Economista explica por que mulheres são as maiores vítimas do endividamento

Segundo Marilane Teixeira, da Unicamp, por ganharem, em média, menos que os homens, e muitas vezes cuidarem da família sozinhas, as mulheres são as mais prejudicadas em momentos de crise

Sindicato dos Bancários do Pará

Marilane Teixeira: “Precisamos pensar numa sociedade em que haja uma condição de maior igualdade entre homens e mulheres"

A economista Marilane Teixeira, pesquisadora do Centro de Estudos Sindicais e Economia do Trabalho, do Instituto de Economia da Unicamp (Cesit/IE), explicou, em entrevista ao Jornal PT Brasil (assista abaixo), nesta terça-feira (2), por que as mulheres são as que mais sofrem com o endividamento hoje no Brasil.

Dados da Confederação Nacional do Comércio (CNC) mostram que, enquanto 76,5% dos homens têm alguma dívida para pagar, entre as mulheres o índice chega a 80,1%. Em julho de 2021, esses índices eram, respectivamente, 69,6% e 70,2%.

De acordo com Marilane, o aumento maior entre as mulheres se deve à combinação da crise atual com fatores históricos, uma vez que as mulheres nunca contaram com condições de igualdade no mercado de trabalho.

A especialista lembrou que as mulheres recebem salários 25% menores, em média que os homens. E essa diferença chega a 40% entre as brasileiras negras. Além disso, em momentos de crise, costumam ser as primeiras a ser demitidas.

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“Então, as mulheres, diante de uma renda menor, têm muito mais dificuldade de lidar com o processo de aumento desenfreado dos preços”, analisou, lembrando que a inflação acumula alta de quase 12% nos últimos 12 meses.

Chefes da casa

Para piorar, o governo toma medidas que não funcionam para conter a carestia, mas prejudicam trabalhadores e trabalhadoras, como a alta de juros, impactando dívidas como as com cheque especial e cartão de crédito.

O quadro se torna especialmente preocupante quando se lembra que pelo menos 45% dos lares hoje são chefiados por mulheres. “E, em geral, essa mulher é a única responsável pelo sustento do domicílio. Muitas vezes, ela é a única adulta na casa”, ressaltou.

Para a economista, não há saída se não medidas que combatam a crise imediatamente e, ao mesmo tempo, o combate à desigualdade de gênero.

“Precisamos pensar numa sociedade em que haja uma condição de maior igualdade entre homens e mulheres, porque isso é apenas a ponta do iceberg, que aparece agora, neste momento de crise intensa, mas que é um problema estrutural, que afeta principalmente as mulheres negras”, defendeu.

Da Redação

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