Centro de SP recebe ato dos trabalhadores pela democracia

Num Dia dos Trabalhadores histórico, população toma Vale do Anhangabaú para repudiar o golpe. Lideranças de diferentes vertentes estiveram no local

A presidente Dilma Rousseff participa de evento do Dia do Trabalhador no Vale do Anhangabaú. Foto: Roberto Parizotti/ CUT

O 1º de maio é uma data histórica de luta dos trabalhadores e trabalhadoras ao redor do mundo. O evento deste domingo, no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, entretanto, ganhou contornos grandiosos por ter sido um ato em defesa da democracia, a poucos dias da votação do processo de impeachment no Senado Federal.

Além da presidenta Dilma Rousseff, dezenas de entidades, personalidades e centrais sindicais se reuniram para rechaçar os anseios golpistas do vice Michel Temer.

Ao microfone – para discursar para uma plateia de centenas de milhares de pessoas – se revezaram figuras como o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad; o pré-candidato a vereador, Eduardo Suplicy; o presidente nacional do PT, Rui Falcão; o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos; e a presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Carina Vitral.

Também discursaram líderes de entidades sindicais, como a Central Única dos Trabalhadores (CUT) – uma das organizadoras principais do evento -, a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), a União Geral dos Trabalhadores (UGT) e a Intersindical, além de movimentos sociais das mais variadas vertentes. Também estavam programadas apresentações musicais de Beth Carvalho, Martinho da Vila, Detonautas, Chico César e Luana Hansen.

Contra o “presidente biônico”
A movimentação no Vale do Anhangabaú começou às 9h, quando os primeiros trabalhadores começaram a tomar o centro da capital paulista. Uma hora depois o local já estava completamente lotado, com direito a bandeiras e faixas com mensagens diversas: em prol das mulheres, da população LGBT, dos negros e, principalmente, contra Temer e o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

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(foto: Paulo Pinto/ Agência PT)

Ao microfone, Rui Falcão chamou Temer de “presidente biônico” – em referência aos chefes do executivo eleitos de forma indireta durante a ditadura militar – e disse que a esquerda vai lutar por democracia em todos os setores da sociedade. “É luta! É luta!”, conclamou à multidão de trabalhadores. O presidente do PT também elogiou a união de partidos de esquerda com centrais sindicais e movimentos populares em torno da manutenção da democracia.

O prefeito Fernando Haddad (PT-SP) celebrou o acesso sem precedentes dos negros e dos mais pobres às universidades públicas e privadas durante os governos Lula e Dilma. Ele também exaltou a resistência da classe trabalhadora durante toda a história do País.

“A direita comete sempre um erro: o de subestimar o poder de luta da classe trabalhadora. Enquanto a classe trabalhadora estiver unida, jamais haverá, na democracia, retrocessos dos direitos sociais adquiridos”, afirmou.

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(foto: Roberto Parizotti/ CUT)

Movimentos sociais: golpe será barrado nas ruas
Guilherme Boulos (MTST) fez um dos discursos mais aplaudidos da tarde ensolarada em São Paulo. Em tom firme, o líder do MTST disse que a saída para retomar o estado democrático de direito é a população organizada nas ruas. “Este 1º de Maio não acontece em circunstancias normais, mas em meio a um processo golpista no qual os setores mais a direita e atrasados da sociedade brasileira querem impor um programa de regressão social sem precedentes. Nós não temos a expectativa que o Senado vai barrar o golpe. Quem vai barrar é a rua”.

Boulos também garantiu que a entidade fará manifestações diárias caso Michel Temer assuma a presidência.

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Guilherme Boulos (Foto: Bruno Hoffmann)

O dirigente do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), Gilmar Mauro, também mandou um recado a Temer. “Nós temos direito democrático, se consumado o golpe, de exercer a desobediência civil”.

Para Carina Vitral (UNE), alas conservadoras da sociedade querem retomar o poder para trazer retrocessos sociais ao País. “A elite não se conforma com um novo Brasil construído a fruto de muita luta dos movimentos sociais. Agora, reage para acabar com esses direitos – se aliando com o que há de mais podre na política nacional”, afirmou.

Sindicalistas pela democracia
De acordo com o presidente da CUT, Vagner Freitas, Temer é um “golpista de terceiro nível”. Para ele, Dilma está sendo julgada por trazer ganhos aos trabalhadores. “Ganhos que os golpistas querem tirar”, afirmou.

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Vagner Freitas, presidente da CUT (foto: Paulo Pinto/ Agência PT)

Ele lembrou, também, que de acordo com pesquisa da Vox Populi a população não apoia o possível novo governo golpista e que Temer tem apoio de apenas 1% da população.

Para o secretário geral da Intersindical, Edson Carneiro, o Índio, a classe trabalhadora tem formas de conseguir barrar o golpe. “Os trabalhadores podem parar a produção, a circulação e se organizar em suas comunidades”, explicou.

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Adílson Araújo, da CTB

“Esse golpe é imoral. Não é possível que bandidos estejam julgando pessoas inocentes”, afirmou Adílson Araújo, presidente da CTB. Já para Canindé Pegado, secretário-geral da UGT, os trabalhadores se manterem unidos é fundamental para superar esse momento. “O trabalhador deve manter a unidade para não perder nenhum direito conquistado a duras penas”, disse.

De acordo com Juvandia Moreira, do Sindicato dos Bancários, a tentativa de impeachment contra Dilma visa tirar direitos sociais da população e lembrou de um dos pontos mais polêmicos do Ponte Para o Futuro, o programa econômico e político que Temer pretende implantar caso se torne presidente.

“O golpe é contra a vontade do povo brasileiro de manter um programa de mais direitos sociais. O golpe é para criar um estado para poucos. O negociado sobre o legislado, por exemplo, é um absurdo”.

Golpe aos trabalhadores
A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) afirmou que o Brasil vive um momento em que o pensamento conservador tenta destruir as bandeiras e anseios da esquerda. “Há um pensamento fascista no Brasil. Não há só preconceito contra os negros ou às mulheres. Há um preconceito com as esquerdas”.

Já o senador Lindbergh Farias (PT-RJ) disse que a tentativa de golpe é, sobretudo, sobre os trabalhadores. Porém, ressaltou que haverá muita luta popular caso saia vitorioso. “Querem dar um golpe ao legado de Lula, de Ulysses Guimarães e de Getúlio Vargas. Se o golpe se consumar, Temer não aguenta três meses no governo. O povo vai se levantar”.

Senador Lindbergh Farias (PT-RJ)

Senador Lindbergh Farias (PT-RJ)

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No meio do multidão, Leandro Bergamin Almeida, da Democracia Corinthiana, estendeu uma faixa e reafirmou a importância da luta popular. “A manifestação é a melhor forma de barrar o golpe. O momento é de resistência. A Globo e a mídia manipulam e fazem acreditar que os grupos poderosos estão ao lado do povo. Os classe trabalhadora deve defender, sempre, os seus interesses”.

O momento mais esperado, entretanto, era a fala da presidenta Dilma. Os trabalhadores e trabalhadoras se apertaram quando o mestre de cerimônias anunciou “Dilma! Dilma! Dilma!”. A presidenta democraticamente eleita por 54 milhões de votos pegou o microfone para uma plateia entre sorrisos, gritos e lágrimas. E se fez história.

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(foto: Paulo Pinto / Agência PT)

Por Bruno Hoffmann, da Agência PT

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