A importância das mulheres na conscientização sobre as mudanças climáticas

No Dia Nacional de Conscientização sobre as Mudanças Climáticas, entrevistamos lideranças femininas que abordam a importância das mulheres na contribuição da sustentabilidade e no combate à crise climática.

Você já parou para pensar que as mulheres também são importantes e têm o papel fundamental no enfrentamento à crise climática e na sustentabilidade do meio ambiente? Pois, é.

São as mulheres do campo e da cidade que lideram e promovem ações concretas para melhoria da qualidade de vida e de um ambiente mais sustentável: diversificam a renda; garantem a segurança alimentar; protegem a biodiversidade; defendem territórios, atuam na agroecologia e na economia solidária e do bem viver, entre outras atividades.

Segundo, Luiza Dulci, economista,  doutora em sociologia, e atua no Coletivo Agrário do PT e no Conselho Curador da Fundação Perseu Abramo, as mulheres, sobretudo, do campo das florestas e das águas exercem papel necessário na mitigação e adaptação aos efeitos das mudanças climáticas.

“Pois são justamente as mulheres as responsáveis pela maior parte da proteção das sementes crioulas, cultivo de plantas medicinais, produção de alimentos saudáveis nas hortas e quintais produtivos e o manejo de animais de pequeno porte, bem como as principais responsáveis pelo trabalho doméstico de cuidado e reprodução social”, disse.

Porém, a pesquisadora alerta sobre a condição de marginalidade condicionada às mulheres no sistema capitalista-patriarcal-colonial, que se manifesta no campo por meio da exclusão das mulheres do projeto político, econômico e tecnológico da Revolução Verde nos anos 1970 e do que hoje conhecemos como ‘agronegócio’. 

“As grandes monoculturas de soja, milho e outras commodities são, via de regra, de propriedade de homens. Na contramão dessa proposta, a agroecologia e as experiências de economia popular e solidária são, em grande parte, protagonizadas por mulheres – daí a frase: sem feminismo não há agroecologia”, afirma. 

Vale destacar que mesmo diante dessa contribuição, ainda são elas as mais desproporcionalmente afetadas pelas mudanças climáticas e as que mais morreram em desastres naturais. Essa vulnerabilidade é resultado de uma série de fatores sociais, econômicos e culturais. Para entender melhor só clicar nesta outra matéria.

O Fundo para a População das Nações Unidas (UNFPA) divulgou um estudo que evidenciou que as mulheres são um eixo central para combater as mudanças climáticas, por isso, uma das alternativas, são mulheres ocupando os espaços de poder para tomar decisões e formular políticas públicas específicas.

E hoje, 16 de março, é o Dia Nacional de Conscientização sobre as Mudanças Climáticas, e tem o objetivo de evidenciar a necessidade de urgência de mudarmos os nossos hábitos e incentivar o desenvolvimento sustentável. 

Por isso, entrevistamos lideranças femininas que abordam a importância das mulheres camponesas, indígenas, quilombolas, ribeirinhas e da cidade na contribuição da sustentabilidade e do combate à crise climática. 

Confira o que as lideranças femininas têm a dizer!

Pagú Rodrigues:

Indígena, socióloga formada pela USP, estudante de Direito, secretária  municipal de mulheres do PT de São Paulo e membra da Frente Ampla Democrático Socioambiental (FADS), explica que diante da crise ambiental, é fundamental falar da importância  da resistência secular da população indígena, sobretudo, as mulheres indígenas, que vem contribuído nas perspectivas de sustentabilidade e  produção para o freamento  da crise climática.

Temos enfrentado o modelo econômico, modelo de produção que na verdade é o modelo de morte, que decide cotidianamente quem vive ou quem morre. Desde o processo de colonização, a linha de frente são as mulheres indígenas, pois são as primeiras a serem atingidas pelo sistema do capital e patriarcal. Somos nós que preservamos a natureza, a luta que fazemos não é só de frear as consequências do agravamento climático, mas sim de rediscutir a questão do desenvolvimento, o modelo de financeirização do capital, pautar e resistir contra esse movimento de extrativista vigente no Brasil. Nosso conhecimento tradicional sobre a natureza e sobre o nosso território é a garantia maior de como a gente mantém a sustentabilidade e consegue de fato ter uma reprodução da vida pautado no bem viver, integrado com a natureza, sem explorar e subestimar”

Selma Dealdina:

Quilombola do Morro da Arara (São Mateus/ES).  Ativista,  assistente social, secretária Administrativa da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) e organizadora do livro Mulheres Quilombolas territórios de existências negras femininas e Educação Quilombola Territorialidades Saberes, destaca sobre o papel fundamental das mulheres quilombolas no enfrentamento da crise climática. 

 As nossas ações enquanto mulheres quilombolas, é cuidar do nosso território, da nossa terra que é ancestral, ocupadas pelos nosso povo, que vem fazendo essa manutenção e cuidado. Lidar com a natureza é lidar com o espírito, lidar com a alma, para além de ativismo, e sim de pessoas comprometidas e sabedoras do devido papel do compromisso com o clima e com o meio ambiente. Impossível falar de mudanças climáticas, sem falar sobre racismo ambiental. Mesmo vivendo numa sociedade capitalista, a gente  vive numa relação ancestral com os símbolos que nos trazem vida: ar, terra, principalmente, os  alimentos. Preservamos, cuidamos, e lidamos com as reações que a natureza tem com a forma que o ser humano usa. Preservar para deixar para as futuras gerações um mundo melhor”. 

Mazé  Morais:

Agricultora familiar, secretária de mulheres da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG) e coordenadora da Marcha das Margaridas, reafirma que as mulheres camponesas são responsáveis pela sustentabilidade e conservação dos recursos ambientais e naturais.

Produzimos alimentos saudáveis para as nossas cidades e para a nossa população, garantimos a soberania alimentar e a preservação das nossas sementes crioulas, dos nossos ecossistemas e da nossa sociobiodiversidade. Somos guardiãs dos saberes populares que herdamos de nossa ancestralidade. Somos nós que, na maioria dos casos, tomamos a iniciativa e estimulamos as nossas famílias à transição de produções convencionais para o modelo agroecológico, desde os nossos quintais produtivos, exercitando de forma sustentável a agricultura, a diversidade e a soberania das culturas. “

Natália Lobo:

Agroecóloga, militante da Marcha Mundial das Mulheres e compõe a equipe da Sempreviva Organização Feminista (SOF), conta que a luta das mulheres tem tudo a ver com a pauta climática, pois o movimento feminista tem propostas por um mundo por completo às mulheres.

A luta por uma vida mais digna às mulheres está diretamente relacionada com a luta contra a crise climática. A vida das mulheres só vai mudar com a transformação radical do nosso sistema econômico, e  uma das principais pautas feministas é pela construção da economia feminista, que tem como objetivo a vida humana no centro. Passa por repensar como um todo, a forma como produzimos a energia, como pensamos a organização da cidade, tudo isso é pensando numa vida melhor para as mulheres. O capitalismo vem fortalecendo as empresas que querem só extrair sem pensar nas consequências que afetam o meio ambiente. A luta só vai acontecer com a unificação das mulheres da cidade que querem viver a natureza, ter acesso a comida sem veneno, entre outros… e com as mulheres do campo que estão à linha de frente, pois são as que defendem seus territórios, contra o desmatamento, empresas de mineração e garimpeiros, ainda mais nesse momento de governo Bolsonaro”.

 

Dandara Maria Barbosa, Agência Todas.

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