Com financiamento criminoso, atos golpistas acampam em quartéis

Mais de uma centena de caminhões chega a Brasília desde domingo, rumo ao QG do Exército. Aglomerações são chefiadas por uma organização criminosa de empresários, diz o MP

"É uma grande organização criminosa com funções pré-definidas e financiadores,” declarou o procurador-geral Mario Luiz Sarrubbo, do MP de São Paulo (Foto: André Borges)

A Polícia Rodoviária Federal (PRF) anunciou nesta quarta-feira (9) o fim dos bloqueios em rodovias federais, mas os grupos contrários ao resultado das eleições “migraram” para a frente dos quartéis, repetindo como farsa as “vivandeiras” citadas pelo marechal Castello Branco em 1964. E Brasília é alvo preferencial dos atos antidemocráticos.

Mais de 115 caminhões com placas de Mato Grosso, Goiás, Bahia e Santa Catarina chegaram à capital entre domingo (6) e segunda-feira (7), reporta a Folha de São Paulo. O destino é o Quartel-Geral do Exército, na área do Setor Militar Urbano conhecida como “forte apache”. As viagens são bancadas por empresários, diz a matéria.

“Motoristas relataram que 23 deles saíram juntos de Água Boa, no Mato Grosso, numa ação organizada por empresários do município”, afirmam os repórteres. Doze desses caminhões exibem o nome da Agritex, revendedora de equipamentos agrícolas que atua em sete cidades. A empresa compartilhou pelo Instagram vídeos dos caminhões. “Chegaram em Brasília os guerreiros das estradas”, dizia a legenda de um deles.

Outros sete dos veículos que participam do ato apresentam a logo do Grupo Comelli, empresa especializada em processamento de biomassa de Rio Verde (GO), que atua também em Minas Gerais e Mato Grosso. “Orgulho de ser brasileiro”, dizia a legenda de uma foto dos caminhões no perfil da empresa no Instagram.

Ainda conforme a reportagem, os caminhoneiros foram a Brasília por decisão dos patrões, que os orientaram a permanecer na cidade até segunda ordem. Como são empregados com carteira assinada, não faz diferença estarem trabalhando ou com os caminhões parados, comentaram alguns deles com a reportagem.

Os gastos com alimentação e combustível são pagos pelos empregadores. Um dos patrões também autorizou os empregados a ajudarem financeiramente outros manifestantes que pedem “intervenção militar”. As empresas não se pronunciaram.

Moraes quer identificar organizadores e responsáveis pelos atos

Nesta terça-feira (8), procuradores-gerais de Justiça dos Ministérios Públicos de São Paulo, Santa Catarina e Espírito Santo já haviam informado ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, que os atos antidemocráticos são chefiados e organizados por uma “grande organização criminosa” de empresários.

“Na nossa visão, é uma grande organização criminosa com funções pré-definidas e financiadores. Isso é de conhecimento público” disse procurador-geral Mario Luiz Sarrubbo, que comanda o MP de São Paulo. “Há várias mensagens com números de Pix e tudo mais para que as pessoas possam abastecer financeiramente (os atos). A partir disso, nós precisamos estabelecer quem desempenhou cada função.”

Os chefes dos MPs estaduais relataram ao TSE que os organizadores e financiadores dos atos antidemocráticos adotaram uma estratégia de comunicação interestadual para garantir os bloqueios e a concentração de grupos bolsonaristas em frente aos quartéis. Eles não mencionaram os nomes das empresas já identificadas.

Há algo em nível nacional e os Ministérios Públicos dos Estados vão trabalhar. O TSE fornecerá algumas informações. Nós também trouxemos informações ao Tribunal Superior Eleitoral e nós esperamos que o Brasil possa caminhar sem golpe, ou qualquer movimento que atente contra a democracia”, disse Sarrubbo.

“Além dos bloqueios de estradas e das movimentações centralizadas em algumas cidades ou bairros, a gente tem percebido um movimento do empresariado na denominada lista de Schindler, que é uma lista de empresas cujos os consumidores não deveriam adquirir produtos e serviços”, acrescentou a procuradora-geral Luciana Andrade, do Espírito Santo.

Para a procuradora-geral, esse é um “embaraço à livre iniciativa de comércio” que não se via há muitos e muitos anos. “Isso tem tido o olhar do MP como defensor da democracia e precisa ser repudiado”, finalizou ela.

Na segunda, Moraes, que também é ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que as polícias informassem em até 48 horas a identificação de todos os veículos e caminhões que participaram tanto dos bloqueios nas rodovias quanto nas manifestações em frente aos quartéis das Forças Armadas.

O ministro cobrou a identificação de “líderes, organizadores e/ou financiadores dos referidos atos antidemocráticos”, e informações das “providências realizadas” pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), Polícia Federal (PF), polícias militares e civis.

O Exército, por sua vez, pediu ajuda ao governo do Distrito Federal para manter a “ordem pública” na região. O Comando Militar do Planalto solicitou o envio de ambulâncias, policiais e funcionários de limpeza e controle de ambulantes. O objetivo, informou, não é retirá-los do local, mas “reforçar a segurança desses brasileiros”.

Da Redação

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