Bolsonaro se vende como o nacionalista que não é, diz Manuela

Em entrevista a Juca Kfouri, a candidata a vice falou de soberania nacional, desenvolvimento, fake news e necessidade de um pacto político no Brasil

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Manuela D'Ávila é entrevistada pelo jornalista Juca Kfouri

Manuela D’Ávila (PCdoB), candidata a vice-presidenta na chapa de Fernando Haddad (PT), acredita que a imagem de amor à pátria construída em torno de Jair Bolsonaro não condiz com a realidade. “São ‘nacionalistas’ que entregam tudo para o estrangeiro. Para eles, camiseta bonita sempre foi com a bandeira dos Estados Unidos”, afirmou a deputada gaúcha, durante o programa Entre Vistas, exibido nesta terça-feira (23), pela TVT.

Para embasar sua opinião, Manuela deu dois exemplos: a universidade pública e a proteção da Amazônia. Sobre as universidades, criticou a proposta de Bolsonaro em cobrar mensalidade, alegando que, no fundo, a intenção do candidato de extrema-direita pode dificultar o acesso ao ensino superior.

“A universidade no Brasil é o espaço em que se produz pesquisa científica, a ciência básica é feita nas universidades”, afirmou, destacando o crescimento nos últimos anos das vagas em pós-graduação, além daquelas na graduação. Segundo um estudo da Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), divulgado em 2016, dois em cada três estudantes de universidades federais são de classe D e E.

Com relação à Amazônia, Manuela D’Ávila destacou a importância da região para a soberania nacional, ponderou sobre os riscos da proposta de Bolsonaro em unificar os ministérios da Agricultura e Meio Ambiente, e alertou que a obsessão pelo tema da Venezuela deve ser analisado no contexto da segurança da região.

Para ela, o discurso do candidato do PSL pode abrir caminho para uma ocupação militar da Amazônia, inclusive estrangeira, sob o pretexto de preservar a segurança local, porém sem considerar a soberania e o desenvolvimento científico. “A entrega da Amazônia é muito cruel para o Brasil e o povo brasileiro”, enfatizou.

Apresentado pelo jornalista Juca Kfouri, o programa Entre Vistas com Manuela D’Ávila também teve a participação de Nayara Souza, presidenta da União Estadual dos Estudantes de São Paulo (UEE), e Maria das Neves, da União Brasileira de Mulheres (UBM).

Fake news

Um dos principais alvos da indústria de fake news produzida pela campanha de Bolsonaro, a candidata a vice-presidente acredita que as notícias falsas e a incapacidade da justiça em dar resposta adequada, são um dos principais problemas da eleição de 2018.

“O problema não é o boato, o boato sempre existiu. O problema é o dinheiro sujo que financia a indústria da boataria”, afirmou, citando como exemplo empresas e grupos como o Movimento Brasil Livre (MBL), que não prestam conta de sua atividade.

Manuela disse ter pela primeira vez percebido a força das notícias falsas em 2015, quando pediu dispensa não remunerada da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul para acompanhar seu marido numa viagem aos Estados Unidos. Grávida à época, quando voltou da viagem circulava por Porto Alegre a informação de que ela teria ido a Miami fazer compras para o enxoval do bebê.

Em seguida, o debate passou a girar em torno do direito dela fazer compras em Miami, ignorando a mentira da informação inicial. Tempos depois, Manuela foi agredida em Garibaldi, cidade na região serrana do Rio Grande do Sul. “Me dei conta que não havia limite físico e nem importância com a verdade.”

Para ela, desmentir as notícias falsas têm sido mais difícil do que a campanha eleitoral propriamente dita. “Eles inventaram que eu me masturbava com um crucifixo, que o Haddad distribuiu em São Paulo mamadeira com pênis!”, exclamou.

Entre os ataques que sofre Manuela, muitos estão relacionados com aspectos religiosos e com o fato de ser mulher e mãe – supostamente mãe solteira. “Nunca trocaram uma fralda e fazem um debate moral sobre família”, afirmou.

Discurso de ódio

Durante o programa, a deputada gaúcha também cobrou a ausência de perplexidade e reação da sociedade diante dos discursos agressivos de Jair Bolsonaro (PSL), como o transmitido no último domingo (21) na Avenida Paulista, quando prometeu “varrer do mapa os bandidos vermelhos”.

“Acho que o clima de incendiar o país resultará numa escalada da violência. Já aconteceu absolutamente tudo e nosso adversário segue levantando o fogo. O antipetismo de uma parte da sociedade parece cegar as pessoas”, ponderou, dando como exemplos recentes o deboche com o assassinato da vereadora Marielle Franco, a morte do capoeirista Moa do Katendê e inúmeros relatos da comunidade LGBT de ameaças sofridas. “Ele autoriza a violência cada vez que fala.”

Por outro lado, Manuela reconheceu que o discurso duro do candidato de extrema-direita acaba sendo sedutor numa sociedade acuada pelo medo da violência.

Justiça social

Em tempos em que o “temor comunista” é um dos discursos mais fortes por parte de Bolsonaro e parte de seu eleitorado, Juca Kfouri perguntou para Manuela D’Ávila o que é ser comunista no Brasil de 2018.

Segundo a candidata a vice-presidente na chapa de Fernando Haddad (PT), defender o desenvolvimento e a soberania do país e trabalhar para promover a justiça social são alguns dos preceitos. “A defesa da nação sempre foi muito importante para os comunistas. O sentido de defesa da nação, de soberania, e a relação disso com o desenvolvimento. As elites de outros países são mais nacionalistas, como na França e Alemanha, há sentimento forte de nação, e aqui no Brasil não.”

Dizendo sempre ter mantido sua religiosidade afastada da atividade política, a deputada gaúcha disse que, na sua visão, o Novo Testamento é a obra inaugural dos direitos humanos no mundo.

“Há dois mil anos teve um homem com a coragem de dizer que todos são iguais perante Deus”, lembrou, destacando o contexto de violência e de uma sociedade de castas numa palestina dominada pelo Império Romano.

“Cristo foi revolucionário. Não existe nada tão revolucionário do que o Novo Testamento e a passagem de Cristo pela Terra, um homem que enfrentou o linchamento de uma mulher (Maria Madalena) diante de uma multidão. O Novo Testamento está vinculado à justiça social”, afirmou. Entre sorrisos, disse que costuma propor esse debate nas instâncias internas do seu partido.

Perto do final do programa, Manuela enfatizou sempre ter defendido uma ampla união do campo democrático e progressista do país diante da ameaça representada pelo “psicopata” Bolsonaro. “Estamos falando do nosso direito de existir.” Para ela, a vitória de Fernando Haddad trará a necessidade de um novo pacto político no país, uma nova frente em defesa da democracia e de liberdade, muito além de um governo simplesmente do PT.

Torcedora do Internacional, antes de terminar o Entre Vistas, Juca Kfouri perguntou se ela prefere ver seu time do coração campeão brasileiro depois de 38 anos ou ser eleita vice-presidente do país. “Ganhar a eleição”, afirmou sem titubear, e rindo completou: “porque senão tenho medo de depois não poder ir mais no estádio de vermelho”.

Por Rede Brasil Atual

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