Acordo com EUA é mais um golpe de Bolsonaro ao agronegócio brasileiro
Sem nenhuma contrapartida relevante dos Estados Unidos, Jair assumiu compromissos que prejudicam a produção local e a relação comercial com países do Mercosul
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Bolsonaro fez campanha para Presidência afirmando ser um patriota, mas a sua política externa mostra que o verdadeiro amor de Jair são os Estados Unidos. Todos os acordos comerciais anunciados nesta semana favorecem o país governado por Donald Trump em detrimento do Brasil. Com as propostas para o agronegócio não é diferente.
Esse desequilíbrio foi mostrado na coluna Vaivém dos Commodities, da Folha de S. Paulo. O texto é assinado pelo jornalista Mauro Zafalon, que falou sobre a preocupação dos produtores brasileiros com a abertura comercial anunciada por Bolsonaro e seu ministro da Economia, Paulo Guedes.
O setor é responsável por 21% do Produto Interno Bruto brasileiro e sai perdendo com os acordos unilaterais para comercialização de trigo e carne. O país vai zerar a taxa de importação para até 750 mil toneladas de trigo dos EUA. O encargo até então é de 10%.
A medida prejudica principalmente o estado do Paraná, que é produtor do cereal e vende principalmente para o Nordeste. Sem políticas de proteção ao produto nacional, a proximidade dos EUA com os estados nordestinos ameaça reduzir a produção paranaense.
A medida também prejudica a Argentina, principal fornecedora de trigo para o Brasil. Dessa forma, Bolsonaro compromete não só o desenvolvimento do agronegócio brasileiro como também as relações comerciais do Mercosul, que visam desenvolver a região, reduzindo a dependência de países sul-americanos de produtos dos EUA.
Em discurso no Plenário da Câmara dos Deputados, nesta terça-feira (19), a presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann ressaltou que a política internacional de Bolsonaro é uma vergonha e falou sobre a comercialização do trigo. Ela destaca que não faz sentido oferecer vantagens comerciais aos EUA, que tem uma balança comercial com o Brasil menor que o Mercosul, sem receber nada em troca. “Por que isso? Por pena dos americanos?”, questionou.
EUA ganha muito e não oferece nenhuma garantia em troca
Como contrapartida, o país governado por Trump deve enviar técnicos sanitários para avaliar as condições da carne bovina brasileira, mas sem nenhuma garantia de que vão abrir o mercado para a compra.
No que diz respeito a carne suína, também não há reciprocidade na balança comercial. Os EUA podem importar para o Brasil, mas, do outro lado, apenas Santa Catarina pode exportar o produto e com quantidades restritas.
Além do desequilíbrio entre importações e exportações, há uma questão de saúde pública quando o assunto é a compra de carne de porco dos Estados Unidos. Lá, o setor tem problema com várias doenças, como a diarreia suína e a peste suína africana. O Brasil não tem questões sanitárias relevantes no setor.
Política desastrosa de Bolsonaro destrói o agronegócio brasileiro
Os acordos anunciados em viagem aos Estados Unidos agravam os prejuízos que a política internacional de Bolsonaro tem imposto ao agronegócio, um dos setores mais importantes da economia brasileira.
Ainda no primeiro mês, o governo Bolsonaro recebeu sua primeira retaliação. Em janeiro, a Arábia Saudita reduziu de 30 para 25 o número de frigoríficos brasileiros autorizados a comercializar carne para o país árabe que foi responsável pela importação de 14% da carne de frango que foi produzida no Brasil em 2018.
A decisão do país árabe foi anunciada após Bolsonaro afirmar repetidas vezes que mudaria a embaixada brasileira em Israel de Jerusalém para Tel-Aviv. A mudança significaria uma interferência do Brasil no conflito entre palestinos e israelenses que há décadas assola a região.
Em 2017, Trump reconheceu a cidade de Jerusalém como capital do Estado de Israel, indo de encontro as políticas internacionais de diplomacia e mediação do conflito. À época, a decisão causou protestos na Faixa de Gaza e conflitos na região.
Nesse contexto, seguir os passos de Trump ameaça prejudicar não só os produtores de aves brasileiros como também destruir os investimentos que foram feitos no Brasil para produção de carne halal – abatida segundo os preceitos islâmicos, que é exportada para 57 países sendo 22 do mundo árabe.
Apesar do alerta para os prejuízos econômicos, que a relação traria para o país, Bolsonaro não deixou de alinhar sua política externa aos Estados Unidos, ficando ao lado de Trump na questão da Venezuela. Com isso, a Rússia anunciou que poderia adotar restrições temporárias à importação da soja brasileira. Mais uma vez, especialistas afirmaram que a medida foi uma pressão política contra a posição que o Brasil tem adotado nas relações internacionais.
Da Redação da Agência PT com informações da Folha de São Paulo