A consciência negra e algumas reflexões, por Jefferson Lima

É cada vez mais gritante a necessidade e a importância da temática da consciência negra no Brasil, tendo em vista as grandes mazelas e contradições socioeconômicas e culturais

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Jefferson Lima

O Dia da Consciência Negra é celebrado em nosso país no dia 20 de novembro. Essa data rememora a trajetória de Zumbi dos Palmares, quilombola que liderou a resistência do Quilombo dos Palmares contra os portugueses no século XVII. É uma data também para lembrar e combater o problema do racismo em nosso país e ampliar a luta antirracista.

A liderança de Zumbi Quilombo dos Palmares e sua resistência fizeram dele um grande símbolo da luta dos negros contra a escravidão no Brasil.

Para o 20 de novembro ser Dia Nacional da Consciência Negra, muita pesquisa histórica, reflexão, debate político, planejamento e ação coletiva foi necessária.

Apesar dos debates sobre os direitos do povo negro no dia 20, é preciso levantar pautas o ano todo sobre o tema e fazer um convite e um chamamento para a reflexão do passado, do presente e a construção de ações afirmativas para o futuro como prospecção e construção de um povo civilizado.

A consciência negra não é a pregação da supremacia negra em detrimento aos brancos e vice e versa, mas um convite extremamente necessário para o entendimento e compreensão dos problemas e complexidades que a escravidão trouxe ao Brasil. Problemas estes que atingem a economia, a ocupação política, o modo de produção, a mão de obra, a desigualdade e a formação de um povo como civilização e cultura.

No Brasil, de acordo com o Atlas da Violência, os negros representam 75,7% das vítimas de homicídio, também são os maiores alvos da violência policial, de acordo com o PENUD.

Assim, percebe-se que do mesmo modo em que no período da Monarquia o estado brasileiro institucionalizou o racismo escravizando, perseguindo, matando e expondo ao vexame em praças públicas os negros, nos dias atuais não é diferente, quando os poderes do estado, como o judiciário, legislativo e executivo, fecham os olhos para o racismo ou pouco fazem para combatê-lo.

Outra reflexão para uma consciência negra maior, se refere a ocupação de espaço na política. Embora representem mais da metade da população brasileira, pretos e pardos ocupam apenas um décimo das cadeiras no parlamento nacional

Nas eleições municipais que aconteceram no ano passado para prefeito e vereadores em Aracaju, somente três vereadores negros foram eleitos, ademais, é importante frisar que a câmara de vereadores de Aracaju conta com 24 cadeiras.

Já no âmbito nacional houve um aumento de quase 50% de candidatos negros eleitos e 47,8% de brancos, ou seja, pela primeira vez na história, os negros superaram a ocupação de vagas na política, totalizando 272 mil candidatos negros e 260,6 mil declarados brancos, conforme dados do TSE.

A ausência de negros na política brasileira é um fato perceptível e isso reflete em grande medida o acesso a recursos de campanha como dinheiro e tempo de televisão. Mas para além do resultado dessa deliberação, fica a questão: o Brasil precisa de mais negros na política.

É cada vez mais gritante a necessidade e a importância da temática da consciência negra no Brasil, tendo em vista as grandes mazelas e contradições socioeconômicas e culturais. O abismo econômico entre brancos e negros também persiste.

Dados do IBGE mostram essa grande desigualdade. Em 2012, início da série histórica do IBGE, o rendimento médio mensal dos brancos foi 57,3% maior que o dos negros. Em 2019, quase nada havia mudado: a população branca recebeu, em média, 56,6% a mais que a população negra. Os números também mostram que as pessoas negras ainda ocupam postos de trabalho mais precários. Os dados mais recentes, de 2015, revelam que os negros eram maioria em atividades braçais como cultivo de mandioca (85,9%), serviços domésticos (64,7%) e construção civil (63,9%).Por outro lado, eles são minoria em áreas que exigem maior qualificação como informática (31%), arquitetura e engenharia (26,9%) e em cargos de gestão empresarial (23,6%). Se a gente olhar os dados de grandes corporações, o porcentual de negros em cargos de liderança é ainda menor. Em algumas carreiras, a presença de pessoas negras é tão pequena que nem é possível mensurar.

Quando se fala em desemprego, o impacto recente da pandemia no mercado de trabalho fez com que a diferença da taxa de desemprego entre brancos e pretos aumentasse e atingisse seu maior nível desde 2012. Os setores onde está tendo a maior quantidade de perda de vagas, maior aumento de desemprego, são setores onde majoritariamente estão os negros. São setores com os piores salários. A população negra é maioria no Brasil e continua ganhando menos que os brancos, uma consequência do resquício da escravidão e da falta de política públicas.

A Consciência Negra fortalece a necessidade de juntar forças com os irmãos e irmãs em torno da causa de sua atuação – a negritude de sua pele – e de agir como um grupo a fim de se libertarem das correntes que os prendem.

A cada mês de novembro, celebramos e celebraremos Zumbi dos Palmares e seu legado de luta atualizado nos movimentos negros. Um mês especial, que serve para trazer a tona, os erros do passado, pensar o presente e planejar o futuro a fim de construir um país civilizado, onde o povo negro seja cada vez mais protagonista da sua própria história.

Jefferson Lima é professor, ex secretário nacional de Juventude do PT, suplente de vereador de Aracaju, militante do movimento negro e atual presidente do PT de Aracaju.

 

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