“A gente quer exportar conhecimento”, diz Lula em debate da Apeoesp

Ao final de um ano no qual a educação pública sofreu severos ataques no Brasil, como corte de verbas, investidas contra à autonomia universitária e crise nas Universidades Estaduais, o ex-presidente Lula reforçou mais uma vez a importância que dá ao tema durante o encontro que reuniu professores da Apeoesp (Associação dos Professores do Estado de São Paulo), em Piracicaba, nesta sexta-feira (15). Lula defendeu o investimento em educação como uma das principais maneiras do Brasil garantir sua soberania.

Junto com Lula, participaram os ex-ministros da Educação Fernando Haddad, Aloísio Mercadante e Renato Janine Ribeiro. Também estiveram presentes o presidente da CUT de São Paulo, Douglas Rizzo, o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação, Heleno Araújo, e a  presidenta da Apeoesp, Maria Izabel Noronha, a Bebel. O encontro teve como tema central o Desmonte da Educação, Ciência e Tecnologia no Brasil.

“Se o Brasil não investir em educação, se perdermos o século 21, não teremos nenhuma competitividade para produzir produtos de alto valor agregado. Se não tivermos Ciência e Tecnologia, se não tivermos muito médico, engenheiro, vamos continuar exportando soja e minério de ferro”, declarou o ex-presidente em sua fala.

Lula reforçou que a educação é o caminho para que o Brasil deixe de ser um país que produz apenas commodities.  “A gente não quer apenas ser exportador de commodity, a gente quer ser exportador de conhecimento e isso só acontece se a gente investir em educação. Se você investe 1 bilhão de reais para construir uma fábrica, é bonito, mas ela pode quebrar. Quando você investe no jovem para fazer universidade, não tem jeito de ir à falência, porque o conhecimento é para a vida inteira, esse jovem vai prestar serviços inestimáveis ao Brasil”, acrescentou.

O ex-presidente explica que não houve nenhum país na história que se desenvolveu social e economicamente sem investir em educação. Por isso essa é uma área tão estratégia para o Brasil.

“É preciso explicar por que o Brasil foi o último país a abolir a escravidão, o último a ser independente e o último país onde a mulher conquistou voto. E por que o Brasil foi o último país da América do Sul a ter universidade”, falou Lula. “A resposta é simples, a elite brasileira partia do pressuposto de que o povo brasileiro não precisava estudar. Os filhos da elite poderiam viajar para outro país estudar e filho de pobre tinha que trabalhar cortando cana ou como pedreiro.”

Lula destacou que, apesar de não ter diploma universitário, foi o presidente que mais abriu universidades no País. “Eu tinha noção de quem eu representava e de onde eu sai, e pra onde eu ia voltar, por isso tenho a tristeza, depois de tanta gente com diploma, que tenha sido eu, um homem com 4 anos do primário e diploma do Senai, a passar na História como o homem que mais fez universidade nesse país e mais colocou jovens na universidade.”

O ex-presidente também aproveitou o encontro para afirmar que é preciso defender a democracia. “Eles não querem que a gente levante a cabeça, mas o que eles não sabem é que um pernambucano que nasceu em Garanhuns e não morreu de fome não tem medo de cara feia nesse país, eles tem que aprender que a democracia é alternância de poder. Eu perdi três eleições e vocês não me viram reclamar.”

Desmonte na educação compromete futuro do Brasil

O ex-ministro e ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, afirmou que “muita coisa está em risco na educação, muita coisa está em jogo. Enquanto Lula colocou 2% do PIB a mais em Educação e desfez uma maldade do governo FHC chamada DRU, que desvinculou as receitas da união para educação.”

Haddad alerta para o desmonte da educação promovido pelo governo Temer, em parceria com o PSDB. “Não só o Temer desvinculou as receitas da união de novo, como fez isso com estados e municípios, e com apoio do PSDB. Aprovaram uma PEC do teto que congela por 20 anos os gastos do governo federal. Como vamos continuar expandido as universidades, os institutos federais, como vamos espandir o Prouni, creche, como vamos qualificar o ensino fundamental e médio, congelando por 20 anos?”

O ex-ministro da educação destacou que, antes de Lula, o que imperava no Brasil era o paradigma do neoliberalismo. Nele, costumava-se opor a educação básica à educação superior, como se para melhorar uma tivesse que piorar a outra. Segundo, Haddad, Lula mostrou que se quer levar a sério a educação tem que investir em todos os níveis.

Haddad também reiterou que 2018 será um ano chave para o País. “Ou vamos recuperar nosso país e recolocá-lo no trilho do desenvolvimento humano, ou vamos ver o aprofundamento desse processo que está aí. Democracia você pode ganhar ou perder, ter voto ou não ter, mas não se pode abdicar de convicções, de princípios e projetos. Nós queremos igualdade, tolerância e desenvolvimento para todos.”

É preciso defender o nosso legado de inclusão educacional e social

Aloízio Mercadante destacou que em 13 anos de governo do PT o número de crianças na educação infantil dobrou. “As crianças pobres, com pais não letrados, têm o vocabulário que é um terço do das famílias letradas e, se não vão para a creche, terão dificuldade para se alfabetizar. Mas para fazer isso tivemos que mudar a legislação.”

Ele ainda destacou que “o que os pobres precisam é de oportunidade na educação pública, não retrocesso. Em 2002, a campanha deles era do medo, mas a esperança de Lula derrotou o medo. Hoje a campanha deles é do ódio, porque não tem mais o que oferecer. Após dois anos de golpe, 23 milhões de brasileiros voltaram para a pobreza.”

A presidenta da Apeopesp, Bebel, afirmou que “temos um legado de 13 anos de inclusão educacional e social que foi feito nesse País. Destaco sobretudo o piso salarial nacional, que, aliás, obtivemos uma vitória gigantesca no estado de São Paulo. O piso salarial nacional obrigou o governo do estado de São Paulo a pagar o piso por uma lei criada por Lula em 2008.”

Ela ainda destacou que “temos que entender que educação não é um ponto, é um projeto de escola, de estado e de sociedade. Quando você tem um projeto de inclusão você tem educação inclusiva.”

Renato Janine Ribeiro criticou o retrocesso promovido por Temer em praticamente todos os setores da sociedade, em especial na educação.  “Esse governo está fazendo o possível para retroceder em tudo, ao invés do mais médicos, está lançando o menos médicos. Quer impedir a criação de novas faculdades de medicina.”

Segundo Janine, “nos últimos anos o Brasil conseguiu ter mais vagas no interior do que nas capitais e com isso que eles querem acabar. Também vivemos um clima de terror nas universidades públicas. O reitor da Universidade Federal de Santa Catarina foi preso e levado ao suicídio. O reitor da Universidade Federal de Minas Gerais foi preso com um aparato bélico.”

O presidente do PT de São Paulo, Luiz Marinho, afirmou que “é preciso que a gente faça uma grande avaliação sobre o estado de São Paulo. Como que o estado de São Paulo, que é o mais rico da federação, na educação ainda tem problemas como as escolas sucateadas, evasão escolar. Porque um estado rico não cumpre o piso nacional, não cumpre o estatuto do magistério.”

Heleno Araújo da CNTE destacou que a entidade tirou deliberação defendendo que eleição sem lula é fraude. “Com o presidente Lula eleito nós ampliamos e garantimos financiamento para toda a educação básica em todas as suas modalidades”.

“Foi com esse presidente que a Constituição foi alterada e garantimos mais direitos para a população de 4 a 7 anos, mais recurso para a educação nesse país, desde a básica até a superior. Agora com um golpe contra esse país e a classe trabalhadora, impõem a Emenda Constitucional 95 que acaba com o financiamento da educação”, acrescentou.

Confira na íntegra como foi o debate:

Por Pedro Sibahi, da Redação da Agência PT de notícias