CPI da Prevent: parentes relatam ‘pressão’ por tratamento paliativo

Comissão Parlamentar de Inquérito da Câmara Municipal de SP ouviu nesta 5ª-feira um paciente e 4 familiares de segurados que morreram na rede da Prevent Senior

A busca por justiça fez com que pacientes e parentes de vítimas da Covid-19 revivessem momentos de angústia, dor e sofrimento em busca de justiça por seus entes queridos, relegados à morte pela aplicação de tratamento paliativo, não internação em Unidade de Tratamento de Intensivo (UTI) e uso de kit Covid a pessoas que chegavam a unidades da Prevent Senior com sintomas da doença.

Segundo os relatos, haveria a existência de um protocolo institucional da Prevent Senior para não internação e recomendação para que pacientes retornassem a suas residências e fizessem uso do kit Covid, além de indicação e aplicação de remédios sem comprovação científica contra a Covid-19, como o de tratamento para câncer de próstata, por exemplo.

Foram ouvidos hoje pela CPI Tadeu Frederico de Andrade, que sobreviveu à doença graças à interferência da família que o retirou da Prevent e levou para outro hospital, e os familiares Tomás Monje, Gilberto Nascimento, Tércio Felippe Mucedolia Bamonte e Andreia Rota.

Presidente da CPI da Prevent Senior, vereador Antonio Donato (PT-SP). Foto: Divulgação

O presidente da CPI da Prevent Senior, vereador Antonio Donato (PT), afirmou que, além de estarrecedores, os depoimentos foram fundamentais e ampliam o leque da investigação.

“Os depoimentos vieram acompanhados de documentos, prontuários, atestados de óbitos e dos nomes dos médicos que atenderam a essas vítimas. Isso é fundamental para o prosseguimento da CPI. A partir de agora, a gente vai ter de ouvir os médicos, a Prevent e apurar cada fato”, afirmou.

Durante a sessão, vereadores souberam que o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), assinado na última sexta-feira, 22, pela Prevent com a Promotoria de Saúde do Ministério Público do Estado de São Paulo (MP-SP), está sendo desrespeitado em relação à imediata disponibilização de prontuários médicos de pacientes, como afirmou Tomás Monje e Tércio Felippe.  Em um caso, a unidade hospitalar pediu 15 dias e no outro, um mês.

“Encerrando a sessão de hoje da CPI, vamos comunicar imediatamente ao Ministério Público esse descumprimento da Prevent em fornecer esses documentos imediatamente”, disse Donato. O TAC firmado impõe também o fim da distribuição de kit Covid.

Tomas Monje, ao lado de sua mãe Roseli Rossi Monje, relatou o atendimento a sua avó, que mesmo com Covid teve alta e veio a morrer. Foto: Divulgação

Depoimentos dramáticos

O primeiro a falar à CPI foi o advogado Tadeu Frederico. “É macabro o que aconteceu na Prevent. Tenho esperança que com tudo que está vindo à tona essa prática tenha parado. Acredito que tenhamos um número tão grande de pacientes com a desculpa dos cuidados paliativos que talvez seja o maior caso criminal da história do Brasil. Talvez esses homicídios passem das centenas”, afirma o paciente que ficou 120 dias internado, é um sobrevivente da Prevent Senior e que atribui sua vida à decisão de sua família de retirá-lo daquele hospital.

Em seguida, falou o analista de marketing Tomas Monje. Do Pronto Atendimento, sua avó foi mandada para casa, com a recomendação de tomar azitromicina durante cinco dias. “No sexto dia, ela apresentou piora em sua saúde, com dificuldades de respiração. Fomos à unidade da avenida Brigadeiro Luiz Antônio, houve resistência, mas a família insistiu que a internassem”, conta. A sua avó ficou internada por cerca de uma semana, teve alta, os médicos relatam “melhora significativa” em seu quadro clínico e, menos de 36 horas depois, ela voltou ao hospital após passar mal “no nível de quase perder a consciência”. Foi quando seus familiares receberam a notícia de que seu quadro era irreversível.

Jornalista e escritor Gilberto Nascimento, que perdeu a mãe, para quem tentaram que aceitassem tratamento paliativo. Foto: Divulgação

O escritor e jornalista Gilberto Nascimento contou aos parlamentares que os médicos da Prevent quiseram convencer a família a aceitar o tratamento paliativo de sua mãe, Terezinha de Jesus. Enquanto esperavam no corredor, segundo ele, seus parentes ouviram médicos defendem o tratamento. “Para que internar uma pessoa de 90 anos?”, diziam. Dona Terezinha acabou enviada para a UTI e intubada, onde acabou morrendo.

“Todas as pessoas idosas que deram entrada na Prevent Senior, a maneira de agir, de abordar, as conversas eram iguais. Nós nos sentimos completamente enganados. Era um procedimento no sentido de convencer a família a todo custo de aceitar os cuidados paliativos”, relata.

O último depoimento foi o de Andréa Rota, que aos prantos rememorou o sofrimento a que seu marido de 51 anos foi submetido até a sua morte em unidade de tratamento da operadora. Mesmo com problemas cardíacos, ele foi tratado com kit Covid, teve seu quadro clínico agravado e morreu. “Eles não fizeram nem o mínimo pelo Fabio. Não tenho dúvida de que não era para o Fabio ter morrido”, afirmou.

Andréa Rota narrou todo o seu sofrimento desde a internação até a morte do marido de 51 anos. Foto: Divulgação

Hospitais da Prevent

A Prefeitura de São Paulo informou à CPI da Prevent Senior que as unidades Santana, Santa Cecília e Mooca não têm auto de licença de funcionamento. Segundo os documentos, os hospitais tiveram seus pedidos negados por uma série de irregularidades.

Com base nestas informações, o presidente Donato dispensou os depoimentos dos subprefeitos da Mooca, Pinheiros, Santana/Tucuruvi e Sé e do supervisor do Departamento Geral de Uso e Ocupação do Solo, Carlos Roberto Candella.

Da Redação

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