Território fértil para fake news, YouTube endurece combate nos EUA. E no Brasil?

YouTube anunciou medidas para conter vídeos do QAnon às vésperas das eleições nos EUA. Decisivo na ascensão da extrema-direita, YouTube não demonstra mesma rigidez aqui

Como já vimos em 2018, as estratégias das redes de mentiras norte-americanas logo chegam à extrema-direita brasileira. Por isso, faltando pouco menos de um mês para o primeiro turno das eleições municipais, é bom estarmos de olho no que acontece nas eleições dos EUA, também em novembro.

Preocupado com a potencial escalada de violência causada por fake news espalhadas nos Estados Unidos, o YouTube anunciou na última quinta (15) medidas mais duras para conter seguidores da teoria da conspiração QAnon. Contamos aqui um pouco mais sobre o QAnon, que se baseia na falsa crença de que políticos e celebridades estão envolvidos com uma rede de pedofilia e satanismo.

Em 2019, o próprio YouTube tirou do ar dezenas de milhares de vídeos do QAnon que negavam a existência de eventos como o Holocausto. Já em 2020, conteúdos do QAnon foram retirados por mentiras a respeito do novo coronavírus.

As medidas anunciadas dessa vez soam, contudo, vagas, proibindo conteúdos que sustentem teorias da conspiração que incitam o uso de violência. Facebook e Twitter, por exemplo, foram mais rigorosos com o QAnon.

No Brasil, um estudo do Reuters Institute, mostra que a preocupação com a circulação de desinformação no YouTube não é tão grande quanto em outras redes sociais. Apenas 7% dos pesquisados estão preocupados com isso, enquanto 24% preocupam-se com Facebook e 35%, com o WhatsApp.

Mas é bom abrir o olho. Na semana passada, o YouTube excluiu um vídeo da Funag, fundação ligada ao Ministério das Relações Exteriores. A peça de desinformação fala em “nocividade do uso de máscaras” contra Covid-19, medida recomendada pela Organização Mundial de Saúde. Vídeos do mesmo canal com críticas ao isolamento social – outra medida fundamental no combate à pandemia – seguem no ar, entretanto.

No ano passado, o The Intercept Brasil mostrou que o YouTube foi crucial na eleição de Bolsonaro. Metade dos dez canais que mais cresceram no YouTube Brasil durante as eleições de 2018 eram dedicados a promover Bolsonaro e ideias de extrema-direita. Alguns deles, aparecem com frequência em nosso monitoramento de fake news.

Esse crescimento está muito ligado ao algoritmo da plataforma que recomenda vídeos em alta e similares. Por isso, o YouTube decidiu banir canais que inflam seus números de audiência e priorizar entre as recomendações vídeos de fontes classificadas como confiáveis – veículos tradicionais de imprensa, por exemplo.

Nas Eleições norte-americanas, o YouTube ainda removeu conteúdos que enganavam o espectador sobre locais e datas de votação e sobre candidatos elegíveis, além de passar a fornecer as informações corretas sobre como votar por correio (opção permitida no país). E por aqui, onde se proliferam canais especialistas em desinformar o eleitor, o que será feito?

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