Bancários do Santander repudiam carta contra a reeleição de Dilma

O Brasil é responsável por 25% do lucro mundial do banco espanhol, segundo informações da Contraf-CUT

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O acionista Wiedecker e a presidenta do Seeb-SP, Juvandia Moreira, reprovaram a postura do Santander

Enviada a clientes com renda mensal acima de 10 mil reais, a carta do banco Santander contra a reeleição da presidenta Dilma Rousseff foi alvo de críticas durante a 16ª Conferência Nacional dos Bancários, realizada no fim de semana  em Atibaia (SP). Cerca de 600 trabalhadores reunidos no evento aprovaram uma moção de repúdio contra o banco espanhol.

O texto, divulgado no mês de julho, avisa aos clientes mais ricos que se Dilma subir nas pesquisas (ela lidera em todos os cenários, atualmente), os juros e o dólar irão subir consideravelmente. “Difícil saber até quando vai durar esse cenário e qual será o desdobramento final de uma queda ainda maior de Dilma Rousseff nas pesquisas. Se a presidente se estabilizar ou voltar a subir nas pesquisas, um cenário de reversão pode surgir”, diz o texto cujo título é “Você e seu dinheiro”.

santanderA intenção do impresso é tão explícita  que relaciona as altas recentes da bolsa de valores a uma hipotética queda de Dilma Rousseff nas pesquisas de opinião. No domingo (27), o presidente mundial do banco, Emílio Botín, disse que a recomendação “não é do banco” e culpou um analista por enviar o texto sem a “autorização” dos seus superiores.

Hoje, ao falar na sabatina feita pela Folha de S.Paulo, no Palácio da Alvorada, a presidenta Dilma classificou de “lamentável e inadmissível” a ação do Santander. Segundo ela, o pedido de desculpas do banco foi apenas “protocolar”.

O funcionário do Santander e acionista minoritário do banco, Ademir Wiedecker, não acredita que o texto tenha passado sem autorização de algum diretor. No Santander, existem 46 diretores executivos que irão receber só neste ano, cerca de R$ 5,7 milhões, de acordo com Wiedecker.

De acordo com o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Carlos Cordeiro, o “terrorismo” do banco ataca a soberania do País e interfere de forma irresponsável na democracia.

Cordeiro critica, ainda, a falta de compromisso do banco com o País: “O Brasil, é responsável por 25% do lucro mundial do banco”, afirma. Segundo ele, isso mostra, também, a irresponsabilidade da instituição com seus clientes e, principalmente, com os funcionários.

Carlos Cordeiro informa que os bancários do Santander, em todo o País, decidiram realizar, nos próximos dias, um dia de luta contra o terrorismo do banco. Além disso, a Contraf-CUT irá entrar com uma representação na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que tem entre suas signatárias a Espanha, onde está sediado o Santander.

“A categoria está indignada e a resposta será dada com muita mobilização” finalizou Cordeiro.

Santander Bank General Meeting 2014

Presidente mundial do Santander, Emílio Botín, receberá reclamação formal do Sindicato dos Bancários de SP

O Sindicato dos Bancários de São Paulo Osasco e Região também fará uma reclamação formal ao presidente do banco espanhol, Emílio Botín, contra a gestão do Santander no Brasil. O responsável no País e, portanto, pela nota enviada aos clientes, é Jesús Zabalza. De acordo com nota do sindicato, o banco não pode, mesmo que tenha preferência eleitoral, praticar especulação, agredir a imagem do país e pôr em dúvida a estabilidade econômica do Brasil.

Segundo a presidenta do sindicato, Juvandia Moreira, essa não é a primeira vez que o banco espanhol recorre a esse tipo de expediente. Na época do ABN Amro Bank, que foi incorporado pelo Santander, o ex-presidente do Banco Fabio Barbosa demitiu o economista-chefe e pediu desculpas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula Silva, por causa de incidente parecido.

Só no 1º trimestre deste ano, o banco lucrou, no Brasil, 1,4 bilhão. Em contrapartida, o banco demitiu, entre março de 2013 e março de 2014, 4.833 funcionários. O lucro do Santander no Brasil representa 25% do seu faturamento mundial e da América latina, 40%.

Ainda assim, o banco espanhol ocupou pela quinta vez, no mês de junho, o 1º lugar no ranking de reclamações do Banco Central (BC). Entre as principais, estão a realização de serviços não autorizados, a prestação de serviço de conta-salário irregular e a concessão de crédito sem documentação adequada.

A divulgação do texto do Santander enviado aos clientes ricos repercutiu negativamente nas redes sociais e na mídia. Diversas manifestações pediram o fechamento de contas no banco e a transferência dos titulares para bancos públicos, como a Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil e Banco do Nordeste.

Procurada pela Agência PT, a assessoria de imprensa do Santander não retornou as ligações até o fechamento desta reportagem.

Confira algumas declarações de internautas no Twitter sobre o assunto:

Por Marcos Paulo Lima, da Agência PT de Notícias

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