Brasil rumo ao desastre, com mais de 312 mil infectados
De acordo com estudo da UnB e da USP, número de pessoas contaminadas é 13 vezes maior do que as notificações oficiais do Ministério da Saúde. Falta de testes prejudica ações de contenção da doença. Gleisi alerta que Bolsonaro aposta na desinformação para sustentar que vivemos uma “gripezinha”
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Abaixo das dez nações líderes em casos registrados de contágio por coronavírus no mundo, o Brasil é também um dos últimos países em número na aplicação de testes por milhão de habitantes. Estudo de cientistas das universidades de Brasília (UnB) e de São Paulo (USP), em conjunto com institutos de pesquisa, indica que o Brasil pode ter mais de 312 mil casos da doença.
O número é 13 vezes maior do que as notificações atualizadas do Ministério da Saúde, da ordem de 23 mil casos. As informações constam do portal Covid-19 Brasil, implementado pelo consórcio de pesquisadores. Os dados mostram que as subnotificações causadas pela falta de testagem escondem cenário mais grave da pandemia no país. Enquanto isso, o presidente Jair Bolsonaro aposta no caos e sabota o combate ao vírus.
Os pesquisadores examinaram a proporção de casos com mortes até 10 de abril e compararam os números com dados sobre a taxa de mortalidade projetada pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Se confirmados os cálculos, o Brasil estará atrás apenas dos Estados Unidos em número de casos registrados. O país faz em média 296 testes por milhão de habitantes. Já os Estados Unidos realizam 8.866 de testagens e a Alemanha, 15 mil.
Falta testes em massa
Diante da necessidade urgente de fornecimento de testes para estados e municípios, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, anunciou que não há testes disponíveis para a toda população. O PT está preocupado com a falta de rumo e a possibilidade de que a situação, que já é grave, siga para um descontrole total.
“É muito grave o que está acontecendo. O governo Bolsonaro está apostando na não realização de testes para diminuir o número de pessoas infectadas e [registro de] mortes em razão da pandemia do Covid-19”, alertou a presidenta nacional do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR).
Segundo a líder petista, Bolsonaro aposta na desinformação para sustentar o seu discurso político de que o coronavírus é apenas uma “gripezinha”. “Na verdade, teremos mais mortes do que as que estão sendo divulgadas. Isso porque o Ministério da Saúde não faz testes, não dispõe para estados e municípios os testes e kits que precisava dispor”, ressalta.
Ela lembra que a China já se propôs a mandar kits para o Brasil. “Temos como comprar, mas o ministro da Saúde fica dando entrevista, nos holofotes, quando deveria estar operacionalizando para que os insumos cheguem a estados e municípios”, critica.
Aumento expressivo de casos
Os dados dos cartórios de Registro Civil mostram que houve aumento substancial de mortes por insuficiência respiratória, entre 15 e 21 de março. “Foram 2.250 internações por síndrome respiratória aguda, enquanto no mesmo período do ano passado, foram 932”, compara. Gleisi destaca a alta probabilidade dos óbitos terem sido causados pelo coronavírus.
Os números oficiais informam que os casos de internações por sintomas respiratórios graves foi, por exemplo, três vezes maior do que o normal para o período de março e abril. No entanto, apenas 12% deles foram confirmados como casos de Covid-19.
Outro motivo para as subnotificações, segundo os cientistas, é o foco do governo na testagem de casos graves de infectados, desconsiderando todos os casos suspeitos. O grupo observa que a testagem em massa é o melhor instrumento para avaliar a real escala de evolução da pandemia, caso da Coreia do Sul, um dos países com êxito na realização de testes em massa e controle da doença. “Isso sugere que a taxa de mortalidade seja mais fidedigna em relação a outros locais”, aponta o consórcio, em comunicado no portal.
De acordo com reportagem publicada pelo jornal O Globo, o consórcio fez uma projeção para as ocupações dos leitos de emergência e de UTIs nos estados. As estimativas apontam para um cenário de caos em estados como São Paulo e Amazonas, que já vive situação dramática. Os cenários desenhados para o Distrito Federal também são sombrios.
“Se não houver medidas de distanciamento mais restritivas e o isolamento for reduzido, a cidade de São Paulo poderá ver o colapso de sua rede hospitalar já na próxima segunda-feira”, alerta Domingos Alves. líder do Laboratório de Inteligência em Saúde (LIS) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (USP). “Em Manaus, a rede já colapsou, a taxa de hospitalização está muito acima da capacidade de atendimento”, observa.
Sabotagem continua
Em meio à gravidade da situação, Bolsonaro continua a atrapalhar como pode o combate à epidemia. Sua última ação de sabotagem foi a suspensão do uso de dados celulares para monitorar a movimentação de pessoas nas cidades, como faz o governo de São Paulo. O cancelamento foi confirmado na segunda (13) pelo ministro da Ciência, Tecnologia e Comunicações, Marcos Pontes.
“Após avaliação da equipe e com base no precedente internacional, gravei vídeo sobre a ferramenta a ser implementada”, informou Pontes, pelas redes sociais. E justificou: “Um dia depois, sábado, o presidente me ligou e solicitou prudência com esta iniciativa e que a ferramenta só fosse usada após análises extras pelo governo. Assim, determinei que o vídeo e outros posts fossem retirados das redes sociais até o término das análises extras e aprovação final do governo”.
Bolsonaro também partiu para a guerra contra estados e municípios, criticando abertamente governadores que decretaram quarentena e estimulando manifestações pelo fim do isolamento social. Além disso, faz questão de ir na direção contrária ao que recomenda a OMS, ignorando os alertas do órgão das Nações Unidas de que o coronavírus é dez vezes mais letal do que o H1N1, que matou 18 mil pessoas no mundo.
Da Redação, com agências de notícias e informações do Portal Covid-19 Brasil