Doria e Covas gastaram um terço da verba de combate a enchentes

Obras de piscinões também foram paralisadas; São Paulo tem 601 pontos de alagamento e dez mortos nesta segunda (11)

Marcelo Camargo/Agência Brasil

De R$ 824 milhões destinados à realização de drenagens, só 38% foram investidos

Em 2017 e 2018, a gestão do ex-prefeito e atual governador paulista, João Doria, e de seu sucessor, Bruno Covas, ambos do PSDB, gastou cerca de um terço de toda a verba orçada para combate a enchentes e alagamentos na cidade de São Paulo. Dos R$ 824 milhões destinados à realização de drenagens, só R$ 279 milhões (38%) foram gastos. Em obras e monitoramento de enchentes, estavam previstos R$ 575 milhões, mas R$ 222 milhões (35%) foram gastos. Nesta segunda-feira (11), a capital paulista registrou 601 pontos de alagamento, congestionamentos gigantescos, com interdição das pistas expressa e central da Marginal Tietê e da Avenida do Estado. Na Grande São Paulo, foram dez mortes confirmadas.

Comparação

Apenas em 2016, a gestão de Fernando Haddad (PT), investiu R$ 393 milhões em drenagem e monitoramento. O ex-prefeito também iniciou as obras de 26 piscinões, dos quais três foram entregues, 15 estão com as obras em ritmo lento e oito estão paralisados desde que Doria e Covas assumiram a prefeitura. O investimento foi praticamente zerado na área em 2017 e 2018. A gestão tucana culpa o governo federal pela falta de repasses para conclusão das obras. Mas o gasto com recapeamento de vias foi multiplicado seis vezes entre 2017 e 2018: de R$ 44 milhões para R$ 293 milhões.

Em artigo escrito há dois meses, a urbanista Raquel Rolnik ressaltava que as enchentes em São Paulo são uma opção política. “Examinando os números da execução orçamentária da prefeitura de São Paulo fica clara não a falta de recursos, mas a decisão do que deve ser priorizado. No caso de São Paulo foram simplesmente zerados os investimentos em obras contra enchentes e uma enorme soma foi mobilizada para pavimentação de vias – aliás concentrada em 2018. Parece então que estas – e as enchentes que virão a cada ano – não são uma fatalidade divina, mas claros produtos de opções de política urbana”, escreveu.

Além das ações e obras para combater enchentes, Doria e Covas também reduziram os gatos com a varrição de ruas, a quantidade de lixo recolhido e a capinação. A coleta de lixo foi reduzia em, aproximadamente, 15%, em 2018. Varrição, capinação e lavagem de ruas foram reduzidas em 19%, no mesmo ano. Ao mesmo tempo, as reclamações por falta de limpeza, por meio da Central 156, subiram 30%. Na sexta-feira, Covas pediu licença da prefeitura por sete dias, “por motivos pessoais”.

Apesar de Doria e Covas alegarem problemas financeiros, ambos foram beneficiadas com um significativo aumento da arrecadação de impostos. Entre 2016 e 2018, as receitas correntes – IPTU, ISS, ITBI, ICMS, IPVA – cresceram 12,5%, no conjunto. Apesar disso, a gestão Covas manteve baixos os investimentos na cidade, em áreas como saúde, educação, controle de enchentes, transporte e também os serviços realizados pelas subprefeituras. O caixa da prefeitura, porém, chegou a receber R$ 7,3 bilhões, maior valor dos últimos seis anos.

Os dados do orçamento indicam que arrecadação superou em R$ 300 milhões o estimado pela gestão Covas para 2018. Mesmo assim, o investimento total foi de R$ 1,8 bilhão. Em 2017, a situação foi mais grave, com investimento de apenas R$ 1,3 bilhão. Em 2016, último ano da gestão de Fernando Haddad (PT), os investimentos foram de R$ 2,6 bilhões, 44% maior que no ano passado.

Por Brasil de Fato

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