Bolsonaro e pandemia aprofundaram desigualdade no Brasil

Parcela 1% mais rica abocanha 50% da riqueza nacional, enquanto metade mais pobre detém menos de 1% da renda, diz relatório ‘The World Inequality Report 2022’. País é um dos mais desiguais do mundo

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Quadro social é resultado de políticas de desregulamentação e privatizações de empresas a partir dos anos 80, diz o estudo

A pandemia permitiu que bilionários ficassem mais ricos e os pobres ainda mais vulneráveis, ampliando o quadro de desigualdade mundial, aponta o estudo The World Inequality Report 2022, divulgado nesta terça-feira (7). No Brasil, no entanto, os efeitos da crise sanitária somaram-se à política econômica neoliberal da dupla Jair Bolsonaro e Paulo Guedes para gerar um cenário mais devastador de desemprego, perda de renda, fome e miséria, além da tragédia de 615 mil vítimas de um governo genocida. De acordo com o estudo, conduzido pelos especialistas Lucas Chancel, Thomas Piketty, Emmanuel Saez e Gabriel Zucmano, o Brasil atualmente é um dos países mais desiguais do mundo. Aqui, os 10% mais ricos detém 59% da renda nacional, deixando metade da população com apenas 10%.

Em 2019, os mais ricos abocanhavam 58,6% da riqueza. “As desigualdades no Brasil são maiores do que nos Estados Unidos, onde os principais 10% capturam 45% da renda nacional total, e na China, onde o índice é de 42%”, constata o documento, que foi construído por mais de 100 pesquisadores, conduzidos pela Escola de Economia de Paris e pela Universidade da Califórnia.

“Desde os anos 2000, a desigualdade salarial foi reduzida no Brasil e milhões de indivíduos tirados da pobreza, em grande parte graças a programas governamentais, como o aumento do salário mínimo ou Bolsa Família”, afirma o relatório. “Ao mesmo tempo, na ausência de grandes reformas tributárias e agrárias, a desigualdade de renda geral permaneceu virtualmente inalterada”, destaca.

O estudo faz ainda uma comparação do Brasil com a Argentina para demonstrar que a desigualdade aqui é alarmante. “Em 2021, 50% da população possui menos de 1% do total da riqueza nacional (em comparação com 6% na Argentina, para exemplo), enquanto o 1% do topo da população possui cerca de metade da riqueza total”.

Bilionários ganham trilhões na pandemia

Como se não bastasse o quadro de injustiça social que existia antes da crise sanitária, os bilionários do planeta enriqueceram em US$ 4,1 trilhões na pandemia, aponta um dos integrantes do grupo que produziu o relatório, Lucas Chancel. Segundo ele, o Banco Mundial avalia, por outro lado, que cerca de 100 milhões de pessoas ultrapassaram a linha da pobreza extrema. “Vemos um mundo ainda mais polarizado: a cobiça ampliou o fenômeno da ascensão dos bilionários e deixou mais pobreza”, lamentou. 

Segundo os autores do estudo, o agravamento do quadro social é resultado de uma onda de políticas de desregulamentação e privatizações de empresas a partir dos anos oitenta. “Não se observa que o processo iniciado no início dos anos 80 tenha mudado até agora”, constata o pesquisador do World Desigualdade Lab, Luis Bauluz. “Pelo contrário, essa tendência se mantém e foi acentuada, principalmente [a partir de] 2020”.

“No capitalismo moderno, o grupo de renda de um indivíduo (se ele pertence aos 50% da base ou ao 1% do topo) é mais importante do que sua nacionalidade para determinar os níveis de desigualdade global”, ressalta ainda o documento.

América Latina e Oriente Médio figuram entre as regiões mais desiguais, onde 75% da renda se concentra na mão de 10% da população mais rica. “A crise de Covid exacerbou as desigualdades entre os muito ricos e o resto da população”, reconheceu Chancel. “Ainda assim, nos países ricos, a intervenção do Estado evitou um aumento maciço da pobreza”.

Da Redação, com The World Inequality Report 2022 e El País

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