As lições dos desastres ambientais: custos e vantagens de uma transição socioecológica

Artigo de Penildon Silva Filho, secretário nacional de Meio Ambiente e Desenvolvimento do PT

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Penildon Silva Filho

O Brasil enfrenta há alguns meses inundações que deixaram um rastro de mortos e desabrigados em Minas Gerais, na Bahia, São Paulo, Maranhão e outros estados. Mais recentemente, vivemos a tragédia em Petrópolis, que se repete periodicamente pela insistência em uma estrutura de cidades sem resiliência ou justiça social. Concomitantemente, enfrentamos uma crise hídrica que ameaça o fornecimento de água às pessoas, pode prejudicar a agricultura e já encarece os custos da energia elétrica, devido ao baixo nível dos reservatórios. Estudos indicam que, nos últimos 20 anos, tivemos uma redução de 15% nos recursos hídricos no país, e à medida que o agronegócio avança no Cerrado, se exaurem as reservas da “caixa d’água do Brasil”.

O avanço no desflorestamento da Amazônia impede que os “rios voadores” possam continuar a levar a umidade e as chuvas desse bioma para o Centro Sul do Brasil.

Por fim, a comunidade internacional já se pronunciou no sentido de advertir o Brasil de que, caso continue com o desflorestamento e com o uso abusivo de agrotóxicos, haverá barreiras aos produtos brasileiros.

Já passamos da hora de fazermos um inventário dos prejuízos que o atual modelo de desenvolvimento econômico, social e ambiental acarreta, em destruição de atividades econômicas, casas, bens das pessoas e mortes, seja por inundações decorrentes de eventos climáticos extremos, cada vez mais frequentes, rompimento de barragens de mineração ou mudanças climáticas que acarretam em desertificação da Caatinga e do Cerrado e Savanização da Amazônia. No presente momento, a temperatura média na Amazônia já está dois graus centígrados acima da média de 20 anos atrás. Urge um debate sobre a proposição de um outro modelo de desenvolvimento, para fazer uma transição socioecológica que modifique o curso atual dos prejuízos, destruição e isolamento internacional.

Transição socioecológica que permitirá uma nova matriz energética, diminuirá e neutralizará a emissão de carbono e impulsionará atividades econômicas mais rentáveis que as atuais predatórias do meio ambiente.

Segundo o Banco Mundial, nos últimos 10 anos os custos econômicos dos problemas ambientais superaram R$ 333,3 bilhões no Brasil. Em um cenário extremo, a partir do quarto trimestre de 2021, um eventual estrangulamento hídrico do crescimento do PIB pode superar este montante em um único ano (cada ponto percentual subtraído da variação do PIB representa R$ 80 bilhões).

Uma transição socioecológica, e tudo o que decorre dela, é uma grande geradora de trabalho, emprego e renda para as famílias mais pobres. Trata-se de um investimento duplo, pois se mitiga os efeitos do aquecimento global e se tem uma política “desenvolvimentista” de inclusão social. A preservação da floresta, o reflorestamento ou recuperação dos biomas amazônico, do Pantanal, de Mata Atlântica, da Caatinga, do Cerrado e dos Pampas podem propiciar trabalho remunerado para muitos.

O Brasil tem recursos para isso. A proposta no Congresso de tributar os super ricos pode gerar anualmente R$ 316,16 bilhões. O combate à sonegação com investimento na fiscalização, segundo o estudo do Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda Nacional (SINPROFAZ, 2019), pode gerar em valores atualizados pelo IPCA R$ 945,82 bilhões.

Um pensamento econômico que não seja a curtíssimo prazo, que impera hoje com a atenção voltada apenas para o balanço trimestral de ações na bolsa de valores, mas que pense e atue a médio e longo prazo, são essenciais para a preservação e criação de mais empregos, diminuição dos prejuízos econômicos e humanos e sobrevivência da espécie no planeta.

( Artigo originalmente publicado no site BNews)

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