Conheça Clara Averbuck: uma das 99 personalidades essenciais no Twitter

A escritora conta sua trajetória na militância progressista, como se filiou ao PT e dá dicas para quem se aventura na trincheira da batalha digital

Clara Averbuck, escritora

A revista Bula divulgou o levantamento anual dos 99 perfis femininos mais essenciais do Twitter no Brasil e Clara Averbuck estava entre eles, no ranking de 2020.

Clara Averbuck é escritora, artista, tem nove livros publicados, de ficção e crônica, e se filiou ao PT recentemente, em 2017. Nascida no Rio Grande do Sul e atualmente vivendo em São Paulo, Clara produz conteúdo em formato digital desde 1998, foi uma das vozes femininas mais influentes na era dos blogs da internet e hoje continua na linha de frente da formação de opinião pública no Twitter.

Diante de um cenário hostil nas redes sociais, principalmente para mulheres feministas que fazem o debate político, sobretudo do PT, o projeto Elas Por Elas entrevistou essa personalidade que tem um longo caminho na militância feminista e progressista. 

 

1) Você já vem construindo uma carreira sólida na internet. Como você avalia estar na lista das mais influentes, mesmo com tantas mudanças na forma como as pessoas debatem, formam opinião e se relacionam nas redes?

Essa lista é avaliada de um determinado ponto de vista, depende pra quem a gente é influente. A lista é de mulheres quase todas progressistas, então é nesse campo que temos influência. Desde 2003, escrevo sobre feminismo. Mas eu sou escritora, tenho 9 livros publicados de ficção e crônicas. E sou uma mulher com coragem de se posicionar e de sintetizar o que outras mulheres pensam.

 

2) Você atribui seu poder de influência a quais motivos?

Muitas mulheres se sentem representadas com o que eu falo. E muitos homens aprendem com o que eu falo. E eu não falo só de feminismo, mas tudo que eu falo é de uma perspectiva de mulher feminista.

 

3) Ser petista e estar nas redes é uma tarefa bastante árdua. Como você lida com a saúde mental?

Ser mulher e estar nas redes e estar nas redes já é difícil. Ser feminista e petista é mais difícil ainda. Mas como eu estou na internet desde 1998, na era pré blogs. Na época, expressar uma opinião e se posicionar enquanto mulher já era um ato político. Já estou acostumada. É algo que não me abala. Eu sei que é um bando de idiota [haters]. O que eu fico chateada é quando companheiros atacam a gente de forma machista. É como eu sempre digo: não tem nada mais parecido com um machista de direita do que um machista de esquerda.

 

4) Você já viu o despertar de alguém para pautas progressistas a partir da sua rede de influência? Se sim, pode contar algum exemplo?

Eu já vi o despertar de várias pessoas para a pauta progressista. Muitas meninas me escreveram, me abraçaram nas ruas, disseram que se livraram de relacionamentos abusivos, de questões de corpo, por causa dos meus textos e meus posicionamentos.

Como eu escrevo de uma forma muito didática, consigo atingir bastante gente com isso. Um dos nossos erros é que a gente precisa se fazer entender. Escrever de maneira clara, não simplória e pobre, mas de maneira simples.

No Lugar de Mulher, meu site, o que eu queria fazer era isso — atingir mais mulheres eu pudesse a entenderem que é necessário ser feminista, sim. Eu e mais duas editoras, e muitas colaboradoras, fizemos isso muito bem e despertar mulheres para essa questão importante de se colocar no mundo. De compartilhar que nossa palavra tem valor, que as nossas histórias tem valor e merecemos ser tratadas como ser humano.

 

5) Como foi seu processo de “virar petista”?

Eu cresci no Rio Grande do Sul. Quando eu era adolescente, eram os governos Olívio [Dutra], Tarso [Genro], Raul Ponte. Então eu sempre cresci no meio artístico e nem tinha outra possibilidade, eu acho, naquela época, de político. Pra gente, era bem óbvio. Na minha casa, com as minhas amigas, era um consenso [ser progressista]. Eu tirei título de eleitor em ano que nem era eleição aos 16 anos, de tanto que queria votar.  

 

Eu me afastei um pouco da política quando mudei para São Paulo, mas logo retomei. Aí fui me aproximando mais das mulheres do PT. E resolvi me filiar. Inclusive quem assinou minha ficha foi a Eleonora Menicucci. Foi um dia muito foda.  Eu nunca vou esquecer o dia que eu cheguei e falei diante das mulheres do PT por que eu ia me filiar. Foi um dia incrível, está sendo será ainda mais. Temos um longo futuro pela frente.

 

E como isso afetou sua relação nas redes?

Quando eu me filiei ao PT, em 2017, muitas pessoas deixaram de me seguir. Mas azar o delas. Primeiro, eu não quero gente que não respeita meu posicionamento enchendo meu saco nas redes sociais.

Por outro lado, outras pessoas se deram conta de que o processo de demonização que o partido passou é um absurdo.

Então ter pessoas filiadas ao PT, que não são necessariamente vinculadas à política, assumindo essa bronca, dizendo que são filiadas ao partido e são petistas, é muito importante.

Infelizmente, a gente assistiu essa demonização do PT na grande mídia e é muito difícil de reverter isso. Então, a gente ta aí, com a cara à tapa.

Tem umas pessoas que me xingam de petista. Mas isso diz muito mais sobre elas do que sobre mim.

 

Em 1998, na eleição de Olivio Dutra, no Rio Grande do Sul

 

6) Dicas e conselhos para as novas gerações de petistas manterem a batalha virtual 🙂

Sejam claras e sucintas nas suas falas.

Não dêem palanque para misógino.

Não percam seu tempo discutindo com gente que só está tentando fazer você perder seu tempo.

Não fiquem se explicando para idiota.

E força. 

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