Brasil, 2022: criança liga para a polícia pedindo comida

Drama de família mineira revela efeitos do desmonte das políticas de combate à fome e mostra que auxílio de Bolsonaro é insuficiente

(Reprodução/TV Globo)

Miguel abraçado à mãe: mulheres e crianças negras são as maiores vítimas da fome

Oito anos depois de o Brasil sair oficialmente do Mapa da Fome, um telefonema feito por um menino de 11 anos para a Polícia Militar, na Grande Belo Horizonte, dá a dimensão do quanto o Brasil andou para trás e do abandono em que vive a maioria dos brasileiros.

Ao ver a mãe chorando por não ter o que dar de comer aos seis filhos, na última terça-feira (2), o pequeno Miguel pegou o celular da mãe e ligou para o serviço 190 implorando por comida. O caso chamou a atenção da imprensa, que entrevistou a mãe do menino.

Moradora do município de Santa Luzia, Célia contou que está desempregada e, para pagar todas as contas e alimentar a família, tem apenas com o Auxílio Brasil mais R$ 250 enviados pelo pai das crianças. “Mas não é todo o mês que ele manda”, ressaltou.

Como chegamos a esse ponto?

A história de Célia e seus filhos chamou a atenção pela iniciativa de Miguel. Mas está longe de ser um caso isolado no Brasil. A cada momento, novos levantamentos dão conta da tragédia alimentar que o Brasil vive.

Dados do Datafolha divulgados na quarta-feira (4) mostram que um em cada três brasileiros dizem que a quantidade de comida em casa nos últimos meses não foi suficiente para alimentar a família. Em junho, um relatório apontou que 33 milhões de pessoas passam fome no Brasil. E, no mês passado, a ONU apontou que 61,3 milhões de brasileiros vivem com algum tipo de insegurança alimentar.

Como já repetiu Lula diversas vezes, a fome não é um fenômeno da natureza, mas “falta de vergonha na cara de quem governa o país”. E não há como não responsabilizar Jair Bolsonaro por essa situação.

Em seu primeiro dia de desgoverno, o ex-capitão anunciou o fim do Conselho Nacional de Segurança Alimentar (Consea), criado por Lula 16 anos antes. Foi só a primeira medida de Bolsonaro contra as políticas de combate à fome.

Em seguida, ele congelou o salário mínimo; abandonou a agricultura familiar, que produz 70% do que comemos; deixou o preço dos alimentos disparar; tirou dinheiro da merenda escolar; destruiu o Bolsa Família.

Auxílio insuficiente

Quando a pandemia veio, Bolsonaro se opôs ao auxílio emergencial de R$ 600, que só saiu porque o Congresso assim determinou. Mesmo assim, o atual presidente logo abaixou o valor e chegou a suspendê-lo por três meses.

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Agora, perto das eleições, voltou a dar os R$ 600, que não são mais suficientes, pois o desemprego continua alto e o preço dos alimentos não para de subir. Resultado: o povo passa fome, e quem mais sofre são as mulheres e as crianças negras, como Célia e Miguel.

Da Redação

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