Um ano de pandemia no Brasil
Mulheres petistas relatam a luta contra a pandemia e o governo Bolsonaro.
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No dia 11 de março de 2020 a OMS declarou oficialmente que estávamos vivendo uma pandemia do novo Corona vírus. De lá pra cá mais de um ano se passou e mais de 270 mil vidas foram perdidas no Brasil.
Falamos com mulheres petistas que enfrentaram a COVID-19 na linha de frente e outras que já foram vacinadas, sobre como foi o último ano em suas vidas e o que elas esperam para o futuro desde sua vacinação.
A linha de frente e seus sacrifícios
Juliana Chagas, enfermeira curitibana, relata que os primeiros dias da pandemia foram de muitas dúvidas e incertezas sobre as formas de contágio, equipamentos de proteção adequados, e manejo assistencial, além da nova rotina com muitos fluxos e plantões.
“Os profissionais da linha de frente sempre estiveram preocupados tanto com a assistência adequada ao paciente, pautado pelo rigor científico, como com a segurança dos trabalhadores da área da saúde. Contudo, o nosso sistema de saúde pública não estava preparado para lidar com essa situação. A PEC do teto dos gastos, o sucateamento do SUS, uma gestão neoliberal que vê a saúde como gasto e não como investimento, tornou o sistema ineficaz. Faltava leito, respirador, profissionais, EPIs (equipamentos de proteção individual), protocolo de atendimento, medicação e muito mais”, relata Juliana.
Cristina Quilombola, mulher negra e militante do movimento quilombola do Ceará e nacional (CEQUIRCE e CONAQ), graduanda em pedagogia pela UNILAB – Redenção, conta o descaso do governo federal com os povos originários durante a pandemia.
“Hoje estamos mais do que nunca nessa resistência de afirmação dos nossos direitos e principalmente lutando pelo SUS. Não temos tido assistência dos governos a anos e principalmente neste momento tão difícil que é a pandemia. O maior descaso é a negação dos direitos e do reconhecimento ancestral de nosso povo. Hoje não estamos inseridos no Plano de Vacinação do governo e muitos estados também não aderiram à priorização aos nossos povos quilombolas”, conta Cristina Quilombola
O futuro é incerto, mas a certeza de que para recuperarmos não só a saúde, mas a economia e a felicidade do nosso povo transpassa também pela certeza da luta contra o desgoverno Bolsonaro e toda a sua corja de ministro que parecem, por diversas vezes, estarem contra o povo brasileiro.
“E como mulher quilombola, negra e lésbica, estou vacinada, mas lutarei para que todo o meu povo e as mulheres dos Quilombos e nossos parentes indígenas também possam receber a vacina. O direito e de todos, todas e todes. Venceremos mais esta batalha e tiraremos Bolsonaro do poder”, afirma Cristina Quilombola.
“Temos pela frente um futuro que será de reconstrução. Retomar os avanços de um tempo em que tínhamos um governo progressista e que o povo importava mais que o lucro. Teremos de correr atrás para reconstruir relações internacionais abaladas pela xenofobia e assim elevar nossa economia, reverter o desemprego, investir na Saúde e na Educação Públicas, avançar na área de direitos humanos retomando as políticas de direitos das mulheres, da população LGBTQIA+, de combate ao racismo e promoção da igualdade, sair novamente do mapa da fome, e arrancar deste país o obscurantismo que esse governo revelou”, espera Juliana Chagas.
Mulheres vacinadas e a luta que ainda não acabou
As mulheres são a maioria das vacinadas no Brasil por serem maioria das profissionais da linha de frente de combate a pandemia, mas os números gerais ainda são muito baixos. Menos de 3% da população foi vacinada e o governo federal insiste em negar a necessidade de um Plano de Vacinação que realmente enfrente o crescimento exponencial dos casos no país.
Luisa Canuto, liderança do movimento indígena do Ceará, lutou pela vacinação prioritária dos povos tradicionais, foi vacinada, mas ainda teme pela população que não se enquadra nos grupos prioritários.
“Estou vacinada, foi a maior emoção da minha vida, muita gratidão, principalmente, a Deus. Mas, e as nossas crianças, e a nossa juventude? Por mais que a vacina tenha chegado até nós, não temos o direito de faltar com respeito com nossos semelhantes, é preciso que a vacina chegue a todos e todas”, diz Luisa.
Mas, temos ainda as mulheres que seguem em isolamento social há mais de um ano, pela falta de uma política nacional de combate real a COVID-19. Esse isolamento contínuo afeta não apenas o corpo, mas o psicológico de nossas companheiras que nem sempre tem conseguido lidar bem com a situação.
Helena Barros Heluy, ex-vereadora de São Luís e ex-deputada do Maranhão, mesmo vacinada, segue em isolamento desde março de 2020.
“Me sinto totalmente tomada pelo medo, ansiedade e stress. Meu emocional está zero desde o começo da pandemia. Meu combate tem sido de intransigente uso da máscara, do lavar sempre as mãos com bastante sabão e água, além do álcool Gel e nenhuma reunião presencial. Já tomei a 1° dose da vacina, no dia 03 de fevereiro, com a 2° marcada para o dia 28 de abril”, relata Helena.
A vacinação foi iniciada no dia 17 de janeiro e vem caminhando a passos lentos. O Brasil, que sempre foi um exemplo em campanhas de vacinação graças ao SUS, hoje é usado para exemplificar o que não fazer durante a pandemia.
Cecília Amin, integrante da Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Luís do Maranhão e militante do PT, já recebeu a segunda dose da vacina, mas continua seguindo as medidas de proteção para fortalecer a luta contra a pandemia. Ela conta que continua vigilante e respeitando a vida de todos que cruzam seu caminho.
“Receber a primeira dose da vacina foi um momento de emoção. É como se tivesse cuidando, com mais proteção, da minha vida. Fiz agradecimentos fortes à enfermeira e lamentei tantas vidas perdidas porque o Brasil atrasou a compra de vacinas. Senti, naquele momento, a dor de famílias que perderam seus entes queridos, de amigos meus que se foram e, principalmente, o quanto dói termos um presidente insensível e indiferente ao valor da vida”, relata Cecília.
As mulheres seguem em campanha constante pela vida, pela vacina para todos e todas e contra os desmandos do governo Bolsonaro. Fomos linha de frente contra esse vírus, assim como somos linha de frente única e solo na maioria dos lares do país.
Cada vida perdida pelo descaso e irresponsabilidade de Bolsonaro afeta diretamente uma mulher, que quando não é a vítima, perde um filho, um pai, um marido, um irmão. Seguimos em luta, distantes, mas unidas.
Matéria feita em homenagem às 278.229 vidas perdidas no último ano no Brasil por COVID-19.
Nádia Garcia, Agência Todas.