Sob o peso de 50 mil mortes, Bolsonaro ameaça “chutar pau da barraca”
As novas ameaças retóricas de Bolsonaro acontecem às vésperas do país atingir o número de 50 mil óbitos e 1 milhão de contaminados. O número de mortos é igual ao de soldados brasileiros que perderam a vida na Guerra do Paraguai, entre 1864 e 1870. É também 100 vezes maior do que o número de pracinhas combatentes mortos na Segunda Guerra Mundial, na luta contra o nazismo e o fascismo.
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Acuado, o presidente Jair Bolsonaro voltou a fazer ameaças à oposição, à democracia e à sociedade brasileira. Na terça-feira, 16, postou uma sequência de tuítes dizendo que tomaria “todas as medidas legais possíveis para proteger a Constituição e a liberdade dos brasileiros”. Hoje pela manhã, no cercadinho do Palácio, afirmou que “está chegando a hora de tudo ser colocado no devido lugar”. Em sua manifestação, sugeriu “chutar o pau da barraca”.
A fala de Bolsonaro seguiu um script planejado para tentar tirá-lo da defensiva. Na segunda-feira, o filho Carlos Bolsonaro “baixou” em Brasília, segundo a imprensa, em socorro ao pai. Nesta quarta-feira, o “texto” de Bolsonaro veio em resposta à provocação de um mulher se dizendo “ativista conservadora”. Ela afirmou que Bolsonaro não conseguia governar “por causa da interferência de outros Poderes e da esquerda”. A conversa foi devidamente gravada e divulgada por apoiadores nas redes sociais. A imprensa não teve acesso ao local.
Bolsonaro aproveitou o momento para reafirmar as ameaças feitas no dia anterior, em seu perfil do Twitter. “Eu não vou ser o primeiro a chutar o pau da barraca. Eles estão abusando. Isso está (a) olhos vistos. O ocorrido no dia de ontem, no dia de hoje, quebrando sigilo de parlamentares, não tem história nenhuma visto numa democracia por mais frágil que ela seja. Então, está chegando a hora de tudo ser colocado no devido lugar”, afirmou.
Genocídio sem precedentes
As novas ameaças retóricas de Bolsonaro acontecem às vésperas do país atingir o número de 50 mil óbitos e 1 milhão de contaminados. O número de mortos é igual ao de soldados brasileiros que perderam a vida na Guerra do Paraguai, entre 1864 e 1870. É também 100 vezes maior do que o número de pracinhas combatentes mortos na Segunda Guerra Mundial, na luta contra o nazismo e o fascismo.
“Eu considero Bolsonaro responsável pelo patamar de mortes em que estamos”, denunciou o professor Fernando Haddad. “Em agosto, segundo estudos, o Brasil pode inclusive superar o número dos Estados Unidos”, alertou. “Podemos ter 100 mil mortes se ele continuar sabotando as ações dos governos estaduais contra a pandemia”, advertiu Haddad
De outro lado, a reação expressa o temor que o inquérito aberto pelo STF chegue ao próprio governo. Uma das líderes de suas “bases”, Sara Winter, como disse o próprio Bolsonaro, já foi presa por atividades violentas. Outro ativista preso foi Renan Sena, ex-funcionário terceirizado do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, sugerindo o uso indevido da máquina pública.
Ainda, além da inoperância no combate à pandemia, pesa sobre o governo a completa incapacidade diante da crise econômica. A falência da política neoliberal aprofunda o isolamento de Bolsonaro, sem precedentes na história. Para o jornal Financial Times, a crise econômica brasileira está sendo agravada pela omissão do governo no combate à pandemia. “A paralisia política de Jair Bolsonaro prejudica a resposta à pandemia que atingiu duramente o país”’, opinou o jornal.