Bolsonaro avança na destruição de restaurantes, lojas e fábricas

Inação na retomada das medidas de socorro econômico faz sete em dez estabelecimentos de alimentação se endividarem e deteriora situação de comércio e pequenas indústrias

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Desde o início da pandemia, 64% das empresas de serviços de alimentação tiveram que dispensar funcionários

A incúria do desgoverno Bolronaro, que não assumiu o comando central das medidas de contenção da pandemia em sincronia com medidas de socorro econômico, faz o setor de bares e restaurantes viver o momento mais crítico nesta pandemia. O alto grau de endividamento e o baixo nível de capital de giro para pagamento de fornecedores são os piores problemas apontados pela pesquisa divulgada esta semana pela Associação Nacional de Restaurantes (ANR) e pelo Instituto Foodservice Brasil (IFB).

Segundo o levantamento da consultoria Galunion, especializada no mercado de serviços de alimentação, 71% dos restaurantes do país afirmam ter dívidas. A maior parte (79% dos endividados) deve a bancos e fornecedores. Em 91,7% dos casos, o tamanho da dívida varia de um mês a mais de um ano de faturamento. Mais da metade dos entrevistados (54%) revelou também estar com impostos atrasados.

O levantamento foi realizado entre 9 de abril e 5 de maio com representantes de 650 empresas de todos os estados, entre grandes redes de fast-food e pequenos restaurantes, passando por bares, lanchonetes e padarias. “A pesquisa mostra com muita clareza que o setor chegou ao seu limite. Quem sobreviveu, em sua imensa maioria, está muito endividado”, concluiu Fernando Blower, diretor-executivo da ANR.

Desde o início da pandemia, 64% das empresas de serviços de alimentação tiveram que dispensar funcionários. E 66% delas não tem capital de giro suficiente para suportar 30 dias de restrições. Quase metade (48%) lamenta o atraso da retomada do Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (BEm), suspenso no fim do ano.

A demora na reedição da medida, que ocorreu apenas no fim de abril, custou pelo menos 70 mil demissões sem justa causa, estima a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). O varejo corresponde a pouco mais de 20% do emprego formal no país, ou oito milhões de postos com carteira assinada.

Segundo a entidade, para cada R$ 1 bilhão em gastos do programa de redução de jornadas e salários e de suspensão de contratos em 2020, 6,2 mil trabalhadores deixaram de ser demitidos. No primeiro trimestre deste ano, houve 430 mil demissões sem justa causa no setor.

No momento, a adesão ao programa de redução de jornadas e salários se concentra nas micro e pequenas empresas. Em duas semanas de vigência do programa, 1,5 milhão de trabalhadores aderiram aos acordos, afirma o Ministério da Economia.

Abrasel reclama de morosidade e falta de crédito

A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), que em abril alertou para o fato de que 91% dos estabelecimentos enfrentam problemas para pagar salários, constata a má situação se expandir em várias regionais.

Em Minas Gerais, 43,4% deles estão com alguma restrição nos órgãos de proteção ao crédito (Serasa, SPC), além de protestos em cartório. Não fazem parte das dívidas despesas com impostos, taxas, contas de água e luz. Sete em dez (76%) proprietários precisaram abrir mão do patrimônio pessoal em nome da sobrevivência da empresa.

O presidente da Abrasel-MG, Matheus Daniel, aponta a burocracia e a morosidade de governo e bancos privados na concessão de crédito como principal causa desse quadro de inadimplência. Somente em Belo Horizonte, 3,5 mil bares e restaurantes encerraram as atividades desde o início da pandemia, deixando 30 mil pessoas desempregadas.

“A situação está muito dramática, e, por conta da negativação, os empresários não conseguem pegar uma nova linha de crédito. A cada dia que passa a tendência é de piora, porque todas as reservas que eles tinham foram se esgotando”, avalia Daniel. Segundo ele, 90% dos empresários não conseguiram pagar salários em abril.

No Rio Grande do Sul, nove em cada dez bares e restaurantes gaúchos também enfrentam problemas para quitar os salários. Os estabelecimentos operam no vermelho desde o ano passado e acumulam dívidas para sustentarem as operações.

Na Região Metropolitana de Campinas (SP), oito em dez bares e restaurantes correm risco de fechar. Segundo a pesquisa ‘Situação Econômica do Setor de Alimentação Fora do Lar’, da Abrasel, 86% desses estabelecimentos na região são microempresas. Quase 70% deles devem o Simples Nacional, e 83% usaram o BEm para manter os funcionários.

Na Grande São Paulo, centenas de vaquinhas virtuais pipocam todos os meses como última tentativa dos restaurantes de sobreviver aos longos períodos de portas baixadas e crescimento das dívidas. Segundo dados do serviço de crowdfunding Apoia.se, houve dois picos de vaquinhas no último ano. O primeiro, entre março e julho de 2020, e o segundo, de fevereiro a abril deste ano – nas fases mais críticas da pandemia.

“Em janeiro nós já alertamos o governo federal que a situação ficaria crítica. Sem isso, mesmo caminhando para a reabertura, muitos estabelecimentos não irão aguentar”, lamentou Paulo Solmucci, presidente da Abrasel.

Segundo a entidade, a demora na prorrogação do prazo de carência do Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), a principal linha de crédito para micro e pequenas empresas, contribuiu de maneira decisiva para o encerramento definitivo de aproximadamente 35 mil empresas do setor de alimentação fora do lar, atingindo 100 mil postos de trabalho.

Pequenos negócios criaram quase 60% dos empregos gerados em março

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os serviços tombaram 4% em março frente ao mês anterior. O setor, que tem o maior peso no Produto Interno Bruto (PIB), de aproximadamente 60%, recuou 0,8% no acumulado do ano, frente o mesmo período de 2020.

Outro levantamento, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), mostra que o Índice de Situação Financeira das indústrias de pequeno porte também caiu no primeiro trimestre de 2021: de 43,1 para 37,8 pontos. É o resultado da queda do faturamento e da produção, além da dificuldade de acesso ao crédito e da alta do preço dos insumos.

“A suspensão das linhas de financiamento emergenciais voltadas às pequenas indústrias, em razão do término do estado de calamidade, impactou negativamente o acesso ao crédito pelo segmento e resultou no recuo de 5,3 pontos do indicador”, destaca o relatório técnico da entidade.

O recuo na produtividade e nas vendas reduziu o fluxo de pagamento das micro e pequenas empresas (MPEs) e pode levar muitas delas a encerrarem as atividades nos próximos meses. Mas apesar do momento crítico, elas foram responsáveis pela geração de 57,9% dos empregos com carteira assinada no Brasil em março, o que corresponde a quase 107 mil vagas. O resultado é superior aos postos de trabalho criados pelas empresas de médio e grande porte (MGE), que foi pouco mais de 67 mil.

“Esse é o nono mês que as micro e pequenas empresas puxam a geração de empregos formais no Brasil. Não há dúvida que elas são o motor da nossa economia. Mesmo diante da sobrevida da pandemia, os resultados positivos sinalizam o quanto é importante a continuidade de medidas emergenciais que amparem o segmento”, declarou o presidente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Carlos Melles.

Da Redação

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