Dilma: contra o fascismo é preciso conscientização e organização
Ex-presidenta Dilma Rousseff participa de debate nas comemorações de 43 anos do PT e afirma que novo governo Lula é chance histórica para tornar o Brasil melhor do que jamais foi
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A vitória definitiva sobre o fascismo bolsonarista, iniciada na eleição de outubro de 2022, virá com o sucesso do novo governo Lula e com a ampla mobilização da sociedade em torno de um projeto de desenvolvimento do país com inclusão e justiça social.
Lutar, portanto, para que essas duas condições se concretizem é uma das missões mais importantes do momento, defenderam, neste domingo (12), os participantes do debate ‘Os próximos desafios para derrotar o fascismo’, que faz parte das comemorações dos 43 anos do PT.
O evento, realizado em Brasília (assista abaixo), contou com as presenças da ex-presidenta Dilma Rousseff; da presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann; do líder do governo na Câmara dos Deputados, José Guimarães (PT-CE); da ex-ministra dos Direitos Humanos Nilma Lino Gomes; e do professor emérito de economia política internacional da UFRJ José Luís Fiori. A mediação foi da deputada Maria do Rosário (PT-RS), secretária de Formação Política do PT; e do novo secretário-geral do PT, Henrique Fontana.
Dilma: eleição de Lula traz oportunidade única
Recebida com entusiasmo e carinho pela plateia majoritariamente feminina, a ex-presidenta Dilma disse que a vitória de Lula representa uma chance única de reconstrução do Brasil. “É uma oportunidade de reconstruir o país não só em relação ao que era, mas o tornando melhor do que ele foi”, disse.
No entanto, essa reconstrução não ocorrerá sem enfrentamentos com movimentos de ultradireita, que hoje se organizam em todo o mundo. Dilma lembrou que, no caso brasileiro, o fascismo atual tem origem no integralismo, na ditadura limitar, na manipulação da religião e na escravidão, que até hoje deixa marcas de violência sobretudo na população negra.
Por isso, a capacidade do novo governo de melhorar a vida da população é crucial. E um primeiro desafio é o de viabilizar o mandato de Lula. Daí, explicou Dilma, a importância da luta para abaixar a taxa de juros praticada atualmente pelo Banco Central, que freia o crescimento econômico e é considerada injustificável até mesmo por economistas conservadores.
“O presidente Lula está defendendo o direito de executar o mandato para o qual foi eleito”, resumiu Dilma. “Para isso, ele precisa fazer com que a Eletrobrás volte a ser a empresa dos brasileiros, retomar os investimentos que estão paralisados, voltar com o Minha Casa Minha Vida, estimular o conteúdo local por meio da Petrobrás, remodelar o BNDES como banco de investimento”, elencou.
“Sem a gente se conscientizar, nós não vamos dar sustentação a esse processo. Depois de nos conscientizar, temos de nos organizar, criar mecanismos e estratégias. Se nós dermos esse passo de conscientização e organização, vamos fazer jus aos 43 anos do nosso partido”, concluiu.
Esperança, organização e resultados
Antes de Dilma, Gleisi Hoffmann e o professor Fiori fizeram falas bastante sintonizadas com a da ex-presidenta. Gleisi ressaltou que o bolsonarismo foi vencido nas urnas, mas não nas ruas.
“E, para combater esse fascismo na sociedade, uma das coisas importantes é o nosso governo fazer as entregas que precisa fazer ao povo brasileiro: emprego, renda, desenvolvimento. A segunda é nós, como partido político, como movimentos sociais, sociedade, nos organizarmos. É muito importante a organização popular para esse enfrentamento. Esse não é um enfrentamento de Parlamento, institucional, esse é um enfrentamento nas ruas, nos territórios, e é para isso que a gente tem que estar organizado”, defendeu Gleisi.
Fiori, por sua vez, fez uma análise segundo a qual a extrema direita cresceu em todo o mundo graças ao avanço do neoliberalismo, que não só aumentou a desigualdade como também enfraqueceu o Estado e a própria democracia, tirando das pessoas a capacidade de acreditar na busca de soluções por meio da luta política.
Segundo o professor, o que se vê hoje, no mundo, são populações empobrecidas e extremamente desiludidas, sem perspectiva alguma de futuro. E é dessa desesperança despolitizada que o neofascismo se alimenta. Nesse sentido, o Brasil pode ser considerado uma exceção extraordinária, uma vez que Lula derrotou o bolsonarismo e reavivou a esperança.
Fazer com que essa esperança ganhe a mente e o coração da maioria dos brasileiros passa a ser o desafio. “Se a batalha é grande para refazer o Estado, conseguir recapacitar o Estado e reaproximá-lo de seus cidadãos, a batalha em última instância com o fascismo é a luta para reconquistar o imaginário e a esperança das pessoas no futuro”, afirmou Fiori.
Nilma e um roteiro contra o fascismo
Coube à antropóloga e ex-ministra dos Direitos Humanos Nilma Lino Gomes apresentar o que, para muitos presentes, pode ser considerado uma espécie de roteiro para se derrotar o fascismo também na sociedade.
Para Nilma, a luta passa pela maior participação dos movimentos sociais nas discussões e no próprio governo; por uma comunicação intensa e criativa com os jovens, visando a renovação de lideranças; e também pelo esclarecimento à sociedade de que o PT e a esquerda não representam ameaça a nenhuma forma de religião.
Além disso, a promoção da diversidade deve estar no centro das preocupações. “A diversidade deve ser vista como um trunfo para construir sujeitos políticos mais hábeis no trato com a realidade brasileira e não só uma elite de classe média, mas também um partido de periferia, de zona rural, amazônico, diverso e regionalmente proletário. Isso derrota fascismo, gente”, pregou.
Outras medidas são as de retomar e ressignificar os símbolos nacionais, por meio de uma política de orgulho da nação, e a superação da ideia de patriota, que deve ser substituída pela ideia de cidadão de direitos.
“Isso se faz, entre outras coisas, com a implementação de políticas públicas eficazes nos nossos governos”, disse, antes de concluir: “O avanço do fascismo nos mostra que temos de continuar lutando com indignação e resistência, mas nunca com ódio. Ódio ao diferente consome, mata. Ódio não combina com a democracia”.
Da Redação