Bolsonaro ‘comemora’ críticas de ONGs à escolha de Ricardo Salles

Presidente eleito despreza preocupação de entidades ambientais com a escolha do futuro ministro do Meio Ambiente, que foi financiado pelo agronegócio

Jair Bolsonaro (PSL) ironizou as críticas de diversas entidades ambientais à escolha de Ricardo Salles para o Ministério do Meio Ambiente. O presidente eleito desprezou as preocupações das ONG’s e disse que “quando vi entidades ambientais criticando Ricardo Salles, falei ‘acertamos'”. A declaração dele mostra que seu governo vai atuar contra a preservação do meio ambiente e em favor dos interesses do agronegócio.

A declaração de Bolsonaro ocorreu em encontro com parlamentares do DEM, na semana passada, quando ele confirmou seu total desprezo e preconceito com as comunidades indígenas e quilombolas: “Não demarcaremos um centímetro quadrado a mais de terra indígena. Não tem mais terra para quilombola. Já acabou esse tempo”, declarou durante a reunião, segundo o Estadão.

Se a cruzada do presidente eleito contra as questões ambientais já estava clara quando ele disse, em novembro, que teve participação na desistência do Itamaraty de sediar a Conferência do Clima da ONU, a COP 25, agora fica ainda mais cristalina com as novas declarações. Bolsonaro defendeu a extinção de decreto que permite descontos de até 60% nas multas ambientais e que transforma os 40% restantes em investimentos para recuperação de florestas.

Ao lado da futura ministra da Agricultura, Tereza Cristina, o presidente eleito disse que há um indústria de multas ambientais e que não irá mais destinar os 40% para preservação ambiental. O Estadão, por sua vez, revelou que a suposta indústria da multa de Bolsonaro não passa de uma desculpa esfarrapada para atender os interesses dos ruralistas. Segundo o jornal,  o Ibama recebe, todos os anos, menos de 5% das multas aplicadas durante fiscalizações.

Ainda segundo a reportagem, os valores não pagos são contestados na Justiça.  Neste ano, o Ibama havia emitido um total de 13.244 autuações por crimes ambientais em todo o Brasil, multas que somam R$ 3,36 bilhões. O volume recolhido, por sua vez, não chega a R$ 200 milhões. O recolhimento foi ainda menor em 2017. Do total de R$ 3,07 bilhões, apenas R$ 140,6 milhões foram efetivamente pagos.

Ministro do Meio Ambiente financiado pelo Agronegócio

A Rede Brasil Atual publicou uma matéria na qual revela as doações eleitorais de um pequeno grupo e mais 108 nomes de pessoas físicas a Ricardo Salles. O futuro ministro concorreu à uma vaga na Câmara dos Deputados, mas não foi eleito. Entre os doadores, há grandes empresários dos mais diversos setores, que têm no agronegócio o carro chefe de suas empresas ou mesmo uma atividade secundária.

Um dos nomes é o do presidente do conselho de administração da Porto Seguro Seguros, Jayme Brasil Garfinkel. Principal acionista da Porto, é também o principal doador da campanha de Salles, tendo contribuído com R$ 260 mil, equivalente a 16% do total. Mais conhecido por dirigir uma das três maiores seguradoras do país, o empresário tem entre seus negócios a Fazenda Periquitos Companhia Agropecuária. A propriedade que se estende por parte de Três Lagoas e Selviria (MS), produz soja e gado de corte.

Além dele, aparece o nome de José Salim Mattar Junior, controlador da Localiza Hertz, empresa mais valiosa do setor de locação de automóveis. Mattar Junior, inclusive, foi anunciado como futuro secretário de Privatizações de Bolsonaro, e é o segundo maior doador de Salles. O empresário depositou na conta da campanha R$ 200 mil.

Entre outros de seus negócios está o Haras Sahara, em Matozinhos (MG). Embora o site remeta apenas à criação de cavalo árabe, segundo a Rede Brasil Atual, a ficha no cadastro nacional da pessoa jurídica (CNPJ) da Receita Federal informa que a fazenda, entre as atividades econômicas secundárias, cria gado de corte.

Favorecimento à empresas de mineração

O futuro ministro de Bolsonaro é investigado em uma ação civil pública por favorecer empresas de mineração na escolha do mapa de zoneamento do Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental (APA) do Rio Tietê. Na avaliação do Ministério Público, ocorreu fraude nas mudanças, que podem prejudicar o meio ambiente. A Promotoria pediu, em março de 2017,  a anulação do plano de manejo e o afastamento do então secretário Ricardo Salles, em um processo avaliado em mais de R$ 50 milhões.

Salles pediu demissão e deixou o governo em agosto de 2017. O futuro ministro também é alvo de um processo por improbidade administrativa, por violação aos princípios constitucionais da administração pública, e responde a um processo civil por danos ao erário.

Da Redação da Agência PT de Notícias com informações do Estadão e Rede Brasil Atual

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