Cantareira opera em déficit desde 2013
A diferença entre a entrada e saída de água é de ao menos 5,8 mil litros por segundo há 15 meses, o que gerou uma perda do equivalente a 66% da capacidade total do reservatório
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Há 15 meses, o governo de Geraldo Alckmin retira mais água do Cantareira do que a quantidade que o sistema recebe de seus afluentes e da chuva. A diferença é de ao menos 5,8 mil litros por segundo, de acordo com o Grupo Técnico de Assessoramento Para Gestão do Sistema Cantareira (Gtag). Desde maio de 2013, a média entrada está abaixo de 14,2 mil litros por segundo e a retirada está acima da média de 20 mil litros por segundo.
Com o déficit contínuo, o prejuízo chegou a 647,4 bilhões de litros ao fim de julho, o equivalente a 66% da capacidade útil ou mais de quatro meses de abastecimento para a Grande São Paulo. Apenas no mês de setembro do ano passado, quando finda o período de estiagem, foi registrado o saldo negativo de 69,2 bilhões de litros de água.
Apesar de a crise do Cantareira ter sido decretada apenas no final de janeiro deste ano, há dois anos, as afluências do sistema começaram a apresentar níveis similares a 1953 e 1954, anos com os piores registros históricos.
O uso do banco de águas da Sabesp, estoque permite que a concessionária retire a mais a parcela de água não utilizada no mês anterior, agravou a situação. “Tendo como referência a chamada Curva de Aversão ao Risco, fica estabelecida que a Sabesp pode retirar 31 mil litros por segundo de água, se os níveis estiveram acima ou em cima da curva”, explica o professor de Engenharia Hidráulica da Universidade de São Paulo (USP), Rubem La Laina Porto.
O banco só pode ser usado em condições normais, o que não é o caso desde janeiro. A retirada de água dos reservatórios chegou a superar em mais de 6% a vazão máxima estabelecida na outorga de 2004. “Foi um erro usar esse banco de águas, só agravou a situação. Em janeiro desse ano, o nível dos reservatórios estava com apenas 27% da capacidade e as chuvas abaixo da média”, explica o professor Antônio Carlos Zuffo, do Departamento de Recursos Hídricos da Universidade de Campinas (Unicamp).
Em junho do ano passado, Zuffo já havia alertado a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), sobre a conduta de risco da Sabesp em relação às retiradas. “Falei que a gestão do Cantareira era de alto risco e que quando houvesse uma seca o sistema iria estourar, pois estavam usando mais água do que o sistema podia regularizar. Um ano depois, está aí a prova”, diz.
Mesmo com a crise anunciada, a única medida tomada até o momento pela Sabesp foi a redução da vazão para 19,7 m³ e, ainda assim, “por determinação da Agência Nacional de Águas”, como lembra Zuffo. Nenhuma obra para armazenamento foi iniciada até o momento e o governador Geraldo Alckmin descartou a possibilidade de racionamento, prática que segundo o professor já está sendo aplicada. “O consumo feito hoje corresponde à metade de janeiro. Isso já é um racionamento”, explica.
Por Camila Denes, da Agência PT de Notícias