CPT vê comunidades reagindo à “ânsia assassina do governo e do capital”

Pastoral afirma que, embora 2017 tenha sido um dos anos mais cruéis para o povo, resistência popular mantém esperança na conquista da terra sem males

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O ano de 2017 já está marcado em nossa história como um dos mais cruéis para a vida do povo brasileiro. Neste ano, o segundo após o golpe jurídico-parlamentar-midiático, foi escancarada a verdadeira face de um projeto político de entrega e ainda maior concentração das riquezas nacionais, expansão da miséria e do desemprego e retrocessos na garantia dos direitos humanos, numa corrida sem fim para a aprovação de leis que impedem a maioria dos brasileiros e brasileiras de acessar políticas públicas e de ter segurança jurídica e constitucional. Na verdade, tal ação tem gerado uma violência tão grave que  revela uma lógica de extermínio e redução da população pobre, do campo e da cidade.

E tudo isso sendo construído numa ação criminosa articuladamente orquestrada entre os poderes, à base da compra de votos, da corrupção aberta e inescrupulosa, da impunidade judiciária, que trava um “combate” manipulado e seletivo à corrupção, levando sem nenhum pudor as instâncias da República ao seu patamar mais elevado de descrédito. Para os grupos que estão no poder, o Brasil está à venda e o leilão deve acontecer logo, antes que o povo perceba e decida se manifestar. E, como era de se esperar, não há mais panelaço contra a corrupção e não há mais a indignação dos grandes meios de comunicação, aliados diretos. O que esperar?

A sequela mais imediata é a violência pública e privada crescente, no campo e na cidade, o povo abandonado à lei do mais forte e às estratégias do capital para usurpar e expropriar, ao gozo da impunidade estrutural. O ano de 2017 foi o da volta dos massacres no campo, conforme denunciamos em página especial em nosso site, e até o presente momento já são 65 assassinatos registrados pela CPT em conflitos no campo, uma chaga que nos vale o título do país mais violento do mundo para as populações rurais. Enquanto isso, o Estado continua se utilizando de dois pesos e duas medidas. De um lado cumpre liminares de despejo envolvendo centenas de famílias camponesas no estado do Pará, e do outro, para coroar o ano da impunidade, o Tribunal de Justiça do Estado permite a soltura de todos os policiais militares envolvidos na chacina de Pau D’arco, onde 10 trabalhadores rurais foram brutalmente assassinados. Agora, como garantir a segurança das famílias acampadas e das testemunhas desse crime bárbaro?

A estas populações – posseiras, quilombolas, indígenas, extrativistas, sem-terra e outras – está sendo negado o direito mais elementar à vida, ao reconhecimento da sua humanidade.

A ânsia do agronegócio pela exploração sem limites de nossas terras, águas e biodiversidade, com respaldo de sua expressão política – a bancada ruralista – está minando as condições mínimas de sobrevivência de pessoas, comunidades e outras espécies. A cada ano presenciamos rios importantes secando, estudos comprovando a dramática crise hídrica instalada, principalmente com o aumento do desmatamento no Cerrado e na Amazônia.

No entanto, apesar deste cenário desolador e mesmo em razão dele, vários sinais de resistência e esperança também marcaram 2017, tanto no campo como na cidade. As manifestações, ocupações, greves de fome e atos de desobediência civil são atitudes de pessoas e grupos que, descontentes com todos estes desmandos, decidem que é preciso sair da letargia e tomar nas mãos o processo e/ou ao menos reagir, a fim de mostrar a força popular, e defender um outro projeto para o país, a bem da maioria.

O que aconteceu em Correntina, oeste da Bahia, é um exemplo e um sinal: a população se rebelou contra a empresa agrícola Igarashi, que, com a omissão e conivência do órgão estadual responsável pelas águas e meio-ambiente, consome 97,2% mais água do que toda a população do município (3 milhões de litros por dia), colaborando decisivamente para a exaustão do Rio Arrojado, na bacia do Corrente, penúltimo afluente importante do Rio São Francisco.  Ali está um movimento popular, místico e profético. E já é possível vislumbrar várias outras comunidades, neste Brasil, que estão se levantando, numa sede de justiça, contra a ânsia assassina do governo e capital.

A greve de fome de companheiros e companheiras do MPA e de outros movimentos em Brasília, Sergipe e outras cidades, contra a “reforma” da Previdência, também demonstra a profunda solidariedade dos movimentos sociais do campo com as vítimas destes desmandos e a resistência do povo organizado.

É com essas ações concretas de esperança que aguardamos 2018 chegar, reafirmando o espírito de luta, a resistência e o compromisso com a defesa da vida das pessoas empobrecidas e da natureza. Temos consciência dos desafios que estão por vir, mas rogamos ao Deus da Vida que nos ajude a ter a lucidez e a coragem necessárias para continuar firmes no cumprimento desta missão que herdamos do Menino nascido na estrebaria em Belém. Nisto, agradecidos a todos e todas que lutaram conosco em 2017, contamos que continuem conosco e nos fortaleçamos sempre mais, até a vitória final.

Goiânia, 19 de dezembro de 2017.

Diretoria e Coordenação Executiva Nacional da CPT

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