Carlos Henrique Árabe: Há erro, sim
O principal ataque foi o golpe que depôs Dilma. A principal incapacidade, perder força social e política do governo Dilma e do PT, resultante da guinada neoliberal na economia
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Não é a primeira vez que o presidente do PT de São Paulo, Emidio de Souza, usa técnica rudimentar no debate ao tentar desqualificar as críticas à direção do partido (em artigo publicado no dia 11 de abril).
Segue uma resposta curta, em favor de não aborrecer os leitores.
O primeiro aspecto é o de reagir à crítica pública. Trata-se, no entanto, de indignação seletiva: Emídio é contra que a opinião de esquerda seja pública. Não parece se incomodar, por exemplo, com a opinião de que o PT seja oposição moderada e negociadora em relação ao golpe, que foi exposta por um senador da sua corrente nas páginas amarelas da “Veja”.
O segundo aspecto é a manobra de turvar o debate. Para Emídio, a disposição de participar e lutar da nossa militância comprova a excelência da direção. Assim, toda critica à direção seria, na verdade, uma critica à militância. Raciocínio evidentemente falso: a militância luta e participa, muitas vezes apesar da direção.
O terceiro aspecto é a avaliação do 6º Congresso, etapa iniciada em 9 de abril com um PED, isto é, com uma eleição municipal (mas não com um Congresso municipal, como defendemos, o que poderia expressar uma participação mais efetiva e mais crítica da militância). Ainda estamos apurando, mas os sinais gerais são de redução da participação.
Devemos compreender esse fato e relacioná-lo com os ataques que sofremos, mas também com a incapacidade de enfrentar esses ataques. O principal ataque foi o golpe que depôs a presidenta Dilma. A principal incapacidade foi perder força social e política do Governo Dilma e do PT, resultante da guinada neoliberal na economia (apoiada no 5º Congresso pela corrente de Emídio) e das alianças com a direita que conspirou e deu o golpe. Mas há também sinais de maior participação onde houve forte disputa. E há indícios de fraudes, que serão averiguados. Nesse quadro, há mudanças de direção à esquerda que são alentadoras; mas há barreiras notáveis à mudança.
O quarto aspecto se refere à distinção entre direção e burocracia. A construção de uma direção partidária tem relação com a experiência histórica das lutas de classes. A burocracia reflete, dentro desse processo, a construção de interesses próprios de quem controla o aparato partidário. Em geral, é conservadora pois, para ela, o objetivo é conservar-se no poder. Para ela, os fins justificam os meios, quaisquer que sejam.
Por Carlos Árabe, Secretário Nacional de Formação, para a Tribuna de Debates do 6º Congresso. Saiba como participar.
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