Diretor da CSA fala sobre a agenda de resistência nas Américas
Rafael Freire dá um panorama das lutas e fala da Jornada Continental pela Democracia e contra o Neoliberalismo
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A Confederação de Trabalhadores e Trabalhadoras das Américas (CSA) se programa para o Encontro Anti-imperialista contra o Neoliberalismo pela Democracia, em Havana, capital de Cuba. O evento, que faz parte da Jornada Continental pela Democracia e contra o Neoliberalismo, acontece entre os dias 1º e 3 de novembro de 2019 e reunirá movimentos sociais, coletivos, ONGs, partidos progressistas e lideranças de esquerda da América Latina, Caribe e América do Norte.
Rafael Freire, diretor da CSA, explica o que é a Jornada Continental pela Democracia e Contra o Neoliberalismo e também dá um panorama das lutas progressista na América Latina.
O que é e a que se propõe a Jornada Continental pela Democracia e contra o Neoliberalismo?
É um espaço criado em 2015, em Havana, Cuba, quando celebrávamos 10 anos da derrota da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Vários movimentos e organizações sociais se reuniram em Havana e decidimos que a partir dali nós lançaríamos essa Jornada com alguns pontos de unidade.
Nós já avaliávamos a onda conservadora que vinha na região e estabelecemos quatro pontos de unidade: a luta pela democracia na região, a luta contra o neoliberalismo e suas diversas formas de expressão, a luta contra os instrumentos do neoliberalismo — que são os tratados de livre comércio — e a integração dos povos.
A partir daí, a Jornada, em 2016, estabeleceu uma Semana de Luta Continental, em que mobilizamos o continente inteiro com vários lugares se manifestando de maneira unitária. Em 2017 nós realizamos um encontro com mais de 5 mil militantes em Montevidéu, no Uruguai, reafirmando nossa ideia de construir um movimento unitário de resistência democrática e de luta contra o neoliberalismo nas Américas. Em 2018 nós realizamos uma série de manifestações durante todo o ano no Continente e nos mobilizamos em Buenos Aires contra o Banco Mundial, o G20 e Fundo Monetário Internacional (FMI). Está é fundamentalmente a Jornada Continental ela Democracia e contra o Neoliberalismo.
Que países estão participando?
Participam da Jornada todos os países das Américas, da América Latina, do Caribe e da América do Norte. O importante na composição dela, além dos países, são os movimentos e organizações que participam, como a Confederação Sindical dos Trabalhadores e Trabalhadoras das Américas, a CSA; a Confederação Latino-americana de Organizações Campesinas, Cloc; e a Via Campesina, além de organizações de povos originais, a Marcha Mundial das Mulheres, Capítulo Cubano dos Movimentos Sociais, os movimentos sociais da Alba, Amigos da Terra, o Jubileu Sur, organizações LGBTIs e essa é a composição fundamental da Jornada.
O que é preciso para participar da Jornada?
É um ato voluntário de adesão aos quatro pontos programáticos já citados e a nossa ideia é mobilizar as pessoas a participarem das atividades em cada país, na sub região ou no Continente. É uma adesão voluntária, não há um filtro. Os critérios básicos são a defesa da democracia e a luta contra o neoliberalismo na nossa região.
Quem pode participar?
Movimentos, organizações, redes, ONGs em adesão aberta à Jornada. Basta comunicar-se com alguma das organizações e expressar seu desejo de participar. A outra forma de participação é nos encontros e se dá também de maneira coletiva ou individual, por exemplo, realizaremos um encontro em Havana e haverá possibilidade de inscrições individuais para participar do encontro da Jornada por lá.
Como a CSA enxerga esse avanço neoliberal na América Latina?
Nós enxergamos com bastante preocupação essa onda ultraconservadora com características fascistas na nossa região que como consequência gera um ataque frontal aos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras, há um ataque às liberdades democráticas, um risco de intervencionismos militares, como é o caso da Venezuela, e nós achamos que devemos constituir uma unidade grande que seja política e social para frear essa onda.
Para nós, essa onda conservadora se dá como saída da crise do capitalismo de 2008 e em resposta a tentativa de construir alternativas pós-neoliberais na nossa região com os governos Chavez, Lula, Mujica, Nestor Kirchner, Evo Moralez, entre outros. Na saída da crise, a qualquer possibilidade de construção de algo pós-neoliberal foi fortemente atacada por setores conservadores e ultraconservadores em nome da elite, colocando em risco questões democráticas básicas e direitos civilizatórios conquistados na nossa região.
Em nome de derrotar a esquerda, em nome de derrotar o progressismo, se embarca em uma aventura que pode nos levar a conflitos muito fortes. A direita não tem proposta, a direita destrói e a nossa ideia é uma resistência democrática para responder a esse momento em que estamos hoje.
Quais as prioridades de discussão da Jornada, tendo em vista a questão venezuelana, o Brasil neste cenário de retirada de direitos e na Argentina que o ultraneoliberalismo quebrou o país?
Em relação à Venezuela, a nossa prioridade é não permitir que o imperialismo americano vença e leve o país a um quadro de muita instabilidade na nossa região. Não só pelo tema do petróleo próximo aos Estados Unidos, mas também como uma possibilidade de retrocesso conservador muito forte.
A Argentina do governo Macri mostra uma falência de qualquer alternativa econômica, como nós já falávamos à época. O desafio agora é unir os setores democráticos de esquerda no país para poder derrotar a direita nas próximas eleições. Nós nos organizaremos de 1 a 3 de novembro de 2019 no Encontro Anti-imperialista contra o Neoliberalismo pela Democracia, em Havana, Cuba. A ideia nossa é reunir uma quantidade importante de militantes sociais, sindicais, indígenas, da cultura, dos jovens, ambientalistas, entidades religiosas progressistas para organizar esta resistência.
Nós queremos dar um passo além em Cuba que é fazer um diálogo com o Foro de São Paulo, com os partidos políticos de esquerda e progressistas para estabelecermos uma agenda comum e queremos, de forma conjunta, nos reunir com os parlamentares de esquerda e progressistas da região e articular uma frente parlamentar partidária e de movimentos sociais nas Américas em resistência aos ataques ultraconservadores.
Creio que o PT tem um papel fundamental na articulação disso. A Mônica Valente, como Secretária Nacional de Relações Internacionais do partido e secretária executiva do Foro de São Paulo participa ativamente dessas articulações. Acho que as mensagens que a presidenta Gleisi Hoffmann está nos dando no Brasil na resistência ao governo ultraconservador de Bolsonaro permite que nós possamos ampliar essa resistência para toda América Latina e Caribe, para todas as Américas. Essas serão as prioridades da Jornada para 2019.
Da Redação da Agência PT de Notícias