLÍTICOS E QUADROS ADMINISTRATIVOS

O bom funcionamento do partido consiste na correta realização de tarefas políticas e administrativas. Toda instância partidária, seja diretório ou núcleo de base, precisa tanto de quadros políticos quanto de quadros administrativos para realizá-las. O quadro político concebe a política, ou seja, propõe ao partido objetivos e as ações destinadas a alcança-los. Já o quadro administrativo cuida dos meios, dos aspectos práticos, da obtenção e manejo dos recursos necessários para a implementação das ações definidas. O quadro administrativo é aquele militante que se mostra mais capaz de realizar as tarefas relacionadas à montagem e manutenção da infraestrutura do partido, enquanto o quadro político é aquele outro militante que mostra maior capacidade para realizar a política, dirigindo a infraestrutura partidária. O quadro administrativo organiza a base. O quadro político lidera. Onde falta o quadro político, a ação partidária se inviabiliza por falta de motivação. Mas onde falta o quadro administrativo, a ação partidária se inviabiliza por falta de meios.

SEM QUADROS, NÃO FUNCIONAM DIRETÓRIOS, NEM NÚCLEOS

Os quadros são os construtores e operadores do partido. Sem eles, não há diretório e não há núcleo que consiga ter uma existência relevante, cumprindo adequadamente as importantes funções que lhes são inerentes. Não se constroem diretórios, não se constroem núcleos e não se consegue garantir a estas instâncias um funcionamento que as torne politicamente produtivas se não houver quadros políticos e administrativos dedicados ao trabalho cotidiano em cada uma delas. Sem quadros, nada se constrói e nada funciona no partido.

QUADROS DIRIGENTES E QUADROS DE BASE

Todo membro de diretório deve ser um quadro. Mas nem todo quadro será membro de diretório, porque, felizmente, há mais quadros num partido de massas do que cargos nos diretórios. A maioria dos quadros está na base do partido e é com eles que os dirigentes devem trabalhar na construção de cada instância e na garantia do funcionamento de todas, que é a condição primordial para a realização correta e plena da política do partido. Mas para trabalhar com os quadros de base, os dirigentes precisam antes identificá-los e estabelecer com eles uma relação de parceria e confiança.

COMO IDENTIFICAR QUADROS DE BASE

O quadro de base só se revela na ação partidária e isso quem tem que promover é a própria direção do partido. A ação metódica e sistemática, tanto política quanto administrativa, dos quadros dirigentes sobre suas bases, estimulando-as, pelo exemplo e pelo chamamento constante, à participação, é a única maneira que existe de provocar a movimentação dos filiados, observar suas iniciativas e desempenhos e identificar as características que cada um revela. Sem oportunidades e estímulos permanentes à participação, não há militância partidária. E sem militância partidária, não há condições para que se revelem novos quadros, porque todo quadro nasce da militância de base. Por isso, a maior e mais importante missão dos dirigentes é exatamente criar as condições para a emergência de novos quadros de base, principalmente de quadros jovens, que revitalizem permanentemente o partido com seu vigor e dinamismo e que possam se constituir como alternativas para a renovação da composição da sua cadeia de comando.

Por Silvio Melgarejo, professor de música, filiado de base do Rio de Janeiro, para a Tribuna de Debates do 6º Congresso. Saiba como participar.

ATENÇÃO: ideias e opiniões emitidas nos artigos da Tribuna de Debates do PT são de exclusiva responsabilidade dos autores, não representando oficialmente a visão do Partido dos Trabalhadores

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