Luís Sabanay: “Violência politico-religiosa e contradições com valores cristãos abriram caminhos para as dissidências”

Para Luis Sabanay, um dos principais articuladores da campanha de Lula, eleições provocaram cisão que resultará em uma revolução na “disputa pela identidade evangélica, sequestrada pelo fascismo”.

Ricardo Stuckert

Lula em encontro com evangélicos em São Gonçalo, no Rio. Foto: Ricardo Stuckert

Foco da guerra religiosa imposta por Jair Bolsonaro (PL) e a extrema-direita conservadora ao Brasil – a exemplo do que acontece nos EUA – o eleitorado evangélico é, na véspera da eleição mais importante desde a redemocratização do país, a base que dá sobrevida ao atual presidente em meio a uma tentativa desesperada de evitar uma vitória de Lula (PT) já no primeiro turno da disputa presidencial, que acontece neste domingo (2).

Em entrevista à Fórum, Luís Sabanay, pastor e uma das lideranças cristãs mais próximos da campanha de Lula, diz que “os evangélicos foram, sem dúvida, o nosso maior desafio, sabendo do investimento e mobilizações massivas em torno deste segmento pela campanha de Bolsonaro”.

O Datafolha projeta que 26% dos eleitores brasileiros sejam evangélicos – ante 52% de católicos, onde Lula lidera. Não há, no entanto, uma estimativa oficial diante do apagão do Censo promovido por Bolsonaro. A influência desses votos será conhecida nas urnas neste domingo.

O esforço hercúleo da campanha petista para explicar a avalanche de fake news e discurso de ódio imposto pelos pastores midiáticos, comandados por Silas Malafaia, garantiu o voto de 30% desse eleitorado – frente a cerca de 50% de Bolsonaro – segundo as mais recentes pesquisas.

“A estratégia de não entrar na “guerra religiosa” e na “instrumentalização da religião” com fins eleitorais, além do caminho do debate político e de propostas econômicas e sociais, com frentes de comunicação nas redes e a mobilização da base social, militante no segmento evangélico, associado às denúncias de violência, combate às mentiras e publicação de panfletos, foi acertada”, avalia Sabanay, que destaca ainda o encontro de Lula com lideranças evangélicas no dia 9 de setembro “em local público com representação da diversidade evangélica e de periferia no município de São Gonçalo”, no Rio de Janeiro.

Para ele, a estratégia, juntamente com testemunhos públicos de fiéis, pastoras, pastores e ministros das igrejas, fez com que Lula conseguisse barrar o avanço de Bolsonaro entre os evangélicos.

“Em meados de setembro o jogo começou a mudar: Bolsonaro ficou estagnado e Lula cresceu entre os evangélicos na maioria das pesquisas de opinião. Fato: a ação coercitiva, violência politico-religiosa e contradições com valores cristãos abriram caminhos para as dissidências, rachas nas igrejas e rompimentos de fiéis na relação com algumas lideranças que assumiram o protagonismo e a defesa de Bolsonaro nesta campanha”.

Sabanay ainda ressalta “os efeitos da política social e econômica que assola os pobres, e uma parte significativa evangélica nas periferias urbanas e rurais e, por último a defesa do legado dos governos Lula e Dilma” como motivos para garantir 1 em cada 3 votos desse nicho para a candidatura petista.

Sabanay ainda acredita que a onda pró-democracia que se alinhou a candidatura de Lula “no combate ao fascismo e o autoritarismo, ódio, violência e preconceito, caracterizado, no governo Bolsonaro” provocaram uma cisão entre evangélicos, principalmente entre os mais jovens, que deve provocar uma revolução nas igrejas depois das eleições.

“Todos esses fatores culminam com o equilíbrio de forças no segmento evangélico brasileiro que, após o período eleitoral, deverá viver períodos de transformações significativas. Como por exemplo, a disputa pela identidade evangélica, sequestrada pelo fascismo. Mas enquanto isso, mantemos a campanha mobilizada até o ultimo minuto”, conclui.

Revista Fórum

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