Bolsonaro deixou de comprar 43 milhões de vacinas da OMS

Telegramas do Itamaraty revelam que governo hesitou em adquirir imunizantes mais baratos que a Covaxin. Em agosto de 2020, governo também teve conhecimento sobre inutilidade da cloroquina contra Covid-19

Documentos obtidos pelo colunista do UOL Jamil Chade revelam que o governo Bolsonaro optou por adquirir apenas metade de 86 milhões de doses do consórcio Covax Facility, da Organização Mundial da Saúde (OMS). De acordo com o jornalista, telegramas do Itamaraty na época da gestão de Ernesto Araújo no Ministério das Relações Exteriores, em 2020, apontam que o governo não queria fechar acordo com a ONU para comprar vacinas mais baratas do que foi negociado para a aquisição da indiana Covaxin. Em agosto, o preço do imunizante da OMS chegou a ser oferecido por U$ 10,50, metade de valor da Covaxin.

“A busca por vacinas por parte do governo brasileiro foi permeada pela ausência de medidas coerentes, contradições em atitudes adotadas com diferentes parceiros, indefinições e ideologia”, detalha Chade, no texto para o site. “O governo fez lobby para garantir que seus contratos bilaterais não seriam afetados se optasse por fazer parte do mecanismo internacional e buscou uma adesão repleta de flexibilidades para não se comprometer plenamente com a Covax”, revela o colunista.

“Esse episódio do relacionamento do Brasil com a OMS, no que diz respeito ao consórcio Covax Facility, é uma das coisas mais graves que apuramos até agora na CPI”, afirma o senador Humberto Costa (PT-PE). “Poderíamos obter vacinas para a cobertura de pelo menos 30% da população. E fizemos um pedido de 10%”, denuncia.

Para Costa, é evidente que o governo contaminou ideologicamente a relação com a OMS para fragilizar os órgãos multilaterais. “[Isso] mostra o desprezo do governo em relação às vacinas, consideradas sem credibilidade para o enfrentamento à pandemia”, critica. “Diziam que o preço era muito alto. No entanto, posteriormente, o governo negociou com empresas intermediárias valores bem mais altos que o do consórcio”.

Apesar de criado em abril, o governo só decidiu aderir ao consórcio no dia 31 de agosto, com restrições e colocando sob suspeita a segurança dos imunizantes oferecidos pela Covax. Telegrama ao posto do Brasil em Genebra assinado por Araújo destacava que o país adotaria um modelo de “compras opcionais, na qual poderemos abrir mão de qualquer vacina oferecida”.

Cloroquina

Outro telegrama do Itamaraty informa que a indústria farmacêutica internacional havia desistido, em agosto do ano passado, de apostar fichas no uso de hidroxicloroquina para tratamento de Covid-19. O telegrama foi assinado pela embaixadora Maria Nazareth Farani Azevedo, após uma palestra da Federação Internacional da Indústria Farmacêutica.

O documento observa que o diretor-geral da entidade, Thomas Cueni, afirmou que o setor precisaria “começar do zero” as pesquisas com medicamentos para combater a doença, “tendo em conta o insucesso relacionado a alguns medicamentos que teriam despontado como promissores no início da pandemia”.

Os telegramas relataram ainda, as perguntas feitas por jornalistas brasileiros nas entrevistas coletivas da OMS na Suíça. Segundo Chade, no dia 26 de junho de 2020, um telegrama diz que “a correspondente da Rede Globo na Suíça afirmou que o Brasil não havia aderido à iniciativa ACT [consórcio] quando de seu lançamento”. No texto, ainda é questionado se o Brasil faria a adesão “agora que o país é o epicentro da epidemia”.

Da Redação, com informações de UOL

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