Covid-19: tragédia brasileira ganha destaque na imprensa internacional

Jornais e agências apontam papel de Jair Bolsonaro na disseminação do vírus e mortes pela doença. Segundo o ‘New York Times’, o caos sanitário do país serve de alerta para o mundo

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A catástrofe generalizada que varre o Brasil no rastro das infecções provocadas pela pandemia do novo coronavírus ganhou as páginas dos principais jornais e agências de notícias do planeta nesta quarta-feira (3). A direção contrária do país em relação ao resto do mundo, que avança nas vacinações e adota medidas rígidas para proteger a população dos países, chamou a atenção da imprensa estrangeira, que condenou a terrível resposta do governo brasileiro à pandemia.  Entre outros veículos, ‘NY Times, ‘Washington Post’, ‘CNN’, ‘Reuters’, e ‘Guardian’ descrevem um país de joelhos, à deriva, sem governo e sem coordenação.

Para o ‘New York Times’, a tragédia brasileira é um alerta ao resto do mundo. “Nenhuma outra nação que experimentou um surto tão grande ainda está lutando contra o número recorde de mortes e um sistema de saúde à beira do colapso”, relata a reportagem do ‘Times’. O jornal aponta para a gravidade do quadro sanitário, citando o número recorde de mortes, a disseminação da variante mais contagiosa do coronavírus –  e que pode causar reinfecção – e o colapso da rede pública e privada de saúde. 

Em entrevista coletiva, nesta quarta-feira, o infectologista e conselheiro da Casa Branca, Anthony Fauci, demonstrou preocupação com o desastre brasileiro e chegou a se colocar à disposição das autoridades brasileiras. “É muito difícil a situação em que o Brasil se encontra”, disse Fauci, que recomendou a vacinação urgente da população para mitigar efeitos ainda mais severos da pandemia.

As novas variantes são o maior motivo de preocupação de cientistas da comunidade internacional, ressalta o diário. “Outros países devem prestar atenção”, alertou a pesquisadora de doenças infecciosas da Universidade de São Paulo, Ester Sabino, uma das maiores especialistas na variante P.1., surgida no Amazonas. “Você pode vacinar toda a sua população e controlar o problema apenas por um curto período se, em outro lugar do mundo, aparecer uma nova variante”, disse ela. “Vai chegar lá um dia.”

A ‘CNN’ relata que hospitais brasileiros chegaram a um ponto de ruptura, enquanto o ministro da Saúde Eduardo Pazuello joga a culpa no colo das novas variantes do vírus. A rede de TV lembra também do papel nefasto do presidente Jair Bolsonaro na crise pandêmica.  “Durante toda a pandemia, o presidente brasileiro criticou o uso de máscaras, ameaçou governadores que adotam medidas de bloqueio e culpou governos e governadores anteriores pela falta de leitos de UTI”, aponta a ‘CNN’.

O alemão ‘Sueddeutsche Zeitung’  afirma que Bolsonaro rejeitou o isolamento e outras restrições  por razões econômicas. “Enquanto a Alemanha entrava em bloqueio, o Brasil permanecia amplamente aberto durante o Natal, Réveillon, férias de verão e semana de Carnaval”, registra o diário.

H1N1, vacinação bem sucedida

Ouvido pelo ‘Guardian’, o ex-ministro da Saúde José Gomes Temporão condenou a resposta brasileira ao surto e reforçou que Bolsonaro deve ser responsabilizado pela tragédia no país. “Até agora, apenas 3,3% da população do Brasil foi vacinada, em comparação com 15,2% nos Estados Unidos, 18% no Chile e 29,9% no Reino Unido”, disse Temporão.

“Não creio que haja outro líder tão obtuso, tão atrasado, que tenha uma visão tão equivocada e distorcida da realidade como o presidente do Brasil”, disse Temporão. “A história vai condenar essas pessoas”, comentou o ex-ministro, que esteve à frente da Saúde durante a bem sucedida campanha de vacinação da H1N1 em 2010. À época, o governo imunizou 80 milhões de brasileiros em três meses.

Bolsonaro, ameaça mundial

Na mesma ampla reportagem produzida pelo ‘Guardian’, o neurocientista Miguel Nicoleli faz um pedido desesperado à comunidade internacional para que interceda junto ao governo Bolsonaro. “O mundo deve falar com veemência sobre os riscos que o Brasil representa para a luta contra a pandemia”, disse Nicolelis.

“De que adianta resolver a pandemia na Europa ou nos Estados Unidos, se o Brasil continua a ser um terreno fértil para esse vírus?”, questiona Nicolelis, para quem Bolsonaro tornou-se uma ameaça mundial no combate ao surto.

Para o cientista, ao sabotar medidas de prevenção e promover medicamentos sem eficácia comprovada como a cloroquina, Bolsonaro transformou-se no inimigo público nº1 da luta contra o vírus. A seu ver, o fracasso de Bolsonaro em frear o vírus e lançar uma campanha de vacinação eficaz “criou uma tragédia doméstica da qual a nação mais populosa da América Latina dificilmente emergirá até o final de 2022”.

Laboratório a céu aberto

“Minha previsão é que se o mundo ficou chocado com o que aconteceu em Bérgamo, na Itália, e com o que aconteceu em Manaus há algumas semanas, ficará ainda mais chocado com o resto do Brasil, se nada for feito”, observa o cientista. As advertências do professor de que o Brasil pode se transformar no maior “laboratório a céu aberto do mundo” também ganharam as páginas do ‘Washington Post’.

“É a primeira vez na história do Brasil que dois terços dos sistemas médicos nas capitais brasileiras estão entrando em colapso ao mesmo tempo. E não estou falando de Manaus. Estou falando de São Paulo. São Paulo. A cidade mais rica do hemisfério sul. Pode levar duas semanas até que entre em colapso”, frisou Nicolelis.

Da Redação, com agências internacionais

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